O Lovecraft fantasma
O LOVECRAFT FANTASMA
Miguel Carqueija
Resenha da coletânea “O ciclo de Yig”, de H.P. Lovecraft. Editora Clock Tower, Jundiaí-SP, 2018. Tradução de Daniel Iturvides Dutra, autor também da introdução e das notas. Capa: Fabio Silva.
Consta este livro de uma novela e dois contos pavorosos de H.P. Lovecraft (EUA, 1890-1937), um dos mestres da literatura de horror. Não ombreia com Edgar Allan Poe, mas supera amplamente Stephen King. Conforme explicado na introdução, os três textos resultam da ação de Lovecraft como escritor fantasma. No caso textos fornecidos sob pagamento, para certa Zealia Bishop.
Apesar da mudança de cenário da Nova Inglaterra para Oklahoma, o estilo do autor aparece com nitidez. Para Lovecraft tudo é possível, desde que se trate de lendas referentes a seres poderosos e malignos. Apesar das referências a Cthulhu aqui predomina Yig, o “pai das serpentes”, outra suposta divindade demoníaca, eis que, quando tomamos conhecimento de certo número de contos e novelas deste autor, vemos que a história costuma ser sempre a mesma, isto é, variantes do mesmo tema, sempre aquele horror que ninguém pode enfrentar e do qual até se deve fazer segredo.
A COLINA (The mound) — Conforme explica o tradutor, “mound” é na realidade uma colina artificial, como as construídas por algumas tribos indígenas norte-americanas.
A novela é uma história terrível sobre um viajante espanhol do século 16 que, entrando por um túnel misterioso e disfarçado em região pouco conhecida do futuro estado de Oklahoma, no oeste estadunidense, vai parar num estranho mundo subterrâneo. Um mundo habitado por uma raça humana que possuía segredos terríveis, como animar cadáveres e realizar operações abomináveis para produzir seres artificiais.
Eles tinham alguma ligação com os Grandes Antigos — sobretudo o suposto “deus-serpente” Yig — mas já viviam existência autônoma e não queriam contato com a superfície. Recebem amistosamente o espanhol Pánfilo de Zamacona Y Nuñez, mas o proíbem de retornar ao mundo exterior.
Lovecraft faz uma longa descrição do mundo interior (aliás o mundo interior é um clichê da ficção científica, também utilizado por Júlio Verne e Edgar Rice Burrouhghs) e da civilização que o habita. Lovecraft é notável pelo seu detalhismo e pela eficácia em criar um clima emocional, um ambiente.
A MALDIÇÃO DE YIG — Prossegue aqui a ideia de que somos envolvidos por coisas monstruosas que não podem ser tornadas públicas. Conto particularmente horripilante mas é perceptível que, na cosmogonia de Lovecraft as superstições, as crendices inclusive de povos primitivos são reais; não há espaço é para o Cristianismo.
VINDO DOS ÉONS — Trama passada em Boston. Gira em torno de uma múmia e sua maldição. Praticamente tudo é explicado de maneira inverossímil, já que pelo tempo decorrido — milhares ou milhões de anos — o detalhismo da reconstituição dos fatos é altamente implausível. Dessa vez a entidade terrível é Ghatanothoa, que tem o poder de petrificar pelo olhar. O acontecimento crucial, que irá determinar os horrores no museu em plenos séculos 19 e 20, é datado em 173.148 A.C. (sic). Não faltam referências ao “planeta escuro” Yuggoth (Plutão) e a diversos livros sinistros fictícios, como o “Necronomicon” e os “Fragmentos Pnakóticos” criados pela imaginação de Lovecraft.
O volume é fechado por uma carta de Lovecraft a Zealia Bishop.
Rio de Janeiro, 15 de março de 2019.
O LOVECRAFT FANTASMA
Miguel Carqueija
Resenha da coletânea “O ciclo de Yig”, de H.P. Lovecraft. Editora Clock Tower, Jundiaí-SP, 2018. Tradução de Daniel Iturvides Dutra, autor também da introdução e das notas. Capa: Fabio Silva.
Consta este livro de uma novela e dois contos pavorosos de H.P. Lovecraft (EUA, 1890-1937), um dos mestres da literatura de horror. Não ombreia com Edgar Allan Poe, mas supera amplamente Stephen King. Conforme explicado na introdução, os três textos resultam da ação de Lovecraft como escritor fantasma. No caso textos fornecidos sob pagamento, para certa Zealia Bishop.
Apesar da mudança de cenário da Nova Inglaterra para Oklahoma, o estilo do autor aparece com nitidez. Para Lovecraft tudo é possível, desde que se trate de lendas referentes a seres poderosos e malignos. Apesar das referências a Cthulhu aqui predomina Yig, o “pai das serpentes”, outra suposta divindade demoníaca, eis que, quando tomamos conhecimento de certo número de contos e novelas deste autor, vemos que a história costuma ser sempre a mesma, isto é, variantes do mesmo tema, sempre aquele horror que ninguém pode enfrentar e do qual até se deve fazer segredo.
A COLINA (The mound) — Conforme explica o tradutor, “mound” é na realidade uma colina artificial, como as construídas por algumas tribos indígenas norte-americanas.
A novela é uma história terrível sobre um viajante espanhol do século 16 que, entrando por um túnel misterioso e disfarçado em região pouco conhecida do futuro estado de Oklahoma, no oeste estadunidense, vai parar num estranho mundo subterrâneo. Um mundo habitado por uma raça humana que possuía segredos terríveis, como animar cadáveres e realizar operações abomináveis para produzir seres artificiais.
Eles tinham alguma ligação com os Grandes Antigos — sobretudo o suposto “deus-serpente” Yig — mas já viviam existência autônoma e não queriam contato com a superfície. Recebem amistosamente o espanhol Pánfilo de Zamacona Y Nuñez, mas o proíbem de retornar ao mundo exterior.
Lovecraft faz uma longa descrição do mundo interior (aliás o mundo interior é um clichê da ficção científica, também utilizado por Júlio Verne e Edgar Rice Burrouhghs) e da civilização que o habita. Lovecraft é notável pelo seu detalhismo e pela eficácia em criar um clima emocional, um ambiente.
A MALDIÇÃO DE YIG — Prossegue aqui a ideia de que somos envolvidos por coisas monstruosas que não podem ser tornadas públicas. Conto particularmente horripilante mas é perceptível que, na cosmogonia de Lovecraft as superstições, as crendices inclusive de povos primitivos são reais; não há espaço é para o Cristianismo.
VINDO DOS ÉONS — Trama passada em Boston. Gira em torno de uma múmia e sua maldição. Praticamente tudo é explicado de maneira inverossímil, já que pelo tempo decorrido — milhares ou milhões de anos — o detalhismo da reconstituição dos fatos é altamente implausível. Dessa vez a entidade terrível é Ghatanothoa, que tem o poder de petrificar pelo olhar. O acontecimento crucial, que irá determinar os horrores no museu em plenos séculos 19 e 20, é datado em 173.148 A.C. (sic). Não faltam referências ao “planeta escuro” Yuggoth (Plutão) e a diversos livros sinistros fictícios, como o “Necronomicon” e os “Fragmentos Pnakóticos” criados pela imaginação de Lovecraft.
O volume é fechado por uma carta de Lovecraft a Zealia Bishop.
Rio de Janeiro, 15 de março de 2019.