A caixa de cristal vermelho

A CAIXA DE CRISTAL VERMELHO
Miguel Carqueija

Resenha do romance “A caixa de cristal vermelho”, de Georges Gauthier. Tecnoprint Gráfica (atual Ediouro), Rio de Janeiro-RJ, sem data. Série Terror, 13 (número de código 713). Tradução: David Jardim Júnior. Título original francês: “Le ventriloque de l’au-dela”, Editions Fleuve Noir e Documents & Reportages Internationaux, Paris.

Muito inusitado este pequeno romance de terror, e se beneficia do capricho das edições de bolso da Tecnoprint, que colocava inclusive capas coloridas, bem desenhadas e com comentários chamativos, como o deste volume:
“Ela havia sido infiel... e dentro daquela caixa uma voz do além-túmulo clamava por vingança.”
Convém esclarecer que o autor deixa pontas soltas e detalhes mal explicados. Todavia o texto é bem redigido e, diga-se de passagem, bem traduzido. Esta coleção era popular nos anos 50/60 do século passado e contava com bons escritores.
A trama em si é patética e se demora num interminável jogo entre dois vilões: o cientista Landsfeld e o ventríloquo Francisco. Na véspera de Natal, nos Alpes Bávaros, um drama incompreensível se desenrola na residência do Dr. Landsfeld, um louco que gosta de miniaturizar mulheres (sic) e torná-las suas escravas. Aproveita-se da magia do “Louco da Montanha”, um gigantesco eremita que, atendendo a um impulso desconhecido, esculpe bonecos de madeira representando pessoas que faleciam. Essas bonecas ganhavam vida, embora não falassem; poderiam sofrer, mas eram imortais.
O longo impasse entre os dois personagens — onde a boçalidade do cientista em sua tara por mulheres miniaturizadas contrasta com a maldade mais refinada do ventríloquo, que busca utilizar aquele poder sobre a vida e a morte com propósitos mais ambiciosos — apesar do clima de terror tem espaço também para algum toque de humor, a começar pelo comportamento ridículo de Landsfeld.
O trecho que realmente faz rir está no capítulo VII, depois que Francisco se compromete a entregar sua esposa Greta para ser reduzida por Robert Landsfeld. E é quando o ensandecido doutor sai-se com esta “pérola”:
“Não discutamos mais. Você já prometeu. Vai ser uma bela experiência. Ela me agrada e lhe aborrece. Deixemos de hipocrisia. Não somos vendeiros nem salsicheiros. Sou sábio e você é ventríloquo. Sejamos razoáveis. Um pouco de bom senso, que diabo!”
Eu não entendi completamente a trama que inclui certo ator Robert Barton, que havia provocado a morte de sua esposa Virgínia e depois julga reconhecê-la na falsa cigana Greta, a que viajava com a tal caixa de cristal vermelho. No mais, um livro interessante apesar da embrulhada do enredo. Todavia e preciso gostar do gênero terror.

Rio de Janeiro, 7 de agosto de 2019.

Nota: soube agora que a Ediouro relançou a série em tempos mais recentes com o título "Coleção Drácula".