O Delírio de Dawkins – Alister McGrath & Joana McGrath - 2007

O Delírio de Dawkins – Alister McGrath & Joana McGrath

Costumeiramente quando vemos um notável escrever uma obra de cunho panfletário, sabemos que logo virão contra-obras. São reações instantâneas ao ato inflamado do autor original, que por ser um ato inflamado não se sustenta solidamente em bases concretas, mas sim mais na disposição do autor. “Deus: Um Delírio” é esse tipo de livro. Ele usa uma série inominável de retórica para convencer do seu ponto. E esse livro de Alister e Joana McGrath vem justamente se colocar como referência oposta. Não criando uma obra defendendo a fé religiosa, mas uma obra que trata de desbancar a de Dawkins.

O Delírio de Dawkins é um livro muito mais centrado do que o original a quem rebate. O tom é mais sóbrio, mais cauteloso e até prestativo, já que esclarece vários pontos em que, para o leitor mais desatento e desinformado, Dawkins manipula a seu dispor as informações que expõe em sua argumentação. Com certeza é um livro diferente, como se fosse uma resposta a um ato fanfarrão, que por ser um chamado de atenção trata de maneira diferente o tema exposto.

O livro de Dawkins ataca o radicalismo religioso, o livro de Alister e Joana defende o posicionamento moderado da fé na vida das pessoas. O que me parece muito acertado, se ele não caísse em uma zona muito específica. Acredito que pessoas letradas, com graduações elevadas, ativos na ciência, no desenvolvimento do conhecimento, são, por tendência, moderados em suas atitudes. Algo que qualquer pesquisa de Tocqueville demonstra, a alta escolaridade acompanha de doses elevadas de crenças religiosas.

Então, ao ler essa defesa o livro se destina principalmente ao público letrado, enquanto que o livro de Dawkins se destina a maior parte da população.

Ao longo das breves páginas, com uma escrita muito fluída e prazerosa de ler, vamos descobrindo as amarguras dos escritores perante o ataque veemente de Dawkins e por ser mais contido e coeso esse livro pode soar muito mais plausível de crédito. Confesso que é inteiramente cativante sua abordagem. Sua desconstrução do pensamento de defesa do ateísmo é brilhante. Também, sua boa bibliografia remete o leitor a confiar nas palavras lidas.

Uma das críticas mais recorrentes ao longo do texto é feita à pouca abordagem científica de Dawkins em seu “Deus...”, e se em “O Gene Egoísta” ele garantia todo o pensamento com bases sólidas na ciência, esse ele descamba para o personalismo, o corte e colagem de citações, textos de internet e teorias de outros ramos do conhecimento.

Creio que o livro de Dawkins por si só, como foi introduzido pelo próprio autor, é pessoal. É o levantar voz da pessoa do cientista, e não fazer às vezes de ciência. Se põe opiniões conjuntamente com hipóteses e depois uma citação de um ilustre, é justamente para conseguir tecer suas idéias, e garantir seu intuito. Coisa bem atacada por essa resposta ao seu livro.

Enfim, a seu modo os McGraths defendem a religião, ou a possibilidade de ser religioso mesmo estando inserido no âmbito das pesquisas científicas. E se o fazem com grande qualidade, também deixam ver quão pobre é de argumentos consistentes seu ponto de vista. O contra ataque é perpetrado sem excessos nem faltas, mas atacar o ateísmo ou atacar a defesa do ateísmo não significa defender a religião.

Infelizmente há uma barreira visível em que o movimento religioso tem que ser passado de pais para filhos, e se o autor era ateu e se converteu ao cristianismo depois de velho, essa não é a realidade da maioria das pessoas. Que nascem em ambientes onde o poder da pregação é tão grande que não há escapatória. O livro de Dawkins é um ataque e um alerta a essa realidade cruel da maioria das pessoas.

Escolher sua religião depois de crescido não é de modo algum reprovável. Embora compartilhe com Dawkins do pensamento ateu, considero que há chance para uma entrega a religião. E cabe aqui ressaltar um ótimo ponto do ataque à Dawkins, que ao meu ver é o cerne e a validade que sustenta o “Delírio de Dawkins”.

Há uma confusão muito grande em “Deus: Um Delírio”, que é a mistura da crença religiosa e prática religiosa. Acredito que internamente a pessoa pode ter uma construção de mundo que dê espaço para uma crença pessoal em algo do sobrenatural, e isso seria um sentimento religioso. A prática religiosa é aquela que leva às pessoas a cultos, missas e demais celebrações e exige que você observe regras e mandamentos. O ataque de Dawkins é justamente a essa prática religiosa, mas ele termina por confundir as duas e atacar as duas coisas ao mesmo tempo. Chegando a dizer que toda e qualquer forma de religião deve ser banida do mundo. Como materialista, eu creio que nenhum valor é absoluto, e todos os valores se equivalem, eu valoro mais o meu valor, por uma obviedade intrínseca, mas creio que cada um deva ter o respeito de seguir o caminho que quiser. O que é terminantemente embarreirado pela práxis da religião. E o ponto em que os dois concordam é que essa imposição às crianças é por demais invasiva à mente das pequenas pessoinhas. Creio que uma educação deva dar igual valor a todas as vertentes, ensinando, como Dawkins diz em seu livro, não o que pensar, mas sim como pensar, e se for o caso, como o de Alister (que serve de exemplo vivo), que se converta a religião que mais lhe seja crível. Se não, o ateísmo está aí, felizmente alardeado pelo volume espalhafatoso de Dawkins, que como tal cumpre sua missão.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 11/10/2007
Reeditado em 12/10/2007
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