UTOPIA DE LABORATÓRIO
intelectualidade francesa, Mathieu Bock-Côté, que recentemente lançara “O multiculturalismo como religião política “, traduzido aqui no Brasil pela editora É Realizações. De profunda reflexão e ampla análise histórica, a obra suscita o advento da nova esquerda, metamorfoseada pelas transformações políticas no cenário europeu, a partir do movimento de maio de 1968. Segundo Mathieu, o movimento de 68 proporcionara a velha esquerda leninista, que fracassara com o projeto emancipatório do proletariado, a se recriar por meio de significativas reformulações teóricas e culturais, adotando um política populista/progressista, utilizando-se de um discurso fanático em defesa de grupos identitários. Tal advento contou ainda, conforme o autor, com um forte aparato de um novo estado juridicista, que ampara os anseios particulares dos grupos de gênero, raça e sexo. Tudo se daria numa reviravolta cultural, onde o espaço público e as ferramentas midiáticas dariam ênfase as novas políticas investidas pelas ideologias de esquerda. Reivindicando para si, a revolução cultural e identitária, substituindo o proletário pelas minorias. Em razão desse apelo radicalizado, vários países da Europa rendera-se ao discurso revanchista contra as políticas de direita; malogrando-os como reacionários e fascistas. Essa predisposição ofensiva – típica da estratégia de sobrevivência da esquerda progressista – têm o intuito de enfraquecer as democracias, romper com a tradição históricas, as entidades estatais e acima de tudo, com a cultura civilizatória. Promover a culpa coletiva dos que se opõem a eles, curvando-se em súplica, pelo passado nacionalista. Romper com tudo, e refazer o homem sob o novo escopo identitário, que se voltaria contra o velho reacionário. Assim, o multiculturalismo se erigiu com essa faceta progressista. Uma coação pelo retratamento histórico. Avançando nas diversas camadas sociais, principalmente, cultural e antropológica, o multiculturalismo se fortalece pela falácia do igualitarismo. As profundas transformações não foram de ordem política e, sim, cultural. O sonho gramsciano se realizando numa estrutura globalizada. As políticas conservadoras tentam, na perspectiva do autor, resistir, resilientemente, contra a fúria e o ódio da esquerda mundial. Para isso, Mathieu volta aos clássicos liberais, como Alexis de Tocqueville, Marcel Gauchet, Edgar Morin, Jean-Pierre Le Goff, como Raymond Aron, para organizar uma espécie de apologética do conservadorismo em meio ao individualismo da esquerda, que visa aniquilar e amaldiçoar toda uma tradição do pensamento europeu. O confisco das democracias por uma utopia de laboratório. A criação das ideologias de direitos humanos (direito-humanismo) reforçam esse autoritarismo velado. Recomendo!