Verdade e Poder – Michel Foucault
Michel Foucault, filósofo francês, em Verdade e Poder, faz um breve esboço analisado por volta dos anos de 1950 a 1955, problematizando o estatuto político da ciência e as funções ideológicas que podia propagar, caso escandaloso que durante muito tempo permaneceu escondido. Diante disso, Foucault extrai duas palavras para o trajeto de seu trabalho: poder e saber. No texto apresentado, Alexandre Fontana o entrevista, abordando os principais temas de seus trabalhos, os problemas identificados, a forma de pensamento crítico do filósofo e as relações de poder relacionadas ao discurso no campo da linguística, não analisando o modelo estrutural da palavra, mas sim seus respectivos significados.
O público-alvo do filósofo não se interessou pelas questões expostas, considerando que era um problema politicamente insignificante e epistemologicamente sem nobreza, pois não foram apreciados com devida relevância. Em virtude dos pensamentos expostos, havia motivos para esse fator ocorrer.
A primeira razão é a de que os marxistas se reconheciam pela instituição universitária e pelo establishmente (que se refere à ordem ideológica, econômica e política que constitui o Estado). Ou seja, deviam, portanto, trabalhar as mesmas questões, domínios e problemas que eles. O marxismo queria se encaixar na tradição liberal, retomando os problemas acadêmicos mais “nobres”, sendo que medicina e psiquiatria, por exemplo, não estavam à altura das grandes formas de racionalismo clássico.
A segunda foi porque os pós-estalinistas quiseram excluir do discurso marxista tudo o que não fosse repetição amedrontada do que já tinha sido dito. Não permitindo, assim, a abordagem de novos discursos e ficando limitados.
A esquerda intelectual francesa fazia questão de manter silêncio ante esse domínio de Foucault, mas que fortunosamente ganhou significação política em 1968. O teórico afirma que faltava em seu trabalho o problema do “regime discursivo”, confundindo-se com a sistematicidade, forma teórica ou algo como o paradigma, ao invés de “focar” nos efeitos de poder do jogo enunciativo.
Foucault não considera que foi o primeiro a colocar ao discurso a questão do poder, afirma ter encontrado dificuldade em formular tal questão. Define genealogia como uma forma de história que dê conta da constituição dos saberes, discursos, domínios do objeto, etc., sem ter que se referir a um sujeito. Vendo a necessidade de se livrar do sujeito constituinte, livrar-se do próprio sujeito, chegando a uma análise que possa dar conta da constituição do sujeito na trama histórica.
A geração de Foucault foi sustentada sob duas formas de estudo: uma se remetia ao sujeito constituinte e ao econômico em última instância; à ideologia e ao jogo das superestruturas e das infra-estruturas. Talvez, possibilitando, assim, um obstáculo objetivo para a formulação deste problema questionado, por causa do marxismo e da fenomenologia.
Ser intelectual é ser um pouco a consciência de todos, durante muito tempo o intelectual da esquerda teve seu discurso reconhecido enquanto dono da verdade e da justiça, vendo ali uma necessidade de posição histórica. Mas com o tempo, através das mudanças constantes que sofre a sociedade, os intelectuais passaram a trabalhar em setores específicos ao invés do “universal”, que era pouco consciente e pouco refletido. Ganhando consciência mais concreta e imediata das lutas, ampliando experiências mais reais, do cotidiano e que antes eram pouco vistas, gerando uma oposição ao “universal”.
O intelectual universal derivou-se de uma figura histórica bem particular, tem sua expressão mais completa no escritor, portador de significações e de valores em que todos podem se reconhecer. Enquanto o intelectual específico faz a intervenção do cientista nas lutas políticas que lhe são contemporâneas e podem ser definidos como cientista absoluto, não sendo mais aquele que empunha sozinho os valores de todos, é aquele que detém ao serviço do Estado poderes que favorecem ou tiram definitivamente a vida. Ele encontra obstáculos e se expõe a perigos. A biologia e a física, por exemplo, foram privilegiadas no campo de formação deste novo personagem.
Em suma, da concepção foucaultiana surge que a verdade não existe fora do poder ou sem o poder, cada sociedade tem seu regime e sua política de verdade, ou seja, o tipo de discurso que ela acolhe e faz tornar verdadeiro, a maneira como aprova uns e outros não. O problema político essencial para o intelectual é saber se é possível constituir uma nova política de verdade, é mudar as formas de regime de produção de verdade. Não há necessidade, portanto, de focalizar nesse jogo do que é veridicamente falso ou verdadeiro, mas compreender as questões ao redor desses fatores.