Resenha: Festim dos Corvos, de George R. R. Martin (Youtube: O Livro da vez por David Thomas)

Análise da Obra

Informações técnicas da obra:

• Título da Obra: O Festim dos Corvos (Livro 4);

• Autor/Autora da obra: George R.R. Martin;

• Editora da Obra: Leya;

• Data de publicação: 2000.

Espírito/ Essência da obra:

• Gênero textual: Fantasia para adultos com forte conteúdo violento, sexual, incesto;

• Escola Literária/Período literário: Literatura Contemporânea;

• Ambiente físico e temporal da obra: Passa-se no continente fictício de Westeros e no continente de Essos;

• Tipo de narrador: Narrador em terceira pessoa com a utilização de Fluxo de Consciência (cada personagem tem sua própria voz na narrativa).

Enredo:

Nesse quarto volume da saga, George R.R Martin, concederá um ar fresco em "As Crônicas de Gelo e Fogo”, algo necessário após o fim trágico de tanta gente desde o primeiro livro e especialmente no terceiro Volume. Daenerys Targaryen e Tyrion Lannister não aparecerão nesse livro, embora sejam citados algumas vezes em capítulos de outros personagens. Neste quarto volume da saga, o livro começa dando continuidade exatamente no momento que terminou o terceiro volume. Uma diferença que podemos notar logo no início é que houve uma pausa nos principais conflitos da saga e também vamos ver a partir de agora a estória pelo ponto de vista de outros personagens e também tomaremos conhecimento de conflitos menores que estão acontecendo em outras casas. A casa Greyjoy que no volume anterior não havia aparecido muito, nem no livro nem na série, começa agora trazendo ao leitor a notícia da morte de Balon Greyjoy, pai de Theon e Asha Greyjoy. Agora seu irmão, Aeron Greyjoy, começa uma assembleia para decidir o próximo rei das Ilhas de Ferro. Asha não pode por ser mulher e eles mal cogitam a possibilidade de Theon Greyjoy assumir o trono. Aaron Greyjoy ou Cabelo molhado, tem dois irmãos que podem sentar na Cadeira de Pedra do Mar no lugar dos sobrinhos: Euron Greyjoy e Victarion Greyjoy. Contudo Asha Greyjoy ao ser informada dessa assembleia pelo tio, Rodrik Harlaw, fica inconformada e passa a reunir seguidores para conquistar o Trono de Pedra do Mar; desejo que Rodrik tenta desmotivá-la por saber que os “Homens de Ferro” jamais aceitarão ter uma mulher no comando. Euron Greyjoy ou Olho de Corvo assim que assume a Cadeira de Pedra do Mar, manifesta o desejo de entrar na disputa pelo Trono de Ferro de Westeros e para isso deseja se casar com Daenerys Targaryen. Ordena ao irmão, Victarion Greyjoy (que não confia nem um pouco em Olho de Corvo) a ir até as Terras do Mar do Verão e buscá-la. Diz que assim como Aegon, o Conquistador, tomou Westeros com dragões, ele também sabe que há três dragões vivos e tal como Aegon, os Greyjoy tomarão Westeros. Outra casa que ganha mais destaque nesse volume é a casa “Martell” (lema:"Insubmissos, Não Curvados, Não Quebrados"), de Dorne. No livro três, Oberyn Martell ou o Víbora Vermelha, fora morto por Montanha, querendo vingar o assassinato da irmã, Elia Martell, a futura Targaryen. Sua morte é motivo de desejo de vingança em Dorne, especialmente por suas filhas bastardas: “As Serpentes de Areia”. Oberyn Martell teve quatro filhas bastardas: Obara Sand, filha de uma prostituta, destemida; Nymeria Sand, filha de uma mulher nobre, elegante, mas não menos guerreira; Tiene Sand, filha de uma septã e Sarella Sand, Filha de uma comerciante (Lembrando que o sobrenome “Sand” vem de areia em Inglês e serve para nomear qualquer filho bastardo em Dorne, já que é uma cidade quente e desértica, assim como “Snow”, neve em Inglês, exemplo Jon Snow, que serve para designar todos os filhos bastardos do Norte que é uma região fria de Westeros). Em Dorne vamos observar algumas particularidades e diferenças culturais, uma das principais delas é a liberdade sexual, sendo a bissexualidade e até mesmo o incesto algo completamente aceitável, diferente das demais regiões do continente. Governa em Dorne o Príncipe Doran Martell, irmão do falecido Oberyn Martell. Sendo complentamente pressionado pelas sobrinhas, “As Serpentes de Areia”, a iniciar uma guerra contra os Lannister por conta da morte recente do irmão e também da irmã. Não desejando tal guerra, ele manda que os guardas prendam as sobrinhas nas torres para evitar uma futura guerra com os Lannister. Doran Martell tem uma filha, Arianne Martell, que mantem um caso com Arys Oakheart, um cavaleiro da Guarda Real Lannister, nascido da região da Campina (Lema Oakheart: Nossas Raízes são Profundas) e que foi encarregado de proteger Myrcella Lannister quando ela foi prometida a se casar com Trystane Martell e consequentemente ir viver em Dorne. Uma das inúmeras difereças que o leitor da saga encontrará na série, é exatamente o envenenamento de Myrcella Lannister pelas Serpentes de Areia, coisa que no livro não ocorre. Arianne Martell mantem grandes ressentimentos pelo pai, Doran Martell, por ele escolher o filho homem, Quentyn Martell, como seu descendente e não ela. Arianne Martell planeja convencer Myrcella Baratheon que ela é a verdadeira herdeira do Trono de Ferro e não o irmão, Tommen Baratheon, que é o mais novo. Outro fato que ocorreu no último livro que voltaremos a acompanhar é o assassinato de Tywin Lannister pelo seu filho, Tyrion Lannister. Cersei Lannister não derrama uma lágrima ao saber da morte do pai, chega até mesmo a pensar o quão isso é positivo pelo fato de não ser mais obrigada a casar com ninguém e também que a partir de agora poderá governar sozinha. Enquanto vê a imagem do pai assassinado na cama, ela já começa a pensar sobre quem seria agora a mão do rei (seu filho mais novo, Tommen Baratheon, assumiu o Trono de Ferro após a morte do irmão, Rei Joffrey Baratheon) e ao querer nesse inadequado momento eleger Jaime Lannister, ele recusa e sem respeitar o corpo do pai, Cersei lhe dá um tapa no rosto, decidindo assim que o mais adequado para o cargo é o tio, Sor Kevan Lannister que também recusa. Nesse volume Cersei está mais obstinada do que nunca e passa a não confiar mais em ninguém, nem mesmo no seu irmão gêmeo e amante, Jaime Lannister, que além de não confiar, passa também a repudiá-lo e humilhá-lo, especialmente por ter perdido sua mão de espada. Outra obsessão é o desejo do sangue do irmão mais novo, Tyrion Lannister, que além de ter passado à vida sendo culpado pela morte da mãe, agora é responsabilizado pela morte do Sobrinho, Rei Joffrey Baratheon, e também pela morte do pai, sendo de fato responsável somente por esta última. Nesse livro também é nos apresentado a profecia que Cersei Lannister recebeu quando era criança: “Será rainha, até chegar outra, mais jovem e bela, para te derrubar e tirar tudo aquilo que lhe é querido”, portando Daenerys Targaryen já estava destinada a cruzar seu destino muito antes de nascer, contudo a Rainha acredita que a profecia se refere à Margaery Tyrell. Rei Tommen Baratheon se casa com Margaery Tyrrel e assim como já estava ocorrendo desde o segundo livro (A Fúria dos Reis), todos continuam desconfiando cada vez mais de sua linhagem, muitos acreditando que sua posse ao Trono é ilegal e que ele e os irmão não são Baratheon e sim que são frutos de incesto. O último Septão de Porto Real morreu e agora o conselho deve decidir quem será o próximo. Cersei Lannister vai aos poucos sujando a reputação do antigo como alguém liberal demais para tão logo estabelecer um regime religioso totalmente militarizado e fanático. Ao saber que Jon Snow se uniu a Stannis Baratheon, Cersei Lannister propõe que nenhum homem seja enviado aos "Corvos" até que Jon Snow seja destituído do cargo de Senhor Comandante da Patrulha da Noite e banido da Muralha. Completamente insatisfeita com o casamento do filho e também com a presença de Margaery Tyrell (pois ela acredita que a profecia se referia à Margaery Tyrrel), Cersei pede para um de seus amantes, Osney Kettleblack, seduzi-la. Dando poder aos fanáticos religiosos, Cersei arma uma cilada para Margaery Tyrrel. Forjando provas de uma traição e de praticar fornicação para condená-la, Cersei é vítima do próprio veneno e acaba nesse volume aprisionada no Grande Septo de Baelor, após ser desmascarada

