1984
1984 na Livraria Nobel – Vinhedo
“Quem controla o passado controla o futuro. E quem controla o presente controla o passado.” (1984)
Quando a depressão econômica se espalhou pelo mundo nos anos 30 e 40, quando velhos desentendimentos viraram guerras, Orwell tinha muito para observar e escrever. Foi um momento brutal da história do mundo.
Anos depois, ao escrever “1984”, isolado na casa da ilha, refletindo sobre duas décadas de guerras mundiais, genocídio e torturas que haviam passado, Orwell projetou estes elementos terríveis no futuro. E se acontecer? – ele pensou – e se? E se um tirano pegasse a idéia do minuto de silêncio comum para lembrar os mortos e alterasse o conceito?...
TRAIDOR! TRAIDOR!
O exercício “Dois Minutos de Ódio’ atraía até o mais relutante... com seu medonho êxtase de medo e vingança... um desejo de matar, de torturar... de esmagar rostos com um martelo... Traidor! Traidor!!!
Isto é uma amostra do humor negro de Orwell, um humor forçado. Em vez de um minuto para lembrar os mortos, você tem dois minutos para desejar que os outros morram.
“Na vasta maioria dos casos não havia julgamento, nem notícia da prisão. As pessoas geralmente desapareciam, sempre durante a noite. O nome do cidadão era removido dos registros, suprimida toda menção dele, negada sua existência anterior e depois esquecido.”
“1984” é uma metáfora sobre o poder e as sociedades modernas.
Segundo Orwell, o objetivo da guerra não é vencer o inimigo, nem lutar por uma causa. O objetivo da guerra é manter o poder das classes altas, limitando o acesso à educação, à cultura e aos bens materiais das classes baixas, as proles.
Ao reler “1984” pode-se perceber como o livro continua atual. Winston Smith, o principal personagem da história trabalhava no Ministério da Verdade, cuja função não era o de assegurar que a verdade fosse preservada, bem pelo contrário, o seu trabalho era alterar e transmitir novas histórias, para que a versão da verdade dada pela elite governante – o Partido – nunca fosse refutada.
Se o Partido – que Orwell chama de Big Brother – mentisse ao povo, uma rápida verificação aos registros alterados por Winston -, os únicos registros que existiam, iria provar que a mentira era verdade.
GUERRA É PAZ!
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO!
IGNORÂNCIA É FORÇA!
Podem mentiras transformar-se em verdade?
Pode um sistema de informação, controlado apenas por algumas corporações globais, com a capacidade de subjugar todas as vozes discordantes, ser capaz de tornar mentiras em verdades?
Estas corporações não têm de responder ao povo. Apenas os políticos as podem regulamentar. As corporações compram, possivelmente, os políticos, com contribuições para campanhas políticas, contribuições tão vultosas, que os políticos permitiriam corporações desregulamentadas continuarem com o seu objetivo de eliminar as vozes com menos força, até que uma só voz subsista: a do poder!
Atentem para o que diz, um escritor americano acerca desta situação no seu país:
“Não se podem ter 280 milhões de pessoas e dizer que dois partidos políticos - Democrata e Republicano – representam o pensamento destas 280 milhões de pessoas.
Pensem nisso! Dêem um passo atrás e analisem isso.
O mais incrível é que os antropólogos daqui a uma centena de anos irão desenterrar-nos e não nos irão compreender a sério! E, [para piorar] cometemos um enorme erro ao inventar o filme e o videocassete, porque estamos deixando um registro sobre nós.
O 1% de cima que controla 99% da riqueza, teve dois grandes partidos políticos servindo a eles, e os outros 99% não tiveram nenhum partido político para contrabalancear e nenhuma representação no Congresso que os representasse, e ainda assim esses 99% andam às voltas empunhando pequenas bandeiras e a dizer: ‘Somos livres!’, ‘Somos Livres!’
(Michael Moore – autor de “Stupid White Men”)
“Um dia destes, pensou Winston, Syme será vaporizado. Ele vê claro demais e fala honestamente demais...” (1984)
O que acontece quando um grupo de pessoas tem um poder midiático inexplicável? E pode redefinir as regras, sem ser questionado?
