Roque Santeiro ou O Berço do Herói (Dias Gomes)
Dentre suas peças teatrais, estão O Pagador de Promessas, O Bem-Amado e Roque Santeiro ou O Berço do Herói, da qual vou falar agora. Em 1965, no dia da estreia, a apresentação foi proibida e obviamente censurada. Insistentemente, Dias Gomes a adaptou para televisão com o nome de Roque Santeiro, mas com poucos capítulos gravados, em 1975, foi proibida pela censura, novamente.
Somente em 1985, com o fim do Regime Militar, vinte anos depois da apresentação censurada e dez anos depois da primeira versão da TV, a novela foi ao ar com mudanças no elenco e no roteiro.
Depois desse breve comentário sobre o momento da peça, vamos para o enredo: A história se passa na cidade fictícia de Asa Branca, em que Cabo Roque vai para a guerra na Itália em 1944 e desaparece, sendo dado como morto.
Como nunca foi encontrado o corpo, cabo Roque virou um herói na cidade e várias pessoas passam a viver às custas do mito: Zé das Medalhas, a viúva Porcina e o turismo da cidade é alimentado pelo seu mito.
Alguns anos depois, Roque resolve retornar a Asa Branca, mas o prefeito o leva para o bordel de Matilde para tentar convencê-lo a assumir outra identidade para que a cidade continue lucrando com o mito, mas ele não aceita a proposta. Daí o sinhozinho Malta, que manda na cidade mais que o prefeito, manda Matilde dar uma bebida envenenada a Roque. Nesse momento, as beatas atacam o bordel a pedradas, pois são contra a abertura, e Matilde diz que uma das pedras acertou a cabeça de Roque e o matou.
Entre as personagens, há várias críticas, como o Sinhozinho Malta, deputado, ele manda mais na cidade que o prefeito Florindo Abelha. Há a viúva Porcina, que fingiu ter sido esposa de Roque, mas na verdade era amante de Sinhozinho Malta. Zé das Medalhas enriqueceu fabricando medalhas do herói.
Uma coisa interessante explorada pela peça é a idealização do mito de cabo Roque. A população de Asa Branca acredita que ele morreu como herói, mas na verdade, ele era covarde e fugiu da guerra, sendo uma “vergonha” para as Forças Armadas.
Já a adaptação para novela em 1985 contou com algumas alterações no roteiro original da peça:
Cabo Roque foi substituído pelo coroinha Roque, conhecido como Roque Santeiro por esculpir imagens de santos, tendo como mito a ideia de ter morrido para defender Asa Branca dos capangas de um bandido que invadiu a cidade.
A versão também incluiu uma equipe de TV que vai à cidade gravar um filme sobre a história de Roque Santeiro. A viúva Porcina mantém um relacionamento com o sinhozinho Malta em público.
O realismo fantástico não fica de fora da trama, visto que o professor Astromar vira lobisomem, lembrando que tal personagem não existe na peça original.