pela Fé militante. Já na quinta temporada da série (que deveria corresponder a esse volume), ela é penitenciada a caminhar nua do Septo de Baelor até o Castelo do Rei. Já no livro não temos essa cena e sim ela enviando uma mensagem a Jaime pedindo ajuda e ele inacreditavelmente se recusando a salvá-la. Aos poucos já começa chegar os rumores da existência de dragões do outro lado do mar. Brienne de Tarth continua a procura de Sansa Stark. Sansa Stark permanece no Ninha da Águia logo após a morte de sua tia, Lysa Arryn, jogada da “Porta da Lua” por Mindinho. Neste quarto volume todo processo de amadurecimento dela se concretiza. Tendo que mentir para proteger a si e Mindinho quanto a verdadeira morte da tia que ocorreu no livro anterior, ela reflete sobre o quanto mentiras são importantes para a sobrevivência dentro de Westeros. Jon Snow tornou-se no livro anterior comandante da Patrulha da Noite e uniu forças a Stannis Baratheon. Jon Snow encarrega Samwell Tarly de realizar uma das tarefas mais difícies de sua vida: ir para sua terra natal da qual Samwell Tarly foi expulso por seu pai que o considerava uma vergonha. Arya Stark chega finalmente na cidade de Braavos. Chegando lá ela vai parar direto na “Casa do Preto e do Branco” ou Templo do Deus de Muitas Faces, o Deus da Morte. Nessa religião do Deus de Muitas Faces os adeptos são conhecidos como “Homem sem rosto”, e para isso a pessoa tem que se tornar um “Ninguém”, eliminando qualquer traço de personalidade, história, títulos e posses e se entregar ao trabalho como servo do Deus de Muitas Faces. Arya Stark vai desejar se tornar uma “ninguém” e passará nesse livro por um rígido treinamento. Arya Stark fica cega na casa do Preto e Branco. Samwell Tarly vai para o sul se preparar para se tornar meistre e presenciará a morte do patrulheiro, Aemon Targaryen. Samwell Tarly e Goiva finalmente têm uma relação sexual e ele se culpa por ter quebrado os votos da Patrulha da Noite. Jon Snow troca o bebê de Goiva pelo bebê de Mance Rayder (Rei-Para-Lá-da-Muralha), salvando-o de ser queimado numa fogueira por Melisandre e Stannis Baratheon que querem tomar o Norte de Roose Bolton. O mesmo não acontece com Mance Rayder que acaba sendo sacrificado por Melisandre ao Senhor da Luz. Catelyn Stark volta no final do livro como "Senhora Coração de Pedra", uma sacerdotisa do Senhor da Luz, culpando Brienne por ter quebrado seu juramento e se aliar aos Lannister.

