A ÚLTIMA PALAVRA SOBRE CRISTO

RESENHA DO CAPÍTULO: A ÚLTIMA PALAVRA SOBRE CRISTO

DO LIVRO: TROVÃO INVERSO – O LIVRO DO APOCALIPSE E A ORAÇÃO IMAGINATIVA

AUTOR: EUGENE PETERSON

O autor destaca que o livro do Apocalipse é, acima de tudo, uma proclamação feita por Jesus Cristo sobre Ele mesmo. É o “evangelho de Jesus Cristo” que perpassa e dá vida a todas as passagens do último livro da Bíblia e de todos os demais.

Na abertura do Apocalipse, Cristo é descrito de forma tão magnificente de modo que tudo fica a Ele subordinado. Ele é a palavra final para onde convergem todas as que vieram antes. É como o pico de uma elevada montanha que é a razão de todos os preparativos e desafios enfrentados pelos alpinistas, mesmo quando não o podiam enxergar.

“Ele é o centro e está no centro. Sem Cristo, nada pode ser entendido.”

Durante seu exílio na ilha de Patmos, o apóstolo João recebe uma visão da glória de Jesus e ouve Sua voz majestosa. Ao virar-se para ver quem estava falando com ele, João o descreve como alguém “semelhante a um filho de homem”. Esta era uma expressão bem conhecida pelo povo hebreu e remonta à visão de Daniel no capítulo 7 do livro bíblico que recebe seu nome.

Jesus mesmo costumava usar essa expressão durante sua vida terrena. Ela aponta para um futuro glorioso de domínio e redenção. “Jesus justapôs o título mais glorioso que se encontrava à sua disposição aos estilos de vida mais humildes de sua cultura. Conversava como rei e agia como escravo. Pregava com muita autoridade e vivia como nômade.”

“Jesus repetiu sistematicamente sua afirmação dupla: era, de fato, o Filho do Homem, 'recebeu autoridade, glória e reino'; e estava, também de fato, completamente à vontade no cotidiano comum. Não cedeu um milímetro em nenhuma das duas direções: era totalmente Deus e totalmente homem.”

Na visão recebida por João, o Filho do Homem está entre sete candelabros de ouro, os quais representam comunidades cristãs (igrejas). A realidade dessas comunidades era algo bem mais simples e impuro do que o metal dourado. Porém, a presença do glorioso Rei no meio de gente simples não é de causar surpresa. “Deus colocou-o deliberadamente entre os simples e falhos – a situação histórica nua e crua.”

“A visão de Cristo começa com a descrição de suas roupas: 'uma veste que chegava aos seus pés e um cinturão de ouro ao redor do peito'.” Isso significa que o Filho do Homem é um sacerdote. Ele tem a função de apresentar Deus para os seres humanos e vice-versa. “Liga o divino e o humano. Sua função não é proteger a santidade de Deus com a criação de barreiras que impeçam o acesso de humanos pecadores. Também não é proteger as fraquezas humanas do julgamento divino estabelecendo rituais como sistemas de defesa. Ele abre as passagens fechadas por medo, culpa, ignorância ou superstição para que o acesso seja livre. O sacerdote faz intermediação. Coloca-se ao nosso lado e ao lado de Deus.”

Logo após mencionar o tipo de vestes que o Filho do Homem está usando, João descreve a cabeça e os olhos dele. Ressalta nessa descrição a pureza dele [cabeça e cabelos brancos como a lã] e o fato de Ele ser purificador [olhos como chama de fogo]. “A chama penetra e transforma. A santidade penetra em nosso íntimo e nos transforma. O olhar de Cristo entra e purifica. […] Continuaremos queimando em nosso interior até que tudo que é estranho tenha se rendido à sua força. Só não haverá mais dor quando não houver o que consumir, e sim plena consciência da vida e da presença de Deus.”

“O Filho do Homem, Cristo, se coloca, na visão de João, em contraste com a estátua de pés defeituosos do sonho de Nabucodonosor e em continuação ao anjo de pernas de bronze, 'um ser que parecia homem', que fortaleceu a Daniel. Por mais impressionante e magnífica que seja, a sucessão de reinos deste mundo assenta-se sobre uma base imperfeita. Já o de Cristo repousa sobre um fundamento tão forte quanto sua superestrutura magnífica. A base de bronze é sólida.”

