O Bem-Amado (Dias Gomes)
Escrita em 1962, essa é uma das grandes peças de Dias Gomes em que há críticas nítidas aos governantes. Em O Bem-Amado, o prefeito Odorico Paraguaçu, político corrupto, ganha a eleição “prefeitural” iludindo o povo de Sucupira, uma cidade fictícia no litoral da Bahia, com apenas uma promessa de campanha (casos reais são meras coincidências): criar um cemitério na cidade de Sucupira.
O povo já estava irritado em ter de percorrer um longo caminho até o município vizinho para sepultar seus entes, daí entra Odorico em cena prometendo construir um cemitério em sua cidade se eleito prefeito.
Finalmente, eleito prefeito, esse digníssimo senhor cumpre sua promessa (e única) e constrói o tão esperado cemitério para o povo sucupirano, mas surge um problema que provoca uma crise na gestão de Odorico: ninguém mais falece na cidade. Isso faz com que a inauguração seja adiada por meses, até que o prefeito provoca a morte de uma moradora de Sucupira. Como a família dela é de outro município, ela não é sepultada em Sucupira e os planos de Odorico caem cova abaixo.
Em uma nova tentativa, contrata um matador de aluguel, mas seus planos dão errado e o próprio Odorico é assassinado e ele mesmo inaugura o cemitério que mandou construir, por ironia do destino.
Nessa peça, Dias Gomes utiliza o neologismo nas falas de Odorico, como “pratrasmente”, “prafrentemente”, “ingratitude”, sendo que essas e outras palavras aparecem na novela Saramandaia, escrita pelo mesmo autor, além de seguir a linha das tragédias gregas, como em O Pagador de Promessas e Roque Santeiro ou O Berço do Herói.