• Minha opinião sobre a obra:

1. A série televisiva está completamente diferente do livro nessa quinta temporada;

2. O descaramento e a ironia de Margaery Tyrrel ao se dirigir à Cersei Lannister a chamando alguns momentos de mãe, foram os momentos que mais me fizeram dar risadas ao longo dessa leitura;

3. Já sabemos que no final da saga, Daenerys Targaryen acaba queimando todos em Porto Real, inclusive inocentes e crianças. Claro que essa medida partindo dela é algo que nos espanta, contudo não devemos nos esquecer que o Rei Robert Baratheon para tomar o Trono de Ferro, passou por cima de vários cadáveres Targaryen, inclusive crianças. Nada mais justo;

4. Nesse quarto volume da saga há menos mortos do que ocorreram nos três volumes anteriores;

Há uma cena que ocorreu em algum dos dois últimos livros da saga em que Daenerys Targaryen acaba se envolvendo sexualmente com uma de suas leais. Nesse quarto volume da saga quem terá uma relação homossexual será Cersei Lannister. Durante uma noite em seu quarto, ela se relacionará com Taena Merryweather. Mas diferente de Daenerys Targaryen, Cersei Lannister não fará por prazer sexual propriamente dito, mas sim para vingar no sexo feminino todos os abusos que ela sofreu com o Rei Robert Baratheon. Algo nesse capítulo que também ficou muito evidente para mim é o quanto a Rainha sempre desejou ter nascido homem, como encara seu sexo biológico como um empecilho para tudo que sempre desejou, o poder.

• Aspectos negativas observados:

1. Diferente das demais temporadas da série televisiva, posso dizer que a quinta temporada (que corresponde a esse volume da saga) está muito diferente do livro, principalmente na questão cronológica. Um fato por exemplo é a relação de Brienne de Tarth e Podrick Payne, seu aprendiz de espada, que na série televisiva ela é completamente hostil e no livro ela se mostra muito mais empática em relação a ele. Falando em Brienne, seus capítulos foram em minha opinião os mais cansativos do livro;

2. Algo muito chato e desnecessário em minha opinião, é as constantes trocas de nomes dos personagens. Embora essas mudanças não interfiram muito no entendimento dos acontecimentos, é algo que acaba atrapalhando um pouco;

3. Sem dúvida é o livro mais lento da saga,mas também ele vem para aumentar a visão do leitor a respeito de Westeros. Nesse livro conseguimos entender que há muito mais conflitos do que os dos Targaryen, Lannister e Stark.

• Aspectos positivos observados:

1. Algo muito bem trabalhado nesse volume foi a forma como Martin nos apresentou mais profundamente as religiões de Westeros, assim como os poderosos as manipulam para controlar a população e também as usam para satisfazer seus próprios interesses políticos e pessoais. Nada muito diferente do que vemos diariamente em nosso mundo, não é mesmo?

2. Outro fato que gostei é o foco que a casa Greyjoy ganhou nesse livro. Nos livros anteriores não era uma casa abordada de forma importante e raramente apareciam ou eram citadas nos capítulos;

3. Os capítulos mais empolgantes na minha opinião são os de Arya Stark e Cersei Lannister;

4. Um dos aspectos desse volume que é muito interessante é como George R.R Martin nos mostra o perigo que o fanatismo religioso pode oferecer à sociedade e o quão temos que tomar cuidado com o poder dado à fé. Podemos pensar um pouco sobre a inquisição, os atentados terroristas do Estado Islâmico e no Brasil particularmente, nas bancadas evangélicas e nas igrejas neopentecostais.

O Livro da vez por David Thomas
Enviado por O Livro da vez por David Thomas em 10/09/2019
Código do texto: T6741484
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