A verdade é sempre atual:
“Naquele momento, por exemplo, em 1984 – se é que era 1984 -, a Oceania estava em guerra com a Eurásia e era aliada da Lestásia. Em nenhuma manifestação pública ou particular se admitia jamais que as três potências se tivessem agrupado diferentemente. Na verdade, como Winston se recordava muito bem, fazia apenas quatro anos a Oceania estivera em guerra com a Lestásia e em aliança com a Eurásia...”
“Eles podiam ser levados a aceitar as mais flagrantes profanações da realidade e não estavam suficientemente interessados nos acontecimentos públicos para repararem no que estava acontecendo.” (1984)
Pensamos falsamente no nosso país como sendo uma democracia, quando esta evoluiu para uma midiacracia, onde a imprensa, que supostamente devia controlar os abusos políticos, faz parte do abuso político.
Estas entidades comerciais batalham atualmente com o governo pelo controle sobre as nossas vidas, não são um contrapeso saudável para o governo, são tão ou mais poderosas que o governo e trabalham em estreita proximidade com o poder.
O Poder
“O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem na riqueza, nem no luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder, poder puro. Somos diferentes de todas as oligarquias do passado, porque sabemos o que estamos fazendo. Todas as outras, até mesmo as que se assemelhavam conosco, eram covardes e hipócritas. Os nazistas alemães e os comunistas russos muito se aproximaram de nós nos métodos, mas nunca tiveram a coragem de reconhecer os próprios motivos. Fingiam, talvez até acreditassem, ter tomado o poder sem querer e por tempo limitado e, que bastava dobrar a esquina para entrar num paraíso, onde os seres humanos seriam iguais e livres. Nós não somos assim. Sabemos que ninguém jamais toma o poder com a intenção de largá-lo. O poder não é um meio, é um fim em si. Não se estabelece uma ditadura com o fito de salvaguardar uma revolução; faz-se a revolução para estabelecer a ditadura. O objetivo da perseguição é a perseguição. O objetivo da tortura é a tortura. O objetivo do poder é o poder...”
(George Orwell, in “1984”, cap. 20, pág. 192 – Publicado em 1949).
Vinhedo, outono de 2013.
1984 na Livraria Nobel – Vinhedo
“Quem controla o passado controla o futuro. E quem controla o presente controla o passado.” (1984)
Quando a depressão econômica se espalhou pelo mundo nos anos 30 e 40, quando velhos desentendimentos viraram guerras, Orwell tinha muito para observar e escrever. Foi um momento brutal da história do mundo.
Anos depois, ao escrever “1984”, isolado na casa da ilha, refletindo sobre duas décadas de guerras mundiais, genocídio e torturas que haviam passado, Orwell projetou estes elementos terríveis no futuro. E se acontecer? – ele pensou – e se? E se um tirano pegasse a idéia do minuto de silêncio comum para lembrar os mortos e alterasse o conceito?...
TRAIDOR! TRAIDOR!
O exercício “Dois Minutos de Ódio’ atraía até o mais relutante... com seu medonho êxtase de medo e vingança... um desejo de matar, de torturar... de esmagar rostos com um martelo... Traidor! Traidor!!!
Isto é uma amostra do humor negro de Orwell, um humor forçado. Em vez de um minuto para lembrar os mortos, você tem dois minutos para desejar que os outros morram.
“Na vasta maioria dos casos não havia julgamento, nem notícia da prisão. As pessoas geralmente desapareciam, sempre durante a noite. O nome do cidadão era removido dos registros, suprimida toda menção dele, negada sua existência anterior e depois esquecido.”
“1984” é uma metáfora sobre o poder e as sociedades modernas.
Segundo Orwell, o objetivo da guerra não é vencer o inimigo, nem lutar por uma causa. O objetivo da guerra é manter o poder das classes altas, limitando o acesso à educação, à cultura e aos bens materiais das classes baixas, as proles.
Ao reler “1984” pode-se perceber como o livro continua atual. Winston Smith, o principal personagem da história trabalhava no Ministério da Verdade, cuja função não era o de assegurar que a verdade fosse preservada, bem pelo contrário, o seu trabalho era alterar e transmitir novas histórias, para que a versão da verdade dada pela elite governante – o Partido – nunca fosse refutada.
