"Para educar crianças feministas: um manifesto" de Chimamanda Ngozi Adichie: um livro necessário
Livro "Para educar crianças feministas: um manifesto", da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, lido em janeiro passado, entre as pausas no trabalho. A escritora se tornou uma porta-voz do movimento feminista atual, principalmente a partir da publicação de "Sejamos todos feministas", livro inspirado em palestra homônima feita por ela, no TEDx Euston.
Nesse pequeno livro (pode ser lido em 1 dia), Chimamanda responde uma carta enviada por uma amiga (Ijeawele), que lhe pergunta: "O que devo fazer para criar minha filha, Chizalum Adaora, como feminista?". Longe de oferecer um tutorial, a autora oferece 15 conselhos/dicas de como ela deveria proceder, durante a criação. Tais conselhos, longe de pregarem uma possível superioridade da mulher em relação ao homem, defendem, totalmente, a igualdade de gêneros, tanto nos direitos, como nos deveres/obrigações, bem como nas oportunidades. Em essência, para Chimamanda, nenhuma menina deveria ser privada de alguma experiência de vida simplesmente por ter nascido mulher. O sexo não pode ser um fator limitante para o trabalho, estudo, esporte, hobbies, e/ou qualquer coisa. O sexismo deve ser combatido da mesma forma que combatemos o racismo.
A autora ainda chama a atenção para se evitar o chamado "feminismo leve", que pode ser observado em frases como "ele é a cabeça e você é o pescoço" ou "ele está na direção mas você é o copiloto". Para Chimamanda, tais frases transparecem que o sucesso de uma mulher depende da condescendência de um homem.
A autora também chama a atenção para uso de jargões feministas. Segundo ela, não basta apenas evitar a misoginia, mas explicar porque aquilo é misógino. Jargões, como misoginia ou patriarcado, por si só, são conceitos vazios sem a presença de um contexto explicativo. Gostei muito, particularmente, da sugestão de incentivar o gosto pela literatura. A leitura é, talvez, a melhor forma de adquirir independência num mundo opressor.
Como pai de menina, que não quer ver a filha ser privada de oportunidades, é impossível não concordar com Chimamanda. Como todo "ismo" moderno, o feminismo possui seus fanatismos mas, o que a autora defende, entretanto, são valores que deveriam ser universais, que fogem de quaisquer extremismos. É interessante frisar que o título do livro fala de "crianças" e não apenas "meninas". Para a autora, os meninos/homens deveriam ser igualmente instruídos no feminismo para que defendam também um mundo mais justo para ambos os sexos. Chimamanda cresceu numa sociedade machista (nigeriana, igbo). Contudo, tal sociedade não é diferente de outras tantas sociedades, incluindo a brasileira, onde o machismo se mostra tanto na esfera pública como na esfera privada da casa da ampla maioria das famílias, onde mulheres, muitas vezes, são exploradas e/ou negligenciadas.
Ler Chimamanda constitui uma obrigação. Um livro necessário.
(ADICHIE, Chimamanda Ngozi: tradução de Denise Bottman. Para educar crianças feministas: um manifesto. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, 1ª edição, 96 páginas)
P.S.: Resenha escrita em 2018.