A viagem de Couto de Magalhães

A VIAGEM DE COUTO DE MAGALHÃES
Miguel Carqueija

Resenha do livro de viagens “Viagem ao Araguaia”, por Couto de Magalhães. Coleção “Obras imortais da nossa literatura” 45, Editora Três, São Paulo-SP, 1974. Capa: Aníbal dos Santos Monteiro. Desenho: Manoel Victor. Informações editoriais sobre o autor: pesquisa do Professor Carlos Alberto Iannone, da faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília-SP.

O General Couto de Magalhães desenvolveu uma carreira precoce de político, chegando a governar o Estado de Goiás com menos de trinta anos de idade. Dessa época ele guardou e posteriormente publicou um diário de viagens pelo Rio Araguaia, imenso afluente do Tocantins e no qual se encontra inclusive a Ilha de Bananal, considerada a maior ilha fluvial do mundo (aliás em ilhas fluviais o Brasil é o campeão; maior ainda que Bananal é Marajó, considerada porém como fluviomarítima por se encontrar no duplo estuário Amazonas-Tocantins; um pouco menor é Tupinambarana, no Rio Amazonas).
A narrativa de Couto de Magalhães é simples, direta e repleta de informações, descrevendo com riquezas de detalhes a fauna da região, sem faltarem as sinistras alusões à sinistra sucuri (chamada às vezes de sicuri no texto). Couto se refere às lendas que falavam de duas serpentes que seriam ainda maiores que a sucuri: a “cobra dormideira” e o minhocão.
Há descrição de muitas tribos de índios, algumas amigas, outras claramente hostis e perigosas.
Embora o autor lamente a caça excessiva do peixe-boi, que já naquela época (década de 1860) desaparecera da maior parte do país, ele próprio infelizmente ao longo da viagem caça de forma incessante marrecos, jacarés, antas e até macacos, além de muitos outros bichos, inclusive seu grupo caçava além da necessidade. Só podemos perdoar um pouco pela pouca consciência ecológica existente naquela época.
“À noite matamos, além de diversos peixes, um jacaré de mais de 17 palmos.” (pg. 121)
Semelhantes anotações perpassam boa parte do livro.
Couto de Magalhães interessava-se pela exploração do Rio Araguaia como importante via fluvial ainda não suficientemente reconhecida. O tempo deu-lhe razão. Realmente o Araguaia forma com o Tocantins um sistema como poucos no mundo.
O autor fala muito de uma tribo feroz conhecida como os “canoeiros” que, “como as outras tribos, são submetidos a chefes, a quem dão o nome português Capitão, o qual por sua vez tem sob suas ordens tenentes, alferes, sargentos e cabos.” (pg. 103).
É surpreendente essa assimilação de nomes portugueses para fins de hierarquia militar, sobretudo da parte de indígenas que odiavam os homens brancos. Magalhães coloca também um pequeno glossário de nomes dos canoeiros. Deus é Juvaká, homem é cuimbaé, mulher é uainvi, roupa é aobá etc.
Este livro considero recomendável não tanto como obra literária mas como fonte de informações históricas e geográficas sobre a região central do Brasil.

Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 2017.