"A árvore aquela" de Vera Pedrosa: uma árvore cercada por um muro
"A árvore aquela", livro de poesia da filosofa, jornalista, dramaturga e poetisa carioca Vera Pedrosa. Publicação da Cosac Naify. A obra traz poemas de Vera com forte apelo autobiográfico. Sobre isso é importante frisar a "árvore" do título. Como construção poética, pode-se dizer que a árvore muitas vezes remete a um número ilimitado de significações/temas, com as raízes representando as origens ou memórias relativas ao respectivo tema e os galhos e folhas como objetos consequentes ao proposto.
Tratam-se de metáforas possíveis e, ao olhar o sumário e o texto de orelha da obra, há uma tentação natural por seguir esse caminho de leitura. Nada mais do que natural. E, na medida em que a leitura avança, com poemas sobre locais visitados pela autora e versos remontando a personagens conhecidos dela, por exemplo, somado a um texto de notas da própria Vera, pra "facilitar" a compreensão dos textos, comprova-se esse caminho de leitura como o mais acertado.
Entretanto, há um problema aqui: o intimismo da poesia. Quando os versos criam uma barreira por meio de metáforas muito íntimas, cria-se um obstáculo que, para ser superado, se sustenta na construção de imagens que, embora sejam bem construídas literariamente, não me tocaram profundamente devido, justamente, ao intimismo exacerbado. Há sim momentos de belas construções líricas mas que, particularmente, quando visto o todo, não me tocaram.
É como se visse num campo uma bela árvore mas, ao me aproximar, um muro impedisse de continuar. Preferiria gozar da sombra da árvore ou colher de seus frutos que, nesta obra, estão bem no topo da copa.
(PEDROSA, Vera. A árvore aquela. São Paulo: Cosac Naify, 2015, 96 páginas)
P.S.: Resenha escrita em 2017.