Resenha: O Clone de Cristo, de J. R. Lankford (Youtube: O Livro da vez por David Thomas)
(Assista esta resenha no canal do Youtube: O Livro da vez por David Thomas)
Análise da Obra
• Título da Obra: O Clone de Cristo;
• Autor/Autora da obra: Jamilla Lankford;
• Editora da Obra: Saída de Emergência;
• Data de publicação: 2014.
Espírito/ Essência da obra:
• Gênero textual: Trama policial;
• Escola Literária/Período literário: Literatura Contemporânea;
• Ambiente físico da obra: Partes em Nova York e partes em Turim, na Itália;
• Tipo de narrador: Narrador onisciente;
• O principal tema do livro é a clonagem, mas também vai abordar temas que eu gosto muito de ler que são o antissemitismo e o racismo.
Enredo:
O Enredo começa com o protagonista da estória, Dr. Felix Rossi, adentrando a catedral renascentista de Turim, Itália. Lá se encontrava o “Sudário de Turim” (O Santo Sudário é um tecido que supostamente cobriu o corpo de Jesus no seu sepultamento). O Santo Sudário já fora submetido duas vezes a investigação científica, essa seria a terceira. Cientista e Cristão, o Dr. Felix Rossi descobre logo no início da narrativa que seus pais eram judeus fugidos da segunda guerra e isso o abala, pois ele não gosta de judeus por terem sido eles (os antepassados, é claro) os responsáveis pela crucificação de Jesus. Isso para ele é algo tão difícil que logo ao ler a carta deixada pelo pai, o narrador diz que o Dr.Feliz Rossi se sentiu afastado daquele casal, distanciado de sua família. Diante disso ele acredita que se os judeus foram capazes de assassinar o salvador, um judeu iria de alguma forma ressuscitá-lo novamente no mundo material (ver página 32). Por um momento de distraimento dos oficiais da Igreja, o Dr. Felix Rossi rouba um pequeno pedaço do tecido do Santo Sudário e só o processo de trazê-lo de Turim a Nova York já é uma saga, especialmente no aeroporto, afinal isso seria importar objetos culturais roubados e era um crime federal, além é claro de uma grande heresia. Com a posse desse tecido, o Dr.Felix Rossi entra em vários conflitos, desde morais, intelectuais e especialmente religioso. É óbvio que o Dr. fará inúmeros questionamentos, tais como: o DNA presente no tecido ainda está intacto depois de tantos anos? Quais podem ser as consequências de uma ação como essa? E uma das principais perguntas: quem será digna de ser a nova "Maria" dentro dessa estória? A primeira pessoa que ele pensa que seria digna é sua própria namorada, mas será que ela aceitaria esse papel? Será que antes de aceitar ou não esse "convite", ela concordaria com o plano de clonar o Cristo? Cabe ao leitor se colocar no lugar do protagonista e entender todas as perguntas que ele podia fazer somente a si mesmo, a respeito de um fato que iria mudar a história das ciências, das religiões, da sua própria vida e especialmente de toda a humanidade. Uma das personagens mais próximas a ele é Frances Rossi, sua única irmã; ao longo da narrativa ela vai aos poucos tentando mudar a visão dele a respeito das origens da sua família que ele tanto despreza. Outra personagem que participa muito das vivências da família Rossi é Maggie Johnson, a empregada dos irmãos que acaba descobrindo a respeito do Santo Sudário e das intenções do Dr.Felix Rossi de clonar Jesus. Além de todos os conflitos e questionamentos que Felix tem que enfrentar, tem ainda que lidar com a perseguição de um jornalista, Jerome Newton, que desconfia do Santo Sudário e das intenções do Dr. Há ainda outro personagem muito enigmático chamado Sr.Brown, um homem cheio de mistérios que mora no mesmo condomínio que o Dr. Rossi. Repleto de segredos e alguém muito poderoso, o Sr. Brown consegue controlar das menores as maiores coisas, tanto dentro do próprio condomínio quanto acontecimentos importantes nacionais e internacionais. Maggie revela ao Dr. Rossi que leu seu diário e também que sabe das suas intenções. Se oferece para ser a nova "Maria" e argumenta sobre os motivos de Deus ter a escolhido para desempenhar esse papel tão importante. No decorrer da leitura o misterioso Sr. Brown acaba revelando algumas profecias realizadas por uma astróloga a respeito de toda trajetória de vida do seu pai e também da dele própria. Não acreditando quando seu pai morreu, ele se surpreende com as revelações e coincidências escritas no papel e os acontecimentos que de fato ocorreram. Quando ele pega seu mapa astral, se surpreende também pelas revelações que coincidem com sua vida, mas se assusta quando lê que sua morte ocorrerá num momento que um antigo rei estiver renascendo. Logicamente ele associa essa previsão às intenções do Dr. Rossi de clonar Jesus, isso nos remete um pouco ao fato ocorrido na era Cristã quando Herodes manda matar várias crianças quando descobre a respeito do nascimento do Salvador. Sam Duffy, o porteiro do condomínio, também descobre os motivos que levaram o jornalista a perseguir Felix e quando ele tenta proteger Maggie Jonhson, ela descobre que aquele porteiro lindo está apaixonado por ela, uma mulher negra. Mas o principal que podemos dizer desse personagem, que tem um papel muito importante na narrativa, é que ele é como um “capanga, faz-tudo” do poderoso Sr. Brown. Quando chegamos no meio do livro os quatro personagens passam a conviver muito juntos (Dr.Felix Rossi, Frances Rossi, Maggie Johnson e Sam Duffy). Desde que Sam descobriu o esconderijo dos Rossi e tentou salvar e se “relacionar” com Maggie, ele passou a estar presente no local constantemente para cuidar dela e também para observar o andamento dos acontecimentos. Além é claro do triângulo amoroso entre Maggie e Sam e Sam e Frances Rossi. Mas fica a principal pergunta que todos devem estar se fazendo: o Dr.Felix conseguiu clonar o Cristo? A resposta é sim, ele clonou o Cristo e Maggie finalmente consegue engravidar. Depois da publicação do artigo de Jerome Newton, podemos ter uma ideia do cenário mundial caso esse evento um dia acontecesse (páginas 268 e 269) através da visão do que ocorre dentro da narrativa. Uma sacada que eu achei muito legal foi a semelhança que a autora quis criar da relação de Maggie Johnson e Sam Duffy com Maria e José. Assim como Sam Duffy, José não era pai de Jesus, mesmo assim o criou; assim como Maria, Maggie Johnson engravidara virgem sem nunca ter se envolvido com um homem. Muito embora os meios que segundo a Bíblia Deus utilizou foram bem diferentes da versão adotada pelo Dr. Felix Rossi. O desfecho do romance é uma verdadeira guerra épica, pois o Sr. Brown, como já imaginávamos, persegue os quatro com o objetivo de eliminar especialmente Maggie e seu filho. O mundo inteiro completamente dividido entre os populares que apoiavam o Clone de Cristo e os senhores de poder e das religiões que não poderiam permitir em hipótese alguma ver seus instituições abaladas. Logo quando Maggie finalmente dá luz ao "novo Cristo" eles têm que fugir, pois a perseguição não acaba. Ironicamente eles recorrem aos familiares judeus dos Rossi e vão para a cidade italiana do Santo Sudário, Turim. Os judeus que mataram Jesus Cristo na primeira vez, agora ajudam a esconder Maggie e o bebê. Por alguns momentos ao longo da leitura imaginei que Maggie Johnson não sobreviveria, mas no fim quem morre é Sam Duffy, deixando Maggie sozinha com a criança.
Minha opinião sobre a obra:
• Logo no início do livro quando o Dr.Felix está examinando o pano e narrando com detalhes como supostamente Jesus Cristo fora morto ao ver as manchas de sangue no Santo Sudário, chega a dar uma aflição só de imaginar todo sofrimento que o Cristo passou;
• A Leitura me lembrou em alguns poucos momentos a obra "Frankenstein", de Marry Shelly. De fato há alguns momentos que a escritora faz algumas referências ao marido da autora inglesa que também era escritor.
Aspectos negativas observados:
1. Ao longo da leitura podemos perceber uma tentativa de promoção da fé cristã. É claro que não há erro nenhum nisso, contudo por se tratar de um romance e não haver nenhuma informação sobre esse detalhe em nenhuma parte do livro, isso pode desagradar um pouco os variados tipos de leitores que entraram e entrarão em contato com a obra. Mesmo sendo um dos personagens principais a figura de Jesus Cristo, creio que a autora poderia ter construído a trama de uma maneira um pouco mais ecumênica;
2. O personagem do Sr. Brown poderia (e eu acho que deveria) ter sido mais explorado pela autora. Seu papel ao longo da narrativa, apesar de ser extremamente forte, não ficou muito bem definido. Na minha humilde opinião de leitor ele é um antagonista encantador, mas que a própria escritora não deu muito crédito e foi o perdendo ao longo da escrita. Creio que a mesma dedicação que ela utilizou para construir os demais personagens do elenco, ela poderia ter utilizado no Sr.Brown também;
3. Depois que Sam Duffy, o porteiro, descobre as intenções e o esconderijo dos Rossi e passa a se relacionar com Maggie Johnson, ele começa a ficar um pouco ousado demais, na minha opinião é claro. Sabe aquele metido a “machão” que gosta de se aparecer para uma mulher usando uma capa de “quero e posso defender você”, pois então. O cara além de estar na casa dos outros, se metendo num assunto que não lhe pertencia, ainda tinha momentos que ele queria bancar o “machão” dentro da própria casa dos Rossi.
Aspectos positivos observados:
1. No memento em que Frances Rossi discute com o irmão sobre sua intenção de clonar o Cristo, ela acaba usando uma argumentação muito sensata da qual eu particularmente concordo muito. Ver página 139;
2. Um detalhe que eu gostei muito no livro foi o papel de destaque que J.R Lankford deu a personagens que costumam ser secundários na maioria das obras e nesse romance ela os protagonizou. Exemplo o personagem de Sam Duffy, um porteiro, que tem um papel muito importante na narrativa assim como Maggie Johnson, uma doméstica que tem um dos principais papeis: a mãe do clone de Cristo;
3. Algo curioso que eu aprendi a respeito dos clones nesse livro é que um clone se assemelha 70% na inteligência do original, mas apenas 50% em características de personalidade. Portanto a personalidade de um clone será boa parte formada por suas próprias vivências.
David Thomas Martinez
São Paulo, 15 de Maio de 2019