A morte do lidador - Alexandre Herculano

O conto “A Morte do Lidador”, de Alexandre Herculano, fundamenta-se no movimento cristão denominado Reconquista. A narrativa norteou-se, principalmente, por meio de aspectos políticos e sociais, cujo intuito era mostrar a verdade. A moral e a ética também são elementos essenciais no desenvolvimento da história.

Aos 95 anos de idade, Gonçalo Mendes da Maia, o escolhido do rei para proteger a fronteira da cidade de Beja, pretende comemorar seu aniversário com uma façanha verdadeiramente digna de um autêntico cristão: reconquistar as terras das mãos dos infiéis invasores muçulmanos.

Em alguns aspectos, A Morte do Lidador apresenta certa semelhança com uma epopéia. A personagem Gonçalo Mendes da Maia, assim como nas epopéias, assume integridade de caráter. Do modo como ocorre com os heróis épicos, ele é desprovido de vícios e possui uma personalidade exemplar, que serve de modelo, um herói, por assim afirmar, digno de orgulho, cujo objetivo é o triunfo de sua pátria, de seu povo, de seu reino.

É muito comum nos romances e narrativas de Herculano, a utilização de personagens com características sobre-humanas, dotadas de certos poderes extraterrenos, vítimas de maldição ou de santificação. Embora a personagem Gonçalo Mendes da Maia não sirva como o modelo ideal para exemplificar essas qualidades, há de se reconhecer nele certos traços que o faz encaixar nas afirmações acima, por exemplo, seu vigor físico e mental face à sua já avançada idade, e, igualmente, sua predestinação para a morte na batalha.

O uso continuado de linguagem litúrgica também é muito comum nas narrativas desse autor português. E não haveria de ser diferente, afinal, a época e o cenário no qual se passa a narrativa é predominado pela influência da religião. A palavra alvorada, é um bom exemplo, sendo utilizada para assinalar horário, mais precisamente às primeiras horas do dia: “Era um dia do mês de Julho, duas horas depois da alvorada...”

Embora a narrativa seja ambientada num cenário medieval, Herculano sempre traz à tona fatos históricos anteriores ou posteriores ao fato propriamente relatado.

A oposição fiéis e infiéis, cristãos e muçulmanos, Lidador e Almoleimar tem o seu clímax quando os dois representantes das respectivas religiões defrontam-se.

A terra, o motivo da luta, neste instante, representa simbolicamente por meio do sangue do Lidador e do Almoleimar, a união utópica dos dois povos, das duas culturas e das duas religiões “eternamente” inimigas.

A narrativa termina com a vitória dos portugueses, que deram fim a um prolongado domínio mouro na Península Ibérica.

Em suma, compreende-se desta narrativa, que a guerra ali descrita adquiriu um caráter de cruzada, tendo na pessoa de Gonçalo Mendes da Maia o modelo do cavaleiro ideal, cuja missão foi reconquistar as terras das mãos dos hereges, dos infiéis mouros, tornando-a habitação dos “verdadeiros filhos de Deus”, os portugueses.

LeHills
Enviado por LeHills em 04/06/2019
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