Seminário dos ratos
É constituído por quatorze contos, em alguns dos quais sobressaem aspectos de crítica social, como o conto título, em que os ratos são uma clara alegoria à corrupta classe política dominante no país.
Os contos de Lygia Fagundes Telles são carregados de simbologia, porém, no caso de Seminário dos Ratos, tal procedimento empurra o texto tanto para o fantástico quanto para o mágico.
Entende-se por fantástica a narrativa que apresenta elementos que fogem à lógica, provocando estranhamento tanto no leitor quanto nas personagens. Quando esse estranhamento não se processa entre as personagens, que acabam instaurando uma nova lógica de mundo, passa-se então a ter o chamado realismo mágico.
Sobre os outros contos:
As Formigas – Primeiro conto de Seminário dos ratos, "As formigas" tem seu foco narrativo na história de duas garotas - primas e estudantes - que se mudam para uma pensão.
Senhor Diretor – Trata-se de narrativa de uma mulher virgem aos sessenta e um anos de idade, deslocada da atualidade.
Tigrela – Uma mulher oculta em discurso indireto, encontra a amiga Romana, por acaso, em um bar. A narradora, inquieta, está passando por uma depressão após seus cinco casamentos e... talvez, naquele momento, experimente uma nova perda. Pelo estranhamento do nome, misto de mulher e animal, cria-se uma ambigüidade não desfeita, deixando ao leitor a interpretação que melhor lhe convier, ou sob a ótica da literatura fantástica, ou como da simples metáfora de um caso de amor.
Herbarium –história contada por uma menina, criança à beira da adolescência, que descobre a paixão num primo doente e mais velho, estudioso das plantas, que vem ficar alguns dias em sua casa.
A menina faz de tudo para impressioná-lo. Deixa de roer as unhas e passa, infantilmente, a ocupar-se somente da presença do primo, até que vem a notícia da partida do rapaz e da chegada de uma moça que veio buscar o primo.
Triste e sem graça, a menina tenta encobrir seus sentimentos que, a cada passo desengonçado, ficam mais evidentes.
Nossa narradora acha uma rara folha que pensa em ocultar do primo só por birra.
A Sauna – Em uma sauna tradicional para homens, neste conto acompanhamos o pensamentos de um pintor, que ao longo do conto relembra seus amores .
Lembranças e reflexões misturam-se a um princípio de remorso, que não a se efetivar completamente, tal o caráter defeituoso do protagonista, que via à sauna para pensar na torturante pergunta que lhe faz a esposa: já havia chegado a amar alguma vez na vida?O clímax ocorre na explosão de choro, em que suas lágrimas acabam-se misturando ao suor.
Curioso nesse conto é o denso conjunto de elementos psicológicos que podem ser rastreados nele.
Pomba Enamorada ou Uma História de Amor –
Acompanhamos as desventuras do decorrer do tempo de uma mulher que se apaixona, ainda na adolescência, por uma figura ríspida, Antenor. É uma obsessão que vai até a velhice.
WM –Wlado tinha dificuldade em escrever seu nome por causa do "w"; a irmã Wanda ensina a ele que bastava imaginar essa letra com um "m" de ponta cabeça, como se estivesse plantando bananeira. Ludicamente ele se encanta com a idéia e passa povoar tudo ao seu redor com as duas letras. Eis aqui a grande simbologia do conto.
Tendo sido sempre rejeitado pela mão, Wlado torna Wanda sua amiga invisível, praticando suas ações e imaginando que tinha sido ela. Vai para o psiquiatra, Doutor Werebe (o "w"!), na certeza de que estará ajudando a tratar a irmã. Não percebe que é ele o tratado.
Lua Crescente em Amsterdã –Outro conto que apresenta as agruras surgidas quando se acaba o amor.
O final é fantástico : os dois protagonistas transformam-se em passarinho (ele) e borboleta (ela) e uma menina observa o passarinho de penas azuis bicando com disciplinada voracidade a borboleta que procurava se esconder debaixo do banco de pedra.
O X do Problema – Com fina ironia retrata-se uma família muito pobre vendo um programa de televisão.
A mão no ombro - A anunciação da morte de um homem de quase cinqüenta anos, pelo toque de uma mão no ombro através de uma sonho. O conto constrói-se em torno dessa narrativa onírica do protagonista.
A Presença –o conflito de faixas etárias distintas quando um moço de 25 anos hospeda-se num hotel ocupado por pessoas idosas. O porteiro, igualmente velho, à medida que faz o registro do novo hóspede, tenta de todas as formas também dissuadi-lo de não permanecer naquele lugar mofado e sem atrativos para um jovem. O jovem não considera a advertência dada pelo porteiro e ao passar do dia, sente que ele, também, vai envelhecendo.
Noturno Amarelo – Durante uma viagem, Laura sai do carro, e, mergulhada em lembranças, penetra em uma mansão onde reencontra antigas lembranças e pessoas da família, uma alegoria que se desfaz quando a personagem verifica que nada há atrás da porta. Retornando ao carro, a viagem continua, ao lado do marido que nem percebera sua ausência.
O título do conto fica por conta de uma composição da avó ao piano: Noturno amarelo.
A Consulta – Num hospital psiquiátrico, o Dr. Ramazian, médico responsável pelo local, chama o paciente, Maximiliano, para que faça o favor de ficar no consultório a fim de atender e anotar recados telefônicos durante sua ausência, já que a secretaria, Dona Doris, não havia chegado ainda.
Max sentado na cadeira giratória e com o cachimbo na mão, assume a identidade do médico. Apresenta-se um paciente que sente medo da morte.
O falso médico pede que o homem saia e se mate imediatamente.