A trégua Mario Benedetti
Terminei de ler o livro "A trégua" de Mário Benedetti, um clássico da literatura latino americana contemporânea, e o mais incrível que gostaria de destacar da obra a história basicamente é um diário de um homem de 50 anos que mal vê a hora de se aposentar, ele descreve alguns dias de um ano que falta para a aposentadoria sair e durante esse tempo restante ele faz uma retrospectiva da relação com os filhos a morte com a esposa e analisa conflitos do dia a dia, uma nova paixão muda sua vida, e no final, sensacional ele questiona o que fará quando tiver o tempo livre que deseja tanto e se livrar da rotina maçante. Isso revela na obra o grande marco do modernismo que é a questão existencialista, qual a finalidade da vida, a relação do tédio e deseja que toma conta da vida do homem durante a vida, mas isso nos leva a um fim único. Recomendo.
“O mais trágico não é ser medíocre, mas inconsciente dessa mediocridade; o mais trágico é ser medíocre e saber que se é assim e não se conformar com esse destino que, pro outro lado (isso é o pior), é de rigorosa justiça.”
(Mário Benedetti , A trégua, 160)
“Quando, no céu deserto dos 70, aparece uma nuvem, já se sabe que é a nuvem da morte. Esta deve ser a frase mais piegas, mais ridícula, que já deixei cair nesta caderneta. A mais verdadeira, quem sabe. Por que será o verdadeiro é sempre um pouco piegas? Os pensamentos servem para edificar a dignidade sem evasivas, o estoicismo sem claudicação, o equilíbrio sem reserva, mas as evasivas, as claudicações, as reservas estão de tocaia na realidade, e nos desarmam, nos afrouxam, quando ali chegamos.”
(Mario Benedetti, A trégua, 161).
“Porque morreu é a palavra, morreu é o desmoronamento da vida, morreu vem de dentro, traz a verdadeira respiração da dor, morreu é o desespero, o nada frígido e total, o abismo puro e simples, o abismo. Então, quando movi os lábios para dizer: ”morreu”, então vi minha imunda solidão, isso que havia restado de mim, que era bem pouco. Com todo egoísmo de que dispunha, pensei em mim mesmo, no remendado ansioso que eu agora passava a ser.”
(Mário Benedetti, A trégua,165).
“Não quero um deus que me brinde com tudo pronto, como poderia fazer um desses prósperos pais da Rambla, podres de dinheiro, com seu filhinho janota e inútil. Isso não. Agora, as relações entre mim e Deus esfriaram. Ele sabe que eu não sou capaz de convencê-lo. Eu sei que ele é uma solidão longínqua, à qual não tive nem nunca terei acesso. Assim estamos, em margens opostas, sem odiar-nos, sem amar-nos, alheios.”
(Mario Benedetti, A trégua, 168).