"Um copo de cólera" de Raduan Nassar: um dos grandes clássicos da literatura brasileira
A obra nos traz um embate verbal de um casal, desencadeado por um acontecimento frívolo, que vai crescendo até atingir o ápice da fúria. O modo mordaz como as provocações e ofensas, entre o homem e a mulher, vão se desenvolvendo, é de uma eloquência ímpar, orgasmática, com construções textuais ricas de lirismo. O final é totalmente imprevisível. Embora seja pequeno em número de páginas, o livro requer uma leitura mais morosa e atenta, primeiro para capturar todo o significado e essência de seu rico vocabulário e, segundo, pelo prazer que sua leitura fomenta. Tal como um bom vinho ou uma boa cerveja artesanal, é leitura para ser apreciada em pequenas doses. Magnífico!
Nassar possui uma trajetória meio estranha, mas fascinante, no mercado editorial brasileiro. Na década de 70, escreveu dois livros que entraram para a história por sua qualidade e, depois, desgostou da Literatura, abandonando-a. Foi se dedicar à vida no campo, indo viver em sua fazenda. Anos depois, desgostou novamente, e doou a propriedade para uma universidade, de novo surpreendendo todos. Avesso à popularidade, Raduan nunca se acostumou com os holofotes.
Em tempos recentes, recebeu ataques injustos de muitas pessoas, ao fazer críticas ao governo do pulha e corrupto Michel Temer, durante a cerimônia de entrega do Prêmio Camões, uma das maiores honrarias que um escritor em língua portuguesa pode receber. Na ocasião, foi criticado pelo então Ministro da Cultura (!), Roberto Freire, que, recentemente, foi citado no esquema de corrupção do "Mensalão do DEM". Enfim, nada que possa, obviamente, manchar o legado literário e biográfico do escritor.
(NASSAR, Raduan. Um copo de cólera. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, 5ª edição, 85 páginas)
P.S.: Resenha escrita em 2017.