A VIDA EM ARTES E POESIAS, "O ALFORJE" DE DALVA FRAHLICH POR EDVALDO ROSA

“Sou o que ocupa a mente, o que reverbera em mim dos vivos e mortos. (...)”.
Joaquim Moncks


Entendo um livro como uma obra de arte em si mesmo, pelo conjunto de elementos que apresente, - o que também me atrai ou não para folheá-lo...
Tendo em mãos o livro de Dalva Frahlich, “A vida em artes e poesias”, editado pela editora Ados, deslumbra-me de imediato a delicadeza presente nele enquanto objeto, a beleza e harmonia de suas partes; capa, contracapa, cores, etc...
Assim, tenho em mãos um objeto atrativo, encantador, que remete, certamente, aos demais dons desta escritora do Rio de Janeiro...
Dalva Frahlich é também artista plástica, - pintora e escultora!
Características estas que se somam ao seu talento com a escrita, á sua sensibilidade enquanto pessoa, e sem medo de errar ao seu ser mulher...
O fazer arte a partir de telas vazias, com o emprego de linhas, formas, cores, tendo como veiculo camadas de tintas, por vezes sobrepostas, suaves a um tempo, carregadas noutros, está em consonância com o escrever...
Dar forma a um material disforme, ou subverter a forma de um dado material, também está consoante com o escrever...
Afinal, a escrita não é colocar numa superfície geralmente branca, por intermédio da grafia, - sulcos num papel, coloridos comumente de grafite?
Escrever não é trabalhar com palavras brutas enquanto estanques, num ordenamento que lhes confiram significados, para além do que já por natureza intrínseca denotam?
Assim o são para mim uma tela, uma escultura, objetos que trazem em si marcas de uma lide, que remetem para além de si mesmos...
E este “A vida em artes e poesias” de Dalva Frahlich contém as marcas do trabalho empreendido pela autora em sua feitura... E avançam para além... Este livro belo livro de Dalva Frahlich eu chamei de alforje, pois remete em mim a imagem de um presente e de um passado, duas bandas de mim mesmo...
A partir das impressões da poetiza, vamos caminhando pelos caminhos expressos pelo que se lê, que somam-se aos vividos por nós, e nos encantamos por conhecer os que nem pensávamos existir...
É este olhar artístico, e poético, que trazem aos poemas deste livro, leveza, beleza, refinamento.
E é este mesmo olhar que acende um sinal de alerta:
- A vida é muito mais do que possamos pensar! - Por vezes o problema é que somos observadores destreinados na arte de observar! Noutras vezes, não nos permitimos mudar o ponto de onde nos colocamos á observar! E possivelmente na grande maioria das vezes as lentes de nossos olhos estão ofuscadas pelas coisas do mundo ao nosso redor, ou estão nubladas, pelas coisas que retemos dentro de nós!
Este “A vida em artes e poesias” de Dalva Frahlich cumpre bem com este mister da arte, ampliar horizontes... E o livro, este livro, justifica para mim a epigrafe que apresentei de autoria de Joaquim Moncks...
Este livro é para mim “(...) o que ocupa a mente, o que reverbera em mim dos vivos e mortos. (...)”.
Não me ocupei aqui em assinalar este ou aquele poema, esta ou aquela ilustração; tão abundantes neste livro, para não falar por demais de mim mesmo... Reiterando o convite para que este “A vida em artes e poesias” de Dalva Frahlich seja lido por todos, posto que este livro pode muito bem se apresentar como um alforje em que cada leitor colocou um pouco de si mesmo, e que a maestria da autora houve por bem nos reapresentar...
Afinal, não é este também o papel da arte; nos reconectar com nós mesmos pelas lentes de um estrangeiro olhar?

Edvaldo Rosa
www.sacpaixao.net
14/07/2019