Resenha: A Tormenta de Espadas, de George R.R Martin. Youtube: O Livro da vez por David Thomas
Análise da Obra
Informações técnicas da obra:
• Título da Obra: A Tormenta de Espadas (Livro 3);
• Autor/Autora da obra: George R.R. Martin;
• Editora da Obra: Leya;
• Data de publicação: 2000.
Essência da obra:
• Gênero textual: Fantasia para adultos com forte conteúdo violento, sexual, incesto;
• Escola Literária/Período literário: Literatura Contemporânea;
• Ambiente físico e temporal da obra: Passa-se no continente fictício de Westeros e agora entra um novo continente chamado Essos;
• Tipo de narrador: Narrador em terceira pessoa com a utilização de Fluxo de Consciência (cada personagem tem sua própria voz na narrativa).
Enredo:
A narrativa já começa praticamente de onde terminou o volume dois: quando os Patrulheiros da noite sofrem um ataque dos “Viajantes Brancos” ou “Os Outros”, já que eles sairam rumo à Floresta Assombrada, além da Muralha. Jon Snow é capturado pelos “Selvagens” e encontra o famoso Mance Rayder, “O Rei para lá da Muralha” e podemos dizer que a imagem que faziamos dele como um ser medonho, terrível e cruel, contrasta muito com o personagem atual narrado nesse volume por George R.R. Martin; mas Jon Snow só está fingindo ter se aliado aos selvagens para colher mais informações sobre seus reais planos; contudo sem nem se dar conta, Jon Snow vai acabar se envolvendo com Ygritte, uma selvagem, desde então seu coração vai ficar completamente divido entre o seu relacionamento e sua lealdade aos “Corvos”. Ele mesmo gostando dela, escolhe a Patrulha e mesmo Ygritte não sendo uma das principais personegens, o capítulo em que ela morre é bem triste, afinal de contas foi a primeira mulher de Jon Snow e também a primeira que ele transou, se envolveu e por que não? Também amou. Catelyn Stark é presa por libertar Jaime Lannister na esperança de que assim os Lannister devolveriam suas filhas, Sansa e Arya. Brienne, a mandado de Catelyn Stark, vai a uma jornada extremamente perigosa com o objetivo de levar Jaime Lannister até Porto Real e voltar com as garotas Stark. Nessa jornada os dois são capturados e Jaime Lannister acaba perdendo uma de suas mãos. Arya Stark também permanece em sua jornada rumo a Correrio para encontrar o irmão Robb Stark. Algo curioso que acontece com ela, com o irmão mais novo Bran e Jon Snow é o fato deles continuarem sonhando que são animais, Lobos e Corvos por exemplo. Margaery Tyrrel e sua vó convidam Sansa Stark para um jantar. Conforme acontecera no livro anterior: Rei Joffrey anulou seu casamento com Sansa Stark para se casar com Margaery Tyrrel. Nesse jantar a família Tyrrel trata Sansa com muita delicadeza e parece que a jovem e sua avó estão muito curiosas para saber a verdadeira personalidade de Joffrey Baratheon. A situação de Sansa Stark em Porto Real parece ter começado a melhorar após a chegada de Margaery Tyrrel. Por incrível que pareça, essa que deveria ser sua rival (pois foi graças a ela que o Rei Joffrey Baratheon desistiu de seu casamento com Sansa Stark), tem se mostrado uma verdadeira amiga. Amiga a tal ponto de querer casá-la com o aleijado primo: Willas Tyrrel. Sansa se surpreende pois para ela quem a desejava (e vice versa) era Sor Loras; ela fica um pouco frustrada ao saber que não era exatamente desse “Tyrrel” que se tratava, diferente da série exibida pela HBO que é com ele que a família Tyrrel queria que ela casasse. No livro Sor Loras não pode se casar com Sansa Stark ou nenhuma outra mulher por ter entrado na Guarda Real e feito um juramento. O motivo que o levou a entrar para a Guarda Real foi exatamente sua homossexualidade. Recusando a tão esperada oportunidade de fugir de Porto Real, ela é pega de surpresa quando Cersei Lannister a obriga a se casar com o anão e irmão, Tyrion Lannister, a mandado do pai, Tywin Lannister. Contudo mais uma vez Tyrion Lannister vai provar, novamente, ser o único Lannister que vale o que come. Tratando Sansa Stark como uma verdadeira “Lady” e respeitando o tempo dela pra fazer sexo com ele. Sansa Stark finalmente consegue se livras das garras da casa Lannister e acaba indo parar no Ninho da Águia, presenciando a morte de sua tia Lysa Arryn. Tywin Lannister (após salvar todos da batalha da Água Negra), resolve humilhar Tyrion Lannister ainda mais, desconsiderando todo o empenho do filho que por sinal, se não fosse por ele essa batalha já teria sido perdida muito antes de Tywin Lannister chegar com sua tropa. Daenerys Targaryen está a caminho da Cidade Livre, Astapor, no continente de Essos para tentar comprar “Os Imaculados” ( um exército dessa cidade que vive sob uma extrema disciplina e exclusiva obediência às ordens de seu senhor. Não há ordem dada a um Imaculado por seu senhor que ele não obedeça.). Comprando esse exército ela planeja utilizá-lo para reconquistar o Trono de Ferro. Sor Jorah não resiste e finalmente a beija no navio rumo a Astapor. Daenerys Targaryen demonstra gostar do beijo apesar de vê-lo somente como um grande amigo. Chegando em Astapor e tentando negociar a compra dos "Imaculados", o preço que o Senhor de escravos de Astapor irá cobrar pelos Imaculados será nada menos que um dos Dragões de Daenerys Targaryen. Enganando todos, ela não somente ganha a lealdade dos Imaculados como faz com que seus Dragões queimem todos os crueis mestres e senhores de Astapor, libertando todos os escravos. Ela reflete bastante sobre o beijo que Sor Jorah lhe deu e num determinado momento ela acaba tendo uma experiência sexual com uma de suas leais servas. Após conquistar Astapor, Daenerys agora parte junto com seu povo e os Imaculados para outra cidade livre, Yunkai, conseguindo conquistá-la também e libertando uma tsunâmi de escravos livres por onde passa. Há uma profecia que diz que “Daenerys Targaryen terá três traições; uma por sangue, uma por ouro e uma vez por amor”, ao longo desse volume descobrimos que Sor Jorah é a traição do amor. Daenerys Targaryen exília Sor Jorah por conta de sua traição de amor. Sabendo que Yunkai e Astapor caíram após sua retirada, deixando seus escravos libertos, mas passando fome e morrendo, ela decide que em Meerren será diferente. Ficará até seu povo se recompor, se adaptar e reerguer, assim como aguardará o crescimento de seus filhos: os Dragões. Pela primeira vez o dom de Bran Stark recebe um nome na saga, Bran Stark e seus 2 irmãos são “Wargs”. Um Warg é uma pessoa que possui a habilidade de entrar na mente de um animal, compartilhar sua percepção de mundo através dos sentidos ou até controlar suas ações. O ato de fazer isso é chamado de "trocar a pele". Trocar a pele é uma habilidade distinta da “visão verde”, a capacidade psíquica de enxergar eventos futuros e passados em sonhos. Porém, algumas pessoas que são Wargs também podem possuir a visão verde. Robb Stark retorna e salva sua mãe, presa por ter libertado Jaime Lannister. Contudo volta casado com Jeyne Westerling, causando um grande problema para sua estratégia de batalha, já que no volume anterior "A Fúria dos Reis", ele havia prometido se casar com uma das filhas de Walder Frey, da casa Frey. Essa traição irá acarretar um dos eventos mais tristes e importantes de toda a saga: O Casamento Vermelho. Prometendo se casar com uma das filhas de Walder Frey, Robb Stark quebra esse juramento quando conhece, se apaixona e casa com Jersey. Walder Frey mente, dizendo que perdoaria a quebra de juramento se Edmure Tully se casasse com uma de suas filhas no lugar do sobrinho. Aceitando a proposta Frey, todos viajam para “As Gêmeas”. Na noite do casamento, inacreditavelmente Catelyn Stark e seu filho, Robb Stark são assassinados durante a celebração por Walder Frey e toda sua família (mas nas últimas linhas desse volume descobrimos que Catelyn Stark, de alguma maneira milagrosa sobreviveu ao Casamento Vermelho). Uma diferença que não pode deixar de ser observada é que na série exibida pela HBO, a mulher de Robb Stark, Jersey, também se encontra no casamento e é assassinada junto com os demais, inclusive ela é uma das primeiras a morrer; já no livro ela não se encontrava no casamento, se salvando da terrível chacina Stark. No livro muito pelo contrário, pois após a morte do Rei Joffrey, seu irmão mais novo que sobe imediatamente ao Poder, acaba dando perdão a família dela. Se casar no terceiro volume das Crônicas de Gelo e Fogo não parece ser uma boa ideia, pois outro casamento termina em tragédia nesse livro: O casamento Real de Joffrey Baratheon e Margaery Tyrrel, sendo ele envenenado e morto. É claro que todos esperávamos por isso, contudo o problema é que esse evento vai acabar arrastando Tyrion Lannister, pois Cercei Lannister o acusa de matar o filho. Enquanto Tyrion Lannister é julgado pelo assassinato do Rei Joffrey, surpreendentemente Shae testemunha contra aquele que ela tanto jurou amar. Jaime Lannister salva o irmão da morte, contudo antes de fugir, Tyrion se vinga de Shae, matando-a e do pai, Tywin Lannister, assassinando-o também. Menos a união de Lysa Arryn que pela falta de sangue, foi até cômica. Confesso que dei muitas risadas com esse casamento. Após poucos dias do casamento de Lysa Arryn com Petyr Baelish, ele mata sua esposa, jogando-a pela tão famosa Porta da Lua no momento em que ela ameaçava jogar a sobrinha, Sansa Stark. Mas sem antes ela trazer uma revelação de um fato que desde o primeiro livro todo leitor quis saber: quem matou Jon Arryn? Foi exatamente Petyr Baelish, mandando Lysa Arryn envenená-lo. Imagina só Lord Eddard Stark descobrir que sua cunhada era a assassina que ele tanto desejava descobrir. O fanatismo que Melisandre conseguiu embutir em Stannis Baratheon pelo seu Deus vermelho tem crescido cada vez mais; tanto que agora, segundo as visões que a Sacerdotiza têm tido nas chamas, eles precisam queimar o sobrinho bastardo, filho de Robert Baratheon, para despertar o Dragão. Ao que parece ele não será a única vítima (e de fato não foi) a ser sacrificado em nome desse Deus que mais se parece com o Demônio. Essa religião se parece demais com os Protestantes da nossa atualidade, tanto pelo fanatismo e pelas crenças absurdas e contraditórias de seus adeptos quanto por ser uma religião dualista. Stannis Baratheon é o único Rei a ajudar e salvar a Muralha e os Patrulheiros da noite. Ele muda completamente a posição de Jon Snow, mudando seu nome para Jon Stark e dando lhe Winterfell. A ânsia de Stannis Baratheon pelo trono chega ao limite quando ele decide fazer um acordo com os Selvagens e até mesmo com os gigantes, desde que eles o aceitem como seu Rei e adotem o Deus Rollor, Deus do fogo e único, como seu Deus.
Minha opinião sobre a obra:
• Enquanto Tyrion Lannister permanece em sua insistente vontade inconsciente de provar ao pai sua competência, Tywin Lannister faz questão de mostrar seu repúdio ao filho e fica claro que não há nada que Tyrion possa fazer para mudar essa triste realidade. Realidade que se instalou sobre ele desde o dia de seu nascimento com a morte de sua mãe no parto;
• Sansa Stark que sempre se mostrou uma personagem chata, extremamente fútil e mimada, nesse volume amadureceu mais. Segundo ela própria esse amadurecimento se deve a decapitação de seu pai, Eddard Stark, do qual ela cruelmente testemunhara;
• Um dos aspectos que mais me chamaram atenção nesse volume é o terrível regime de treinamento dos Imaculados em Astapor;
• Num momento em que um “Patrulheiro” morre além da Muralha, os “Corvos” queimam seu corpo numa fogueira. Samwell Tarly sente fome ao sentir o cheiro do corpo do colega queimando;
• Encarregada por Catelyn Stark a devolver, Jaime Lannister, a sua família em Porto Real, Brienne continua monstrando ser melhor cavaleiro do que muitos homens. Mas o que é mais lindo é a relação de amizade que ambos vão construindo ao longo dessa jornada e até o péssimo cárater Lannister parece abrir espaço para um coração melhor em Jaime;
• O “Casamento Vermelho”, quando Catelyn e Robb Stark são assassinados por Walder Frey, refleti mais uma vez sobre a trajetória cruel que essa família foi destinada. Catelyn perdeu o marido, morreu acreditando que seus dois filhos menores e Arya Stark também estavam mortos, recebeu a péssima notícia que sua filha, Sansa Stark, teve que se casar com uma das pessoas que ela mais detestava e ainda por cima teve que morrer vendo seu filho mais velho sendo assassinado junto com ela; sem poder fazer absolutamente nada;
• Assim que Jaime Lannister retorna para Porto Real e descobre durante o caminho da morte do filho, Joffrey Baratheon, o seu completo descaso é algo de se chamar atenção. Mesmo que eles nunca tiveram uma relação pai e filho, Joffrey ainda assim era seu filho. Ele estava mais preocupado em ver sua irmã e amada Cercei Lannister; tanto que os dois fazem sexo no altar dos deuses mesmo estando todos de luto.
• Aspectos negativas observados:
1. Uso de muito palavrão e termos que podem ofender alguns leitores, especialmente mulheres. Mas apesar de incomodar um pouco, por incrível que pareça isso coloca um tempero a mais ao longo da leitura. Lembrando é claro que por esses e outros aspectos a saga não é recomendada a menores de idade;
2. Theon Greyjoy que no último volume teve uma importância crucial ao longo da narrativa, neste terceiro volume não apareceu tanto e se quer teve muita citação a respeito dele. Diferente da terceira temporada da série na HBO que ele continuou tendo bastante participação;
1. Os capítulos de Jon Snow estavam muito exaustivos, cansativos e monótonos. Dava preguiça de lê-los, tanto que sempre que chegava o capítulo dele eu não conseguia continuar a leitura, tinha que dar uma pausa. Quase como uma “Ressaca literária” pós leitura.
• Aspectos positivos observados:
1. Toda a construção narrativa do George R.R Martin é impecável, cada detalhe é muito bem descrito, nos transportando de fato para dentro de todo o Universo da Saga;
2. Até mesmo detalhes que podem ser usados como uma crítica negativa,tais como as mortes inesperadas de personagens muito importantes, o uso de palavrões, etc colocam uma energia no enredo de forma que é impossível não ter algum sentimento durante a leitura, desde amor, empatia, raiva e principalmente nos fazendo refletir sobre muitos aspectos da nossa própria realidade.
Minha nota é: Excelente!
OBS: Realmente o melhor volume da saga até o momento.