Uma realidade brutal
O livro Tô pedindo trabalho, de Terezinha Alvarenga, que conta a luta do menino Tuca para ajudar sua mãe, é um retrato comovente e complexo de uma realidade brutal. Escrito numa linguagem simples, que reproduz fielmente a fala popular do povo que vive em uma favela, este é um relato ao qual ninguém pode ficar indiferente. As falas são econômicas, sem o menor retoque e os cenários são ásperos.
Narrada pelo próprio Tuca, sua história pode ser a de muitos meninos que costumam ser ignorados pela sociedade. O protagonista, morador de uma favela, é um menino de 11 anos que vive uma triste realidade: sua mãe, Rosa, é maltratada pelo companheiro, Bené, a quem ainda sustenta trabalhando como lavadeira. Tuca também tem medo de que Bené fique sozinho com sua irmã mais nova, Divina, pois ele adora fazer gracejos para a menina. Decidido a ajudar a mãe a se livrar de Bené, Tuca resolve trabalhar para juntar dinheiro para dar uma vida mais digna à sua família.
Nessa trajetória, ele enfrenta os preconceitos das pessoas, que não acreditam em meninos de favela e pensam que são todos delinquentes. Somente após muitos percalços, ele consegue trabalhar no armazém de um seu Sebastião e começa a juntar dinheiro para realizar o sonho de dar uma vida melhor à mãe e à irmã.
Este livro mescla aspectos tristes vividos por muitas crianças da sociedade brasileira: a violência doméstica, falta de perspectiva, riscos de violência sexual (Bené quer abusar de Divina), descaso da sociedade e convivência com a delinquência. As crianças de favela são rechaçadas e enfrentam o desafio diário da luta pela sobrevivência e as tentações de se deixar levar pelo caminho da criminalidade. Como se manter íntegro em meio a tantos contratempos?
Tuca ainda não entende por que sua mãe, que criou a ele e a Divina sozinha e sempre os sustentou lavando roupa, não deixa um homem que bebe, não trabalha e a espanca. O menino, que nunca teve pai, acaba assumindo a posição de responsável pela família, consciente de que deve agir para mudar a situação. Devido ao ambiente em que cresceu, ele é muito mais maduro do que os de sua faixa etária que nunca passaram dificuldades. Isso o endureceu e o tornou determinado, fazendo com que, mesmo sabendo que não será fácil alcançar seu objetivo, ele não desista.
O livro de Terezinha Alvarenga contraria