"The ghost in the shell" de Masamune Shirow: uma obra-prima do universo cyberpunk
"The Ghost in the Shell", mangá de Masamune Shirow, uma das obras mais significativas dentro do chamado cyberpunk, subgênero da Ficção Científica, que tem como característica o vislumbre de um futuro onde a tecnologia avança e se desenvolve em concomitância com a degradação das relações sociais como um todo. Pensei em escrever uma resenha depois de assistir as duas adaptações feitas dessa obra: o filme com a Scarlett Johansson, lançado nesse ano nos cinemas, e o anime de 1995, que assisti no ônibus durante uma viagem recente. O anime é mais fiel que o filme ao mangá que inspirou ambos. Na história, a Major Motoko Kusanagi é a mais avançada ciborgue já criada, atuando numa divisão do governo que combate o terrorismo cibernético. Durante investigações sobre um criminoso virtual e seus ataques, ela mergulha num conjunto de reflexões, levando-a por um caminho imprevisível e perigoso".
A arte de Shirow é bela e detalhada, principalmente na ambientação. As cidades não possuem verde, sendo marcadas por edifícios, pessoas apáticas, com ruas sujas e cheias de propaganda, muito cinza, fumaça. Esse ambiente poluído/desolador é bem retratado no anime e no filme. Quanto ao texto, há um "problema" no ritmo. Shirow inunda as páginas com explicações sobre tecnologia e os conceitos que ele apresenta/trabalha, apresentados nos diálogos e em notas de rodapé. Isso torna a leitura morosa, tendo que, as vezes, reler páginas para uma melhor compreensão da trama. Isso não chega a comprometer a experiência literária devido à profundidade dos termos abordados na obra. Afinal, uma "pessoa que possui a maior parte do corpo composta por partes cibernéticas ainda é humana?", "Um ciborgue que tivesse um cérebro biológico, poderia ser considerado uma máquina, visto que tem consciência de si próprio (ou "alma", ou "ghost", termos usados no mesmo sentido)?", "Como definir a individualidade da mente, do 'eu', se as memórias tiverem sido implantadas artificialmente?", "Se o 'eu' interior pudesse ser criado artificialmente e copiado, quais as implicações disso?", "Qual a definição de vida?", "Se a Ciência pudesse construir todo um ser humano artificialmente, incluindo aí o seu 'eu interior', estaríamos criando vida? Seria isso uma forma de vida?", etc.
"The Ghost in the Shell", tanto o mangá quanto o anime/filme, é influenciada por outras obras cyberpunk anteriores. A mais perceptível é o filme "Blade Runner', de 1982. Por sua vez, a obra de Shirow influenciou várias outras obras, sendo a mais famosa o filme "Matrix", de 1999 (com seu letramento verde em um fundo preto, no anime; cabos que saem da cabeça, etc.). A seguir, deixo um trecho do anime, tão bom quanto o mangá (que demorou mais de 20 anos para ser lançado no Brasil), movido pela estranha e hipnótica música de um cara chamado Kenji Kawai. Muito bom!!!
Link: https://www.youtube.com/watch?v=yrODlC03X0Y
(SHIROW, Masamune: arte e roteiro de Masamune Shirow; tradução de Drik Sada. The ghost in the shell. São Paulo: JBC (Kodansha), dezembro de 2016, 352 páginas)
P.S.: Resenha escrita em 2017.