S.O.S. Arthur C. Clarke

S.O.S. ARTHUR C. CLARKE
Miguel Carqueija

Resenha do romance “S.O.S. Lua”, de Arthur C. Clarke. Editora Livros do Brasil, Lisboa-Portugal, sem data, Coleção Argonauta 94. Tradução: Jorge Fonseca. Capa: Lima de Freitas. Título do original inglês: “A fall of moondust”.

Clarke, que além de ficcionista era cientista e divulgador científico (seu primeiro livro que eu li, e tinha uns 14 anos, foi “A exploração do espaço”), deixou obra copiosa e é um dos grandes da ficção científica universal. Optou, porém, pela linha chamada “hard”, que foca mais a exatidão científica que o lado humano das histórias.
Clarke fala, pois, num drama humano sim, mas assentado nas possibilidades científicas. A Lua está sendo regularmente colonizada e no lado oculto do satélite existe uma espécie de mar de pó: o Mar da Sede. Um cruzador especial navega nele, em viagens de turismo. Um belo dia um selenomoto joga a embarcação lá para baixo; as pessoas não morrem graças à pressurização. Começa então a operação de resgate mas o primeiro obstáculo é que não se sabe onde o treco foi parar e não é fácil localizá-lo. Vários personagens são então mobilizados, inclusive um sujeito meio complexado.
O Capitão Pat Harris, com sua auxiliar Sue Wilkins (num avião equivaleria a uma comissária de bordo) procura organizar com um prestigiado passageiro, o Comodoro Henesteen, um programa para manter o pessoal distraído enquanto guardam socorro. Esta é a grande falha da história, pois as distrações arranjadas são ridículas e eu, com franqueza, se lá estivesse não tomaria parte. Aliás eram descabidas. Seria melhor se rezassem.
Salta aos olhos também que o autor, escrevendo talvez na década de 50, mostra-se pouco presciente em relação à afirmação feminina. As mulheres são insignificantes na trama e não aparecem em posições importantes, técnicas, científicas ou de outro tipo. Esse machismo inconsciente era típico de grandes autores de FC do século 20, contra a própria evidência dos fatos que já ocorriam ao seu redor.
A novela termina inconclusa, prometendo-se o desfecho em outro livro, “Náufragos da Lua”, que também saiu na Coleção Argonauta; na verdade é o volume seguinte.

Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 2019.