A mulher na visão de Balzac

A MULHER NA VISÃO DE BALZAC
Miguel Carqueija

Resenha do romance “A mulher de 30 anos”, de Honoré de Balzac. Editora martins Claret, São Paulo-SP, 2002. Tradução: Pietro Nassetti. Capa: Cláudio Gianfardori. Título original: “La femme de trente ans”. Coleção “A obra-prima de cada autor”, 8.

Romances sociais são habitualmente pesados, mas os de Balzac são atraentes pelo estilo. Contudo eles também mostram personagens em desconstrução. Embora tenha vivido apenas pouco mais de meio século deixou uma obra de volume monumental. A coleção da “Comédia Humana” consta de 137 romances, sendo 50 incompletos e formam como que uma saga com personagens que reaparecem.
“A mulher de 30 anos” consagrou a expressão “balzaqueana”, adjetivo para designar as mulheres que atingem essa faixa etária, e aqui vistas como ainda atraentes, quando naquela época se valorizava a juventude extrema. Todavia Júlia d’Aiglemont já começa em desconstrução, num diálogo com o pai, que enxerga o desastre que se aproxima com o noivado da jovem — então com muito menos de 30. Júlia era noiva de Vitor d’Aiglemont, oficial do exército napoleônico em 1813.
O pai já idoso de Júlia, em tom fatalista, vaticina o triste destino da moça: “Ah! Se pudesses colocar-te a dez anos desta época na vida, farias justiça à minha experiência. Conheço Vitor; sua alegria é uma alegria sem espírito, de caserna, ele não tem talento e e gastador. É um desses homens que o céu criou para tomar e digerir quatro refeições por dia (sic), dormir, amar a primeira que aparecer e bater-se.” (...) Serás vítima ou tirana. Ambas as alternativas trazem soma igual de infelicidade à vida de uma mulher (...)”.
Desnecessário é dizer que Júlia não atenderá aos conselhos paternos e mergulhará na infelicidade.
O que me parece desequilibra o romance é a história paralela da moça que foge com o pirata, algo que parece fora de propósito dentro da obra. Todavia é um livro recomendável e que retrata bem aspectos da condição feminina no século XIX e na França.

Rio de Janeiro, 5 de setembro de 2017.