O rei imponderável
O REI IMPONDERÁVEL
Miguel Carqueija
Resenha da coletânea “O rei de amarelo”, de Robert W. Chambers. Editora Clock Tower, 2015. Tradução: Claudio Doppler. Título original: “The king in yellow”. Introdução de Elias A. Souza. No apêndice textos de Ambrose Bierce, Edgar Allan Poe e Gustave Nadaud.
Primeiramente desejo tranquilizar os leitores com relação à “ameaça” que acompanha o volume, ou seja, a lenda de que essa obra enlouquece quem a lê. Bem, eu li o livro e acho (sic) que não fiquei louco. E, com franqueza, as quatro histórias desfocadas que compõem a coletânea, e onde o “Rei Amarelo” é uma vaga presença — me parecem muito menos enlouquecedoras que os contos de H.P. Lovecraft, de quem li vários livros.
“O reparador de reputações” é uma história esquisitíssima passada no futuro — isto é, em 1920, pois Chambers escrevia em fins do século 19. Trata-se portanto de horror misturado com ficção científica. A meu ver é uma distopia, pois nesse futuro o governo norte-americano autorizou o suicídio e mandou instalar uma câmara letal (sic) em cada cidade do país.
Chambers tem um estilo escorreito e sabe criar personagens estranhíssimos, como o Sr. Wilde, que passa a vida tendo brigas terríveis com uma gata.
“A máscara” é uma história de fatídica alquimia que lembra vagamente a imaginação obsessiva de um Edgar Allan Poe. Um sujeito inventa um fluido capaz de transmutar animais e plantas em estátuas marmóreas — o que obviamente não dá bom resultado.
“No átrio do dragão” é uma narração angustiante, onde um homem procura fugir da vingança de um inimigo que primeiro surge como um demoníaco organista.
Afinal “O símbolo amarelo” é outra história desesperadora, onde a ameaça imponderável surge na pessoa de um homem parado no pátio de uma igreja, avistado de seu ateliê por um pintor que no momento trabalha com uma modelo. Em todas as histórias fala-se no Rei Amarelo sem que se consiga descobrir do que se trata. Chambers é hábil, sem dúvida, em manter o mistério até o final.
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Além do livro propriamente de Robert W. Chambers (1865-1933) aparecem em apêndice trabalhos de outros autores góticos.
“Um habitante de Carcosa” (An inhabtant of Carcosa) — publicação original de 1886 — é um conto mediúnico bem sinistro e impressionante. O autor, Ambrose Bierce, é um nome clássico do fantástico norte-americano. Carcosa é um desses lugares fictícios, também utilizado por Chambers, repleto de conotações macabras.
“A máscara da morte rubra” é uma vinheta bem conhecida de Edgar Allan Poe, aliás filmada duas vezes por Roger Corman. Uma região é assolada pela terrível praga conhecida como a morte vermelha. O Príncipe Próspero fecha-se em seu castelo com seus cortesões e espera com isso escapar ao flagelo. Todos passam o tempo em festas e dissipações... mas a terrível Morte Rubra, personificada como um vulto humano, ali penetrará... conto sensacional, é uma obra-prima.
“Carcassona”, de Gustave Nadaud, é um poema e fala de uma cidade francesa que realmente existiu e consta que dela existem lendas fantásticas; esse nome é que tem originado a fictícia Carcosa.
“Haita, o pastor” é outro título de Ambrose Bierce (1893). Fala de um pastor que se apaixona por uma jovem misteriosa mas que só lhe aparece para ausentar-se em seguida, num ciclo angustiante.
Rio de Janeiro, 5 a 10 de março de 2017.
O REI IMPONDERÁVEL
Miguel Carqueija
Resenha da coletânea “O rei de amarelo”, de Robert W. Chambers. Editora Clock Tower, 2015. Tradução: Claudio Doppler. Título original: “The king in yellow”. Introdução de Elias A. Souza. No apêndice textos de Ambrose Bierce, Edgar Allan Poe e Gustave Nadaud.
Primeiramente desejo tranquilizar os leitores com relação à “ameaça” que acompanha o volume, ou seja, a lenda de que essa obra enlouquece quem a lê. Bem, eu li o livro e acho (sic) que não fiquei louco. E, com franqueza, as quatro histórias desfocadas que compõem a coletânea, e onde o “Rei Amarelo” é uma vaga presença — me parecem muito menos enlouquecedoras que os contos de H.P. Lovecraft, de quem li vários livros.
“O reparador de reputações” é uma história esquisitíssima passada no futuro — isto é, em 1920, pois Chambers escrevia em fins do século 19. Trata-se portanto de horror misturado com ficção científica. A meu ver é uma distopia, pois nesse futuro o governo norte-americano autorizou o suicídio e mandou instalar uma câmara letal (sic) em cada cidade do país.
Chambers tem um estilo escorreito e sabe criar personagens estranhíssimos, como o Sr. Wilde, que passa a vida tendo brigas terríveis com uma gata.
“A máscara” é uma história de fatídica alquimia que lembra vagamente a imaginação obsessiva de um Edgar Allan Poe. Um sujeito inventa um fluido capaz de transmutar animais e plantas em estátuas marmóreas — o que obviamente não dá bom resultado.
“No átrio do dragão” é uma narração angustiante, onde um homem procura fugir da vingança de um inimigo que primeiro surge como um demoníaco organista.
Afinal “O símbolo amarelo” é outra história desesperadora, onde a ameaça imponderável surge na pessoa de um homem parado no pátio de uma igreja, avistado de seu ateliê por um pintor que no momento trabalha com uma modelo. Em todas as histórias fala-se no Rei Amarelo sem que se consiga descobrir do que se trata. Chambers é hábil, sem dúvida, em manter o mistério até o final.
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Além do livro propriamente de Robert W. Chambers (1865-1933) aparecem em apêndice trabalhos de outros autores góticos.
“Um habitante de Carcosa” (An inhabtant of Carcosa) — publicação original de 1886 — é um conto mediúnico bem sinistro e impressionante. O autor, Ambrose Bierce, é um nome clássico do fantástico norte-americano. Carcosa é um desses lugares fictícios, também utilizado por Chambers, repleto de conotações macabras.
“A máscara da morte rubra” é uma vinheta bem conhecida de Edgar Allan Poe, aliás filmada duas vezes por Roger Corman. Uma região é assolada pela terrível praga conhecida como a morte vermelha. O Príncipe Próspero fecha-se em seu castelo com seus cortesões e espera com isso escapar ao flagelo. Todos passam o tempo em festas e dissipações... mas a terrível Morte Rubra, personificada como um vulto humano, ali penetrará... conto sensacional, é uma obra-prima.
“Carcassona”, de Gustave Nadaud, é um poema e fala de uma cidade francesa que realmente existiu e consta que dela existem lendas fantásticas; esse nome é que tem originado a fictícia Carcosa.
“Haita, o pastor” é outro título de Ambrose Bierce (1893). Fala de um pastor que se apaixona por uma jovem misteriosa mas que só lhe aparece para ausentar-se em seguida, num ciclo angustiante.
Rio de Janeiro, 5 a 10 de março de 2017.