“A Bíblia começa com Deus falando e trazendo à existência primeiro a criação e depois a redenção. A fala se desenvolve e se transforma em conversação quando as pessoas respondem [oram] usando o precioso dom da fala. A palavra que Deus fala é importante; a nossa também. As duas se completam nas de Jesus Cristo.”

“Antes de sermos informados sobre o que o Filho do Homem diz, somos apresentados à sua forma de falar: 'sua voz como o som de muitas águas'. A metáfora nada informa quanto ao significado das palavras; descreve apenas o som da voz de Cristo, proporcional à sua aparência: impressionante e poderosa. Nossa reação começa a ser moldada em formas de adoração ardente e cântico sincero antes mesmo de entendermos o sentido da mensagem.”

“Cristo segurava as sete estrelas em sua mão direita! Isso significa que estava pronto para usá-las. […] Ele controla o cosmo. Os planetas não nos dirigem; Ele os governa.”

“Cristo não veio carregando uma espada, mas trouxe a palavra, que também é uma arma. A vontade de Deus se expressa de forma aguda e penetrante pela boca de Cristo. Essas palavras vencem. Não são vacilantes, atravessam a resistência obstinada, separam o bem e o mal, subjugam a rebeldia e estabelecem a justiça.”

“A imaginação cristã é fecunda na criação de imagens que levem a entender Cristo como o primeiro, o último e o centro. Essas imagens são sempre moldadas com o metal das Escrituras para expressar o que é necessário no momento e no contexto para enfocar a fé em e por meio de Jesus. As visões tornam nossa imaginação submissa e alerta, para que entendamos que Cristo ocupa o centro de nossa vida o tempo todo, sob qualquer condição, enquanto buscamos o meio de responder em obediência na comunidade eclesiástica e nos eventos presentes.”

“A visão de João nos ensina a re-ver Cristo nos termos necessários para afirmar sua centralidade no tempo e espaço atuais, no meio das pessoas que conhecemos.”

“A visão dá início a uma obra: 'Escreva, pois, as coisas que você viu.' João tem um trabalho a realizar: a missão pastoral de contar o 'mistério' às comunidades de cristãos que adoram, trabalham e sofrem na Ásia. Este mistério não é um enigma que confunde; é uma infinitude a ser explorada. As palavras e a presença de Cristo iluminam aquilo que nos é familiar para que o passemos a ver como extraordinário. “

“Antes da visão, João estava exilado, sozinho, em uma ilha-presídio, afastado de suas igrejas por um decreto do ímpio governo romano. Roma era o poder em ascensão. O evangelho se mostrara uma investida débil e ineficiente contra o mal inexorável. Duas gerações após a euforia do Pentecostes, os cristãos caíram em descrédito. Tudo que João havia crido e tudo que pregara era, diante das evidências, um desastre. Então, sem que nada mudasse em Roma ou na Ásia – nenhum terremoto alterou a face da terra, nenhuma revolução derrubou o governo romano -, ele se refaz. Tem uma mensagem, uma tarefa, um meio de levar Deus às pessoas e o evangelho ao mundo. A diferença entre o prisioneiro e o pastor é a visão da realidade de Cristo.”

“João passou de exilado a poderoso. Foi a visão que o transformou. Da ilha de Patmos, foi elevado à esfera do Espírito e recebeu a visão de Cristo. De volta à terra, foi feito pastor mais uma vez, mas agora com poder. Roma o havia isolado para que suas igrejas não o vissem nem o ouvissem. O Espírito encheu seus olhos com visões e sua boca com palavras que guiam os cristãos até hoje. O decreto de banimento de Roma foi banido. Todos podem sonhar com um final feliz para sua história, embora isso pareça piada sem graça para os oprimidos, perseguidos, exilados e estrangeiros. Uma visão vê a realidade, não o que a frustração desejaria que fosse verdade. 'A responsabilidade começa nos sonhos'. A realidade nasce nas visões.”