A banda, de Eran Koligrin
A banda, de Eran Koligrin
Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy
Hilariante. E também muito triste. Como? É esta contradição que faz de “A banda” um filme excepcional. Um filme israelense, que confirma a exuberância do cinema asiático contemporâneo. A começar pelo enredo. Uma banda militar egípcia, de Alexandria, desembarca em Israel para uma apresentação num centro cultural árabe. Trata-se da gloriosa Orquestra Cerimonial da Polícia de Alexandria.
Ninguém os espera no aeroporto. Frustrante. Decidem resolver o problema. Não falavam hebraico e o domínio que tinham do inglês era rudimentar. Como não entenderam corretamente as informações dadas, acabaram num local muito distante de onde pretendiam ir.
Foram recebidos por uma simpática israelita, Dina, protagonizada por Ronit Elkabetz, que os tratou muito bem. O coronel Taufic, representado por Sassan Gabai, vai a um restaurante com Dina, e entre eles nasce um relacionamento muito autêntico. E talvez porque Dina desesperadamente procurasse companhia, assim como todos nós que nos sentimos solitários, é que se compõe um quadro apaixonante das possibilidades de aproximação humana, que transcende a todos os problemas, a exemplo de um relacionamento muito amistoso entre árabes e judeus. O coronel da banda era árabe. Dina era israelita. É possível sim.
O fecho do filme, com a banda em ação, é um prêmio para o espectador. Há uma cena que ocorre numa na pista de patins, em que sentados, uma deprimida, um envergonhado e um componente da banda dialogam. Certamente uma das cenas mais líricas do cinema, pelo menos dentre as que pude ver. A fotografia é encantadora. O filme foi quase todo rodado em Yeruham, no deserto de Negev, em Israel. O espectador escapa da mística hollywoodiana e participa de uma narrativa lírica que insiste que o amor tudo pode, porque o amor tudo é. “A banda” é uma ironia intertextual que confirma que é possível uma sociedade fundamentada na compreensão. Imperdível.