Artistas Negros do Século XIX
Quando se fala em arte negra, inicialmente a relacionamos com música ou obras arquitetônicas, mas na verdade, os negros se dedicaram
bastante à pintura.
Diversos artistas negros estiveram presentes na Academia de Belas Artes durante o século XIX e contribuíram historicamente para a cultura brasileira, embora seus trabalhos fossem pouco valorizados e reconhecidos.
As primeiras Academias de Belas Artes surgiram na Europa, durante o século XVI e não acatavam as Corporações de Ofício, que eram organizadas através de agrupamentos específicos, com divisão de trabalho no qual o mestre ensinava o jovem aprendiz e cada organização cuidava e desenvolvia apenas suas atividades típicas.
As academias tinham um ensino rígido tanto na teoria como na prática artística, reorientando o modelo de ensino e afastando-se da concepção de vocação.
Quando a corte portuguesa chegou em solo brasileiro, foi criada a Academia Imperial de Belas Artes, além de outras instituições também importantes. Nesse momento, a estética da academia era baseada em orientações neoclássicas, elaborando visão moderna e rompendo laços com a arte barroca local. Alterou-se o grau social do artistas, deixando de serem simples artesãos para se tornarem estudiosos da história da arte, das formas de desenho e da pintura.
Cada gênero artístico ocupava um nicho diferenciado, isto é, a pintura de paisagem e natureza-morta eram menos valiosas que a pintura histórica ou de retratos. A pintura histórica tinha um nível de importância mais elevado pelo fato de afirmar “heróis” nacionais para um público leigo e em grande parte analfabeto, a pátria estava em projeto e havia necessidade de a Academia formular ícones significativos para essa história.
Em 1879, o Brasil ainda permanecia em regime escravista por mais que a escravidão dos africanos e negros estivessem em vias de extinção, ainda prevalecia a hierarquia e um país dividido em grupos de brancos e não-brancos. Era impossível ter liberdade de arte aonde ainda havia escravidão, muitos artistas negros sofriam exclusão pelo simples fato de serem negros e estarem numa sociedade que os considerava inferior e afirmava que não tinham os mesmos direitos que os brancos.
Evidentemente, no final do século XIX que apareceram artistas para abrir o caminho de outros negros também artistas, representando a si e a sua cultura.
Estevão Roberto da Silva
- 1º pintor negro a se formar na Academia Imperial de Belas Artes;
- Considerado o melhor pintor de natureza-morta do século;
- Fez pinturas históricas, religiosas, retratos e alegorias, investindo nas cores vermelhas, amarelas e verdes;
- Especializou-se na pintura de frutos e flores e lecionou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro;
- Ficou em 2º lugar durante a 25ª Exposição Geral da Academia Imperial para os melhores pintores de natureza-morta, recusou o prêmio por causa de sua colocação e quase foi expulso da Academia, ficando suspenso por um ano.
Artur Timóteo da Costa
- Estudou na casa da moeda do RJ, onde foi aprendiz, e na Escola Nacional de Belas Artes como aluno livre;
- Afastou-se do Neoclassicismo e Romantismo para fazer pinturas mais densas;
- Pintou paisagens e figuras, investindo na textura, luminosidade e colorido;
- Conquistou o Prêmio de viagem à Europa na Exposição Geral de Belas Artes;
- Participou dos trabalhos de decoração do pavilhão brasileiro de Exposição Internacional na Itália;
- Considerado um dos artistas mais inovadores do século, atuando como percursor do impressionismo no Brasil;
- Iniciou o movimento de Arte Moderna, mas faleceu precocemente aos 39 anos, em 1922, ano da Semana de Arte Moderna, onde acabou sendo esquecido;
- Seus personagens negros aproximavam-se de sua condição étnico-racial, transmitindo suavidade e delicadeza por meio de suas pinceladas, numa sociedade que negava essa possibilidade a todo o momento.
Antônio Rafael Pinto Bandeira
- Ingressou na Academia Imperial de Belas Artes aos 16 anos, destacou-se por seu desempenho e recebeu menção honrosa;
- Pintor de obras naturalistas e ricas de detalhes;
- Professor de desenho e paisagem do Liceu de Artes e Ofícios de Salvador;
- Considerado um dos maiores paisagistas brasileiros do século;
- Suicidou-se aos 33 anos, talvez, pelo insucesso profissional de tentar abrir uma Escola de Belas Artes.
Além dos artistas citados acima, muitos outros tentaram ultrapassar
limitações impostas naquele período, como Machado de Assis, Militão Augusto de Azevedo, José Christiano de Freitas Henriques Júnior, Manoel Querino, Horácio Hora e outros.
Logo, para eles, superar o racismo nessa época era um desafio, porém, o racismo ainda é responsável pela invisibilidade histórica de intelectuais e artistas negros que arquitetaram a história e a identidade brasileira.
Artigo: Souza, Marcelo de Salete; ARTISTAS NEGROS DO SÉCULO XIX. Livro: Culturas Africanas e Afro-brasileiras em sala de aula – Saberes para professores fazeres para alunos. Organizadora: Felinto, Renata (MG, 2012. p. 77-81).