"Risíveis Amores" de Milan Kundera: um belo exemplar da excelente literatura tcheca
Livro "Risíveis Amores" do escritor tcheco Milan Kundera. Da literatura produzida na República Tcheca conhecia apenas Franz Kafka e foi uma agradável surpresa conhecer os textos desse autor. A obra é composta por sete contos excelentes que tratam, em essência, das relações amorosas ou, mais precisamente, dos desencontros nos relacionamentos. Os contos de Kundera trazem uma dualidade na forma como os personagens encaram a vida. Enquanto tentam levar a existência de uma forma leve, por assim dizer, eles acabam senso sugados para a seriedade do cotidiano, sendo o fator da mudança alguma mentira ou mal-entendido, ou um pensamento retrógrado, ou falta de coragem, etc. Geralmente é algo pequeno esse fator, que faz com que a alegria do amor seja substituída pela tristeza, ou vice-versa. Portanto, o amor sexual, tema que é abordado em todo o livro, as vezes abertamente, outras de forma implícita, surge como o elo entre os apaixonados, capaz de unir ou separar.
Kundera tem uma linguagem clara e muito bem-humorada, sendo o humor marca presente em todos os contos. Por exemplo, o conto "Ninguém vai rir" é, paradoxalmente, engraçadíssimo. Cada conto traz em si algo interessante. Em "Que os velhos mortos cedam lugares aos novos mortos", Kundera conta a história de uma viúva que fracassa na tentativa de salvar um monumento erguido para o marido no cemitério da cidade. Andando pelas ruas, pensando em como contaria para o filho adolescente a notícia quando retornasse para sua terra, ela reencontra um homem que fora apaixonado por ela muitos anos antes, e que ela dispensou. Ele nunca a esqueceu e a convida para seu apartamento. Lá, conversando, ele tenta encontrar na mulher diante dele a mesma mulher que ele conhecera no passado e que, agora, se apresenta fisicamente envelhecida, diferente. Ela, por sua vez, tem dificuldade em se distanciar da tristeza, dos julgamentos que o filho faria dela e, principalmente, do medo de ceder ao homem, destruindo o monumento, a imagem bonita, que esse homem construíra para ela em suas lembranças. Outros contos trazem influência do conceito de "Don Juan", mostrando personagens envolvidos no jogo da conquista, se dando bem ou não. Sobra espaço para tratar também da questão "identidade", de como, nas relações, podemos assumir diferentes papéis, conforme as dificuldades da relação e da vida se apresentam. Até religião é tratada, como em "Eduardo e Deus", conto que encerra o livro e que mostra a história de um professor que finge acreditar em Deus para conquistar uma mulher religiosa, o que acaba não sendo bem visto na escola onde leciona. Afinal, a história (e todos os contos) se passam durante o regime comunista na República Tcheca. Abaixo, deixo um link com uma outra crítica. Enfim, "Risíveis Amores" é um livro excelente". Recomendo muito!!!
Uma outra crítica sobre a obra:
http://lounge.obviousmag.org/semiotizando/2012/06/risiveis-amores-de-milan-kundera.html
(KUNDERA, Milan: tradução de Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca; revisão da tradução por Edison Darci Heldt e Paula Maria Rosas. Risíveis amores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, 236 páginas)
P.S.: Resenha escrita em 2015.