Amor com amor se paga - de França Júnior
Nesta peça, França Júnior narra uma singela trama em que se entrecruzam dois casos de amores ilícitos, que não se consumam, conservando-se os amantes no universo platônico do encantamento pela beleza e pelo ideal de amor imaginário - no caso, uma das personagens, romanesca, tem suas idéias amorosas inspiradas nas obras de Byron e Chateaubriand. Dois casais animam a peça: o Coutinho, Eduardo e Emília; e o Carneiro, Miguel e Adelaide; e com eles contracena Vicente do Amparo, um serviçal. Em um ato, em quatorze cenas, curtas, principia-se a peça - que não se prolonga além de quinze páginas numa sala, a mesa preparada, por Vicente do Amparo, para um encontro entre Eduardo Coutinho e Adelaide Carneiro. Na sequência, na sala retirando-se Eduardo Coutinho, e nela presente apenas Vicente do Amparo, entra, esbaforido, Miguel Carneiro, fugindo à caça que lhe promovem alguns moradores da vizinhança. Aqui, narra Miguel Carneiro os contratempos que enfrentara durante os preparativos para o seu encontro com a sua amada, que, sabe-se logo depois, é Emília Coutinho. E assim que se anuncia o regresso de Eduardo Coutinho, agora acompanhado de Adelaide Carneiro, Miguel Carneiro, antecipando-se à entrada deles na sala, esconde-se embaixo da mesa, e, escondido, ouve-lhes a conversa, e reconhece a voz de sua esposa, que revela seu amor pelo marido e sua leviandade ao, deixando-se seduzir pelas idéias românticas dos livros, concordara com o encontro com Eduardo Coutinho. Maldiz, então, Miguel Carneiro, os livros românticos, que estão a virar a cabeça de sua esposa.
Abro um parêntese: É recorrente na literatura romântica a idéia do mal que a literatura faz às mulheres, principalmente às suscetíveis, de imaginação fantasiosa, que facilmente se excitam com a leitura de aventuras amorosas, encantadas pelas narrativas dos mestres do romantismo. E aqui fecho o parêntese.
E nesta peça, singela e divertida, de França Júnior, é Adelaide Carneiro a mulher que representa o tipo frágil e inocente que, deixando-se seduzir por obras românticas, espelha-se nas suas personagens, e alimenta o desejo, irrefreável, de levar à realidade façanhas dignas de dramas romanescos saídos da cabeça de escritores.