Floresceram poemas no quintal
Quando fui convidado ao lançamento do primeiro livro de Júlia Suzarte, nunca imaginei que um quintal fosse tão florido de poesias. No meu quintal, livro editado pela Editora Anjo, é como um grande e vasto jardim, em que poemas foram regados a sentimentos intensos, emoções verdadeiras e boas ideias. Foi uma das melhores coletâneas de poemas que eu já li.
Mas antes de falar dos poemas e do livro, vamos falar da poetisa. Conheci Júlia Suzarte pelas redes sociais, recitando ótimos poemas em vídeos com uma segurança ímpar. E com grata surpresa, descobri que ela estuda na mesma universidade que eu, a UNEB/Campus II - Alagoinhas. Colega universitária, embora ela faça Letras Vernáculas pela tarde e eu História, à noite; além de ser irmã das letras.
Não menos importante é sua participação na TV, onde foi entrevistada por Fátima Bernardes no programa Encontro, exibido nas manhãs da Rede Globo. A unebiana têm boas intervenções e faz boas análises com sua poética. No dia do lançamento, a quantidade de pessoas que se mobilizaram para o evento demonstra o quanto ela é querida por colgas e professores e como seus poemas são capazes de tocar seus leitores.
No meu quintal tem poesias rimadas com o nosso sotaque, com a métrica assimétrica que convém aqueles desapartados das escolas e suas rígidas estruturas estéticas e vocabulares. Tem textura de terra fértil, cor de céu azul em pleno dia ensolarado. É poesia com cadência de repente, com herança de cordelista, contando história com a simplicidade de quem conta um causo.
Em algumas das poesias, o eu-lírico é um rapaz ou homem sofrendo de amores platônicos, e me surpreendi como ela consegue traduzir esses sentimentos alheios muito bem. Em outros, é uma mulher forte, uma negra que sai do interior, vence a cidade grande, sonha, constrói e serve de exemplo para tantas outras. Noutras tantas, é mulher sofrida, vencida pelo desânimo e violência.
Poemas que exaltam raça e consciência sociopolítica. Que denunciam o racismo, ao mesmo tempo em que convocam esse povo sofrido a agir. São poesias que tratam de vivências, de experiências. Faço questão de notar sua ligação com as origens, e como todos sabem, só quem tem raízes fortes pode dar frutos. E Júlia tem essas raízes, que começam em seus pais e terminam em seus amigos.
Recomendo o livro como uma experiência de leitura rica. Os poemas estão todos centralizados, uma ótima opção para evitar os erros com as sangrias das páginas. A fonte está em variados tamanhos, ação feita para otimizar a diagramação do livro e diminuir o número de páginas, o que acabou provocando erros de diagramação nas páginas 86-87 e 88-89, pois, os poemas estão emendados um no outro, só dá pra saber que são poesias diferentes por causa do título.
São mais de 100 páginas, miolo em papel offwhite, capa fosca em papel cartão e orelhas. A contracapa tem fotos de leitores ostentando poemas escritos por Júlia Suzarte, mas não são legíveis. Serve apenas para mostrar a mobilização e como Júlia é uma poetisa integradora. O livro conta com dedicatória, agradecimentos de Júlia Suzarte, prefácio de Nilton Milanez e um segundo prefácio pelo poeta Zecalu. Na orelha da capa temos uma biografia: ela nasceu em 22 de agosto de 1999, no distrito de Maria Quitéria, Feira de Santana/BA. Você está curioso para saber onde fica o quintal poético de Júlia Suzarte? Ora essa, é o mundo.
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