[Resenha] A Tempestade - William Shakespeare
A Tempestade é uma comédia escrita por William Shakespeare. Estudiosos da obra shakespeariana afirmam ser a última peça escrita pelo autor.
A peça inicia com uma cena tensa: tempestade, relâmpagos e trovões. Estando presente um navio no meio da tempestade. Passamos a conhecer Alonso, rei de Nápoles; Sebastião, seu irmão; Ferdinando, o filho do rei; Antônio, o duque de Milão; Gonzalo, o conselheiro do rei; além dos marinheiros do navio.
Em outro local da história, há prosperidade, o duque de Milão, quer executar seu plano para retomar seu título usurpado pelo seu irmão Antônio. Próspero vive nessa ilha com sua filha Miranda, Ariel e Caliban, dois escravos.
O protagonista Próspero é intrigante. A forma que ele conduz a sua vingança faz-nos repensar nessa dualidade herói como símbolo da bondade e o vilão como da maldade. Próspero não é totalmente bondoso, podendo se observar no início do texto, o mesmo mostra seu poder através da manipulação e magia. É o próprio que conjura a tempestade para que ocorra o naufrágio e a chegada de seus inimigos na ilha.
MIRANDA – Que os céus o abençoem, meu pai. Agora peço que o senhor me responda, pois isto ainda lateja em meu pensamento: por que razão promoveu o senhor essa tempestade no mar?
PRÓSPERO – Por acidente dos mais bizarros, a Fortuna, deusa liberal e cega (minha amada Companheira), encarregou-se de trazer meus inimigos a esta praia.
PRÓSPERO – Você executou, espírito, a tempestade que encomendei? Nos mínimos detalhes?
ARIEL – Em todos os seus artigos, cláusulas e itens.
PRÓSPERO – Meu bom espírito, quem seria firme, equilibrado, que não se deixasse infectar em seu juízo por essa confusão?
ARIEL – Não houve viva alma que não sentisse a febre da loucura, que não entrasse em desespero. Todos que não eram marinheiros atiraram-se nas espumas da água salgada, abandonaram o navio; comigo incandescente, o filho do Rei, Ferdinando, foi o primeiro a jogar-se ao mar; gritou “O Inferno está vazio, e os demônios estão aqui”.
Próspero manipula Ferdinando e Miranda a se apaixonarem, em uma intenção do escritor em demonstrar como funcionava os casamentos por interesse na época. Com a união, o protagonista conseguiria formar a aliança de dois reinos fortes (Próspero é o Duque de Milão legítimo, Miranda, sua herdeira, e Ferdinando é o príncipe de Nápoles). Esse tipo de “negociação” no casamento era comum, principalmente nos governos monárquicos.
PRÓSPERO (dirigindo-se a Ferdinando) – Se exigi de você uma disciplina de excessiva austeridade, isso fica retificado sua compensação, lhe entreguei um terço de minha própria vida, ou minha própria razão de viver, de quem uma vez mais eu ofereço a mão, para a sua mão. Todas tuas humilhações foram meu modo de testar o teu amor, e tu passaste admiravelmente em todas as provas. Para ela todo elogio é pouco e diante dela qualquer elogio será deficiente.
FERDINANDO – Nisso eu acredito, mesmo que o contrário me dissesse um oráculo.
PRÓSPERO – Toma, como meu presente e aquisição tua, por ti merecidamente conquistada. Se lhe desatares o nó da virgindade antes de ministradas todas as sagradas cerimônias, com todos os rituais santificados a que ela tem direito, e em sua integridade, os céus não poderão aspergir sobre vocês as doces promessas que farão vingar esse contrato.
Outro tipo de manipulação por Próspero foi a escravização do espírito Ariel e do selvagem Caliban. Shakespeare é um homem do século XVI(16), período que a expansão marítima está em pleno desenvolvimento. A escravidão dessas personagens mostra o impacto das conquistas efetuadas pelos europeus. Ariel e Caliban são seres da ilha, como habitantes do Novo Mundo, conquistados pelos povos europeus. Próspero possui o comportamento dos conquistadores, aproveita-se do conhecimento que Caliban tem da ilha, instala-se na terra nova e o escraviza para que este realize as tarefas braçais.
PRÓSPERO – Tu, escravo venenoso, gerado pelo próprio demônio dentro de tua monstruosa mãe, aparece.
Entra Caliban.
CALIBAN – Que caia sobre vocês o orvalho da madrugada, tão amaldiçoado como o que minha mãe colhia, com uma pena de corvo, de um pântano insalubre. Que bafeje em vocês a umidade do vento sudoeste e que ele os cubra de feridas pustulentas.
Como toda comédia, existem cenas engraçadas e o final feliz. A narrativa é envolvente e fascinante. A linguagem de Shakespeare, apesar de distante da nossa, conseguimos nos adaptar à beleza de sua linguagem nas primeiras páginas.
A Tempestade é uma leitura essencial, de temática atual e muito reflexiva.