Ivanhoé
IVANHOÉ
Miguel Carqueija
Resenha do romance “Ivanhoé”, de Walter Scott. W.M. Jackson Inc. Editores, São Paulo-SP. 1947; Grandes Romances Universais, volume 3.
Quando eu era muito criança escutei falar pela primeira vez em Ivanhoé, pois passava em alguma rádio a sua novela, servida por um tema musical retumbante, Eu nada entendia e creio que minha mãe é que acompanhava. Depois, quando a televisão chegou lá em casa (eu já com uns dez anos) aí sim assisti muito o seriado estrelado pelo Roger Moore, então deu para entender que a luta de Ivanhoé era a mesma de Robin Hood: impedir que o Príncipe John usurpasse o trono de Ricardo Coração de Leão, que se ausentara numa cruzada e acabara sendo aprisionado em algum lugar.
Muitos anos depois assisti finalmente em DVD o filme épico de Pandro S. Berman (1952) estrelado por Robert Taylor, e aí descobri que aquela música da novela radiofônica era do filme, composta por Miklós Rozsa.
Agora finalmente eu li o livro.
Não é, decerto, leve como o seriado, que era infantil, por assim dizer, apresentando uma porção de aventuras avulsas do cavaleiro, dentro da mesma situação congelada: o sumiço de Ricardo e a luta contra a usurpação do príncipe.
O livro é massudo, com diálogos grandiloquentes (mania de grandes autores do século 19) e apresenta (infelizmente) também um viés anticlerical, pois a Igreja é sempre mostrada sob um ângulo depreciativo. Os padres são lascivos, grosseiros, beberrões, comilões, interesseiros, hipócritas. Nem o Frei Tuck escapa. Scott só não iguala as baixarias de Eça de Queiroz.
A trama é complexa e por vezes Ivanhoé ausenta-se dela. Robin Hood, também chamado Locksley, aparece muito, mas interage pouco com o cavaleiro saxão. Muito se fala das desavenças entre saxões e normandos, estes últimos haviam invadido o país tempos atrás. Sir Cedric, pai de Ivanhoé, é um personagem antipático, que expulsa o filho por não concordar com o romance deste com Rowena, tutelada de Cedric.
Rowena fôra prometida em casamento para certo Athelsthane, outro nobre saxão. Mas Rowena não o amava e ele, por sua vez, amava mais aos prazeres da mesa.
Há muitos outros personagens, como o milionário judeu Isaac, que vive chorando miséria e é uma figura cômica; sua filha Rebeca, por quem se apaixona o vilão Bois-Guilbert, nobre normando, inimigo de Ivanhoé; o criado Gurth e o bobo da corte Vamba, amigos de Ivanhoé que também contribuem com o lado de humor da história.
É livro para ser lido, mas com paciência.
Rio de Janeiro, 17 a 27 de janeiro de 2019.
IVANHOÉ
Miguel Carqueija
Resenha do romance “Ivanhoé”, de Walter Scott. W.M. Jackson Inc. Editores, São Paulo-SP. 1947; Grandes Romances Universais, volume 3.
Quando eu era muito criança escutei falar pela primeira vez em Ivanhoé, pois passava em alguma rádio a sua novela, servida por um tema musical retumbante, Eu nada entendia e creio que minha mãe é que acompanhava. Depois, quando a televisão chegou lá em casa (eu já com uns dez anos) aí sim assisti muito o seriado estrelado pelo Roger Moore, então deu para entender que a luta de Ivanhoé era a mesma de Robin Hood: impedir que o Príncipe John usurpasse o trono de Ricardo Coração de Leão, que se ausentara numa cruzada e acabara sendo aprisionado em algum lugar.
Muitos anos depois assisti finalmente em DVD o filme épico de Pandro S. Berman (1952) estrelado por Robert Taylor, e aí descobri que aquela música da novela radiofônica era do filme, composta por Miklós Rozsa.
Agora finalmente eu li o livro.
Não é, decerto, leve como o seriado, que era infantil, por assim dizer, apresentando uma porção de aventuras avulsas do cavaleiro, dentro da mesma situação congelada: o sumiço de Ricardo e a luta contra a usurpação do príncipe.
O livro é massudo, com diálogos grandiloquentes (mania de grandes autores do século 19) e apresenta (infelizmente) também um viés anticlerical, pois a Igreja é sempre mostrada sob um ângulo depreciativo. Os padres são lascivos, grosseiros, beberrões, comilões, interesseiros, hipócritas. Nem o Frei Tuck escapa. Scott só não iguala as baixarias de Eça de Queiroz.
A trama é complexa e por vezes Ivanhoé ausenta-se dela. Robin Hood, também chamado Locksley, aparece muito, mas interage pouco com o cavaleiro saxão. Muito se fala das desavenças entre saxões e normandos, estes últimos haviam invadido o país tempos atrás. Sir Cedric, pai de Ivanhoé, é um personagem antipático, que expulsa o filho por não concordar com o romance deste com Rowena, tutelada de Cedric.
Rowena fôra prometida em casamento para certo Athelsthane, outro nobre saxão. Mas Rowena não o amava e ele, por sua vez, amava mais aos prazeres da mesa.
Há muitos outros personagens, como o milionário judeu Isaac, que vive chorando miséria e é uma figura cômica; sua filha Rebeca, por quem se apaixona o vilão Bois-Guilbert, nobre normando, inimigo de Ivanhoé; o criado Gurth e o bobo da corte Vamba, amigos de Ivanhoé que também contribuem com o lado de humor da história.
É livro para ser lido, mas com paciência.
Rio de Janeiro, 17 a 27 de janeiro de 2019.