"Jeito de matar lagartas" de Antonio Carlos Viana: contos crus interessantes, para personagens próximos da realidade, em contextos inusitados
Livro de contos do escritor sergipano Antonio Carlos Viana, falecido em tempos recentes, em meados de 2016. A literatura de Viana é direta, crua, tanto na descrição dos personagens quanto no contexto proposto para eles. O narrador dos contos se mostra como um mero observador, sem tomar partidos, propôr quaisquer análises e/ou reflexões. É o cotidiano mostrado como cotidiano, sem camadas poéticas ou metafóricas. Isso torna, por vezes, o final um tanto abrupto, resultado direto desse relato franco e desnudo.
O título do livro é emprestado de um dos vários contos da obra, povoados por personagens comuns, tirados do dia-a-dia de Aracaju, certamente. São, em sua maioria, personagens complexos, ora povoados por inquietude, ora resignados, uma postura paradoxal diante dos acontecimentos.
A citada crueza na literatura de Viana, todavia, demonstra uma realidade que deveria trazer algum tipo de choque sobre os personagens, principalmente, quando são crianças que aparecem na narrativa, esporadicamente. Daí, quando lembramos que as histórias se passam nos recônditos longínquos do Brasil, e somamos a isso a postura neutra do narrador, o choque, quando presente, se abate sobre o leitor, imponente diante do "final" que se mostra, sem que queiramos o aceitar como tal. O mérito narrativo não está nas conclusões, mas no apresentar de suas premissas e no recheio de sua ambientação.
Viana, escritor contemporâneo infelizmente pouco difundido, era um mestre na arte de narrar a realidade por meio de uma ficção criativa inusitada. Uma ótima experiência literária!
(VIANA, Antonio Carlos. Jeito de matar lagartas. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, 168 páginas)
P.S.: Resenha escrita em 2018.