"Bartleby, o escriturário" de Herman Melville: prefiro não deixar de resenhar...

Livro do escritor estadunidense Herman Melville, mais conhecido pela autoria do clássico "Moby Dick". Pequena em tamanho (umas 80 páginas) e gigante em qualidade, a obra conta a história de Bartleby, um sujeito de pouquíssimas palavras e de cuja vida ninguém sabe nada, que é contratado para trabalhar num escritório de advocacia. Certo dia, seu chefe (que é quem narra a história) lhe dá uma tarefa e Bartleby responde com um singelo "Prefiro não fazer". Essa negativa, esse ato de insubordinação, deixa seu chefe e colegas perplexos. A perplexidade aumenta quando Bartleby, certo dia, diz que "prefere não fazer o trabalho", negando-se contudo a abandonar o emprego, o que leva seu chefe a iniciar uma investigação sobre os hábitos do sujeito que, após certo tempo, resolve inclusive morar no escritório. Uma mistura de sentimentos como raiva, piedade e empatia, em relação ao empregado, deixam o chefe do escritório sem saber como agir.

Tido como um dos melhores contos da história, ao longo das décadas, inúmeros estudos e críticas foram feitos sobre a história, considerada uma das precursoras do absurdismo na Literatura, temática que caracterizaria a obra de outros escritores posteriores como o tcheco Franz Kafka (de quem sou fã). Com o passar dos anos, surgiu a expressão "Síndrome de Bartleby", usada para definir aqueles escritores que, uma vez atingido o ápice literário, desistem de escrever. No Brasil, temos o exemplo de Raduan Nassar. O próprio Melville não escapou disso: famoso por escrever aventuras no início da carreira literária, quando começou a escrever obras mais profundas, com temas mais reflexivos, seus leitores o abandonaram, o que o levou a deixar de lado a vida de escritor. Há quem veja ainda em Batleby um grito de resistência contra o imperialismo/capitalismo. A verdade é que, num universo cheio de violência, mentiras, ganância, tédio, tristeza, a singela negação de Bartleby é o que mais causa desconforto e problemas. É essa ironia que torna o conto de Melville tão fascinante.

(MELVILLE, Herman: tradução de Cássia Zanon. Bartleby, o escriturário: uma história de Wall Street. Porto Alegre: L&PM, 2008, (Coleção L&PM Pocket; volume 337), 96 páginas)

P.S.: Resenha escrita em 2016.

Manoel Frederico
Enviado por Manoel Frederico em 02/04/2019
Reeditado em 20/04/2019
Código do texto: T6613600
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