Breve resenha do Homem Duplicado

A obra O Homem Duplicado, escrita pelo escritor português José Saramago em 1992, é a narrativa sobre um homem de 40 anos chamado Tertuliano Máximo Afonso que se vê diante de um duplicado de si mesmo ao assistir um filme. Ele é um professor de História, divorciado há seis anos e sem filhos morando sozinho. Parece estar com depressão ou se encaminha para isso. Ele não gosta do seu primeiro nome. Nisso, nota-se uma cisão interna de sua identidade ao negar parte do seu nome. Seu pai já é falecido. O protagonista aprendeu com sua mãe, à qual ainda é viva, a sempre lavar as louças após a refeição e a não dizer palavrões. Em momentos raros que o diga, censura-se. Dentre outros momentos de moralismo de Tertuliano, há o de respeito à mulher que arruma sua casa. Nesse dia, ele se alimenta fora para não sujar os pratos que lavados por ela.

Em dado diálogo com sua consciência chamada por ele de “senso comum”, teima em seguir os conselhos desse outro eu. Este, finaliza a conversa dizendo que Tertuliano sempre faz o que quer e não se importa com suas orientações.

Na página 43 e 44, há uma passagem sobre a reflexão de um comportamento em relação ao professor de matemática, amigo que o indica o filme que há um ator que é sua cópia fisionômica neste planeta, em que o professor de história discorre sobre a “ira dos mansos”. Segundo ele: uma pessoa aparentemente dócil, pacífica, mas que por dentro está cheia de tormentas e problemas guardados para si, repentinamente, pode irar-se e dar vazão a essa tensão interna e praticar condutas irascíveis e gerar um desconforto entre os sujeitos. Muitas vezes, essa ira dura apenas alguns minutos.

Nesse trecho da obra: “o vinho foi servido e em seu tempo saboreado, agora há que beber o resto azedo que ficou no fundo do copo” (p.63), trata-se de arcar com as consequências das decisões e atos praticados pelo sujeito. De não se furtar ao ônus vinculado ao bônus. De não se acovardar diante dos efeitos de determinada atitude em que já se usufruiu dos benefícios.

Quando se fala algo inoportuno ou que possa vir causar incômodo, o texto da obra o denomina de silêncio eloquente: “são apenas palavras que ficaram atravessadas na garganta, palavras engasgadas que não puderam escapar ao aperto da glote” (p. 68). Isso pode acarretar o ditado popular: “quem fala o que quer, ouve o que não quer”. Também se dá quando a pessoa está sob tensão e fala sem perceber ou quando há muito quer dizer algo e a língua coça para falar e em determinada ocasião não a segura.

Ao escutar a frase de sua namorada Maria da Paz: “O caos é uma ordem a decifrar” (p.103), motiva-se a buscar o ator Antônio Claro para tentar descobrir sobre esse fenômeno raro de uma pessoa ser um duplicado de outra: a voz, a cicatriz, as dimensões do corpo, até o formato e a localização das veias das mãos.

Contudo, seriam gêmeos? Seria apenas a personificação de um outro eu psicológico criado pelo professor de História como fuga de uma vida em que tenta se redimir ou seria uma vida dupla em que leva?

Vale lembrar da conversa com sua mãe Carolina Máximo, na qual ele diz ela ter vocação para Cassandra de Troia. Isso ocorre quando ela lhe aconselha a não seguir adiante em tentar decifrar a ordem desse caos.

Após a leitura do livro, assisti ao filme de nome homônimo no Brasil (título original: Enemy) adaptado da obra de Saramago, lançado em 2014 e dirigido pelo canadense Denis Villeneuve. Por ser uma adaptação, a película traz outros elementos que não se vê no livro etc. Ao final, gerou uma confusão no entendimento. Mas, ao assistir o vídeo “O Homem Duplicado Explicado”, consegui entender o enredo psicológico.

Saramago, José, 1992 - O homem duplicado/José Saramago. – São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Ilton Paiva
Enviado por Ilton Paiva em 15/09/2019
Reeditado em 15/09/2019
Código do texto: T6745526
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