IMPOSTURAS INTELECTUAIS
Esse livro, juntamente com EVASIVAS ADMIRÁVEIS (Theodore Dalrymple), é indicado para todos aqueles que em algum momento sentiram como se estivessem dentro da história da roupa nova do rei, que só pode ser vista por pessoas inteligentes -- se alguém está vendo a bunda do rei exposta é porque não é inteligente o suficiente, ora essa. É uma obra para todos nós que em algum momento suspeitamos não apenas da mensagem que era oferecida por "especialistas", duvidosa ou de algum modo estranha, mas também da integridade moral do mensageiro e, sim, leitor, de suas aptidões e competência para o exercício das atividades que supostamente são a sua área de atuação.
Em IMPOSTURAS INTELECTUAIS (O abuso da Ciência pelos filósofos pós-modernos, Record /Best Bolso 2006)
os autores, Alan Sokal, pesquisador na área de mecânica estatística e combinatória, e Jean Bricmont, físico, que trabalha com filosofia da ciência, analisam certos abusos, exageros e mistificações físico-matemáticas criadas por Jacques Lacan, Luce Irigaray , Julia Kristeva, Bruno Latour, Gilles Deleuze, Jean Baudrillard e Paul Virilio. A sugestão é que o objeto sobre o qual os autores se debruçam, nessa obra, tende a ser um pouco mais que pontual, que há certa ambientação propícia, no meio acadêmico e editorial, para que as bizarrices apontadas nesse livro ocorram com frequência cada vez maior.
Os exemplos são de deixar de cabelo em pé -- um dos meus preferidos tenta dar conta da miséria, da pobreza de recursos, como consequência de um processo lógico no qual o Teorema de Gödel (!) assume aspecto central...O brilhante raciocínio, do crítico social Régis Debray, a possuir alguma validade, também pode ser usado para provar, vejam vocês, a existência de Deus! E esse é apenas um dos exemplos menos ambiciosos.
Entenda, leitor : a física, a lógica e a matemática vão muito bem, obrigado. O que há de incongruente, aqui, é a canhestra apropriação de tópicos e proposições de tais áreas por autores (de humanas, pra variar...) que tiveram uma compreensão deficiente, para dizer o mínimo, das teorias das quais pretendem fazer uso, seja no sentido próprio de seus enunciados, seja como analogia, a coisa geralmente desanda em todos os aspectos possíveis e a palhaçada segue seu curso.
A leitura é necessária, e eu diria urgentemente necessária, em tempos de crise de objetividade e degradação da comunicação eficaz, verdadeira. O agravante, aqui, suponho, para todos aqueles que suspeitam de orientação ideológica conservadora, é que os autores são declaradamente progressistas, esquerda na sua forma mais clara e inequívoca. Para aquele seu amigo vermelho de discurso ressentido, portanto, não resta nem a desconversa da contaminação ideológica, o que inevitavelmente será um recurso, não muito bom, diga-se, diante de um Kirk Russell, um Dalrymple ou de um Scruton.
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