Se o Partido – que Orwell chama de Big Brother – mentisse ao povo, uma rápida verificação aos registros alterados por Winston -, os únicos registros que existiam, iria provar que a mentira era verdade.
GUERRA É PAZ!
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO!
IGNORÂNCIA É FORÇA!
Podem mentiras transformar-se em verdade?
Pode um sistema de informação, controlado apenas por algumas corporações globais, com a capacidade de subjugar todas as vozes discordantes, ser capaz de tornar mentiras em verdades?
Estas corporações não têm de responder ao povo. Apenas os políticos as podem regulamentar. As corporações compram, possivelmente, os políticos, com contribuições para campanhas políticas, contribuições tão vultosas, que os políticos permitiriam corporações desregulamentadas continuarem com o seu objetivo de eliminar as vozes com menos força, até que uma só voz subsista: a do poder!
Atentem para o que diz, um escritor americano acerca desta situação no seu país:
“Não se podem ter 280 milhões de pessoas e dizer que dois partidos políticos - Democrata e Republicano – representam o pensamento destas 280 milhões de pessoas.
Pensem nisso! Dêem um passo atrás e analisem isso.
O mais incrível é que os antropólogos daqui a uma centena de anos irão desenterrar-nos e não nos irão compreender a sério! E, [para piorar] cometemos um enorme erro ao inventar o filme e o videocassete, porque estamos deixando um registro sobre nós.
O 1% de cima que controla 99% da riqueza, teve dois grandes partidos políticos servindo a eles, e os outros 99% não tiveram nenhum partido político para contrabalancear e nenhuma representação no Congresso que os representasse, e ainda assim esses 99% andam às voltas empunhando pequenas bandeiras e a dizer: ‘Somos livres!’, ‘Somos Livres!’
(Michael Moore – autor de “Stupid White Men”)
“Um dia destes, pensou Winston, Syme será vaporizado. Ele vê claro demais e fala honestamente demais...” (1984)
O que acontece quando um grupo de pessoas tem um poder midiático inexplicável? E pode redefinir as regras, sem ser questionado?
A verdade é sempre atual:
“Naquele momento, por exemplo, em 1984 – se é que era 1984 -, a Oceania estava em guerra com a Eurásia e era aliada da Lestásia. Em nenhuma manifestação pública ou particular se admitia jamais que as três potências se tivessem agrupado diferentemente. Na verdade, como Winston se recordava muito bem, fazia apenas quatro anos a Oceania estivera em guerra com a Lestásia e em aliança com a Eurásia...”
“Eles podiam ser levados a aceitar as mais flagrantes profanações da realidade e não estavam suficientemente interessados nos acontecimentos públicos para repararem no que estava acontecendo.” (1984)
Pensamos falsamente no nosso país como sendo uma democracia, quando esta evoluiu para uma midiacracia, onde a imprensa, que supostamente devia controlar os abusos políticos, faz parte do abuso político.
Estas entidades comerciais batalham atualmente com o governo pelo controle sobre as nossas vidas, não são um contrapeso saudável para o governo, são tão ou mais poderosas que o governo e trabalham em estreita proximidade com o poder.
O Poder
“O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem na riqueza, nem no luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder, poder puro. Somos diferentes de todas as oligarquias do passado, porque sabemos o que estamos fazendo. Todas as outras, até mesmo as que se assemelhavam conosco, eram covardes e hipócritas. Os nazistas alemães e os comunistas russos muito se aproximaram de nós nos métodos, mas nunca tiveram a coragem de reconhecer os próprios motivos. Fingiam, talvez até acreditassem, ter tomado o poder sem querer e por tempo limitado e, que bastava dobrar a esquina para entrar num paraíso, onde os seres humanos seriam iguais e livres. Nós não somos assim. Sabemos que ninguém jamais toma o poder com a intenção de largá-lo. O poder não é um meio, é um fim em si. Não se estabelece uma ditadura com o fito de salvaguardar uma revolução; faz-se a revolução para estabelecer a ditadura. O objetivo da perseguição é a perseguição. O objetivo da tortura é a tortura. O objetivo do poder é o poder...”
(George Orwell, in “1984”, cap. 20, pág. 192 – Publicado em 1949).
Vinhedo, outono de 2013.