O poema épico "Os Brasileidas"
O POEMA ÉPICO “OS BRASILEIDAS”
Miguel Carqueija
Resenha do poema épico “Os Brasileidas”, por Carlos Alberto Nunes. Edições Melhoramentos, São Paulo-SP, 1962, Coleção Cultura e Ciência. Ilustrações de Percy Deane. Inclui o texto “Ensaio sobre a poesia épica”.
Este volumoso livro é uma das poucas epopeias brasileiras e uma espécie de êmulo para “Os Lusíadas” de Camões. Autor erudito, que traduziu o teatro completo de Shakespeare em 21 volumes além da “Ilíada e da “Odisseia” de Homero, Nunes concentrou-se na figura lendária de Antônio Raposo Tavares, o bandeirante que, pelo que consta, mais viajou pelo Brasil afora, ajudando a empurrar o domínio português para muito além do meridiano de Tordesilhas.
São muitos os elementos que compõem este alentado volume: as Amazonas ou Icamiabas, muitas tribos indígenas, Tupã, a Atlântida, os titãs (inclusive o Adamastor de Camões e o “gigante de pedra” da Guanabara, aqui chamado Brasileu), outros bandeirantes, a pororoca, as “terras-caídas” etc formam uma narrativa assaz interessante ainda que com muitos termos difíceis e desconhecidos.
Nunes conta enfim a derrocada do suposto império das icamiabas, as lendárias amazonas brasileiras. É estranho que, tendo o grande rio o seu nome, e até a região chame-se Amazônia, praticamente ninguém mais acredita na existência das mulheres guerreiras, mas cabe uma pergunta: se eram apenas (como sugerido num velho livro escolar da minha infância) “índios de cabelos compridos”, por que as amazonas brasileiras (pois as amazonas são lenda europeia) possuem o nome indígena de icamiabas?
No mais, seria trabalho de Hércules analisar obra tão substancial como essa. Vejam este pequeno trecho do Canto VI:
“Pesa-me aquela solução, a perda
quase definitiva da esperança
de alcançarmos a serra, à mente aflita
me ocorrendo de pronto o estratagema
de entrar pelo sertão com os mamelucos
de São Paulo, valendo-me do curso
sagrado do Anhembi, que, reforçado
pelo Piracicaba, prometia
levar os bandeirantes onde apenas
chega a imaginação nos seus arroubos
mais sublimados (...)”
Rio de Janeiro, 3 de maio de 2019.
O POEMA ÉPICO “OS BRASILEIDAS”
Miguel Carqueija
Resenha do poema épico “Os Brasileidas”, por Carlos Alberto Nunes. Edições Melhoramentos, São Paulo-SP, 1962, Coleção Cultura e Ciência. Ilustrações de Percy Deane. Inclui o texto “Ensaio sobre a poesia épica”.
Este volumoso livro é uma das poucas epopeias brasileiras e uma espécie de êmulo para “Os Lusíadas” de Camões. Autor erudito, que traduziu o teatro completo de Shakespeare em 21 volumes além da “Ilíada e da “Odisseia” de Homero, Nunes concentrou-se na figura lendária de Antônio Raposo Tavares, o bandeirante que, pelo que consta, mais viajou pelo Brasil afora, ajudando a empurrar o domínio português para muito além do meridiano de Tordesilhas.
São muitos os elementos que compõem este alentado volume: as Amazonas ou Icamiabas, muitas tribos indígenas, Tupã, a Atlântida, os titãs (inclusive o Adamastor de Camões e o “gigante de pedra” da Guanabara, aqui chamado Brasileu), outros bandeirantes, a pororoca, as “terras-caídas” etc formam uma narrativa assaz interessante ainda que com muitos termos difíceis e desconhecidos.
Nunes conta enfim a derrocada do suposto império das icamiabas, as lendárias amazonas brasileiras. É estranho que, tendo o grande rio o seu nome, e até a região chame-se Amazônia, praticamente ninguém mais acredita na existência das mulheres guerreiras, mas cabe uma pergunta: se eram apenas (como sugerido num velho livro escolar da minha infância) “índios de cabelos compridos”, por que as amazonas brasileiras (pois as amazonas são lenda europeia) possuem o nome indígena de icamiabas?
No mais, seria trabalho de Hércules analisar obra tão substancial como essa. Vejam este pequeno trecho do Canto VI:
“Pesa-me aquela solução, a perda
quase definitiva da esperança
de alcançarmos a serra, à mente aflita
me ocorrendo de pronto o estratagema
de entrar pelo sertão com os mamelucos
de São Paulo, valendo-me do curso
sagrado do Anhembi, que, reforçado
pelo Piracicaba, prometia
levar os bandeirantes onde apenas
chega a imaginação nos seus arroubos
mais sublimados (...)”
Rio de Janeiro, 3 de maio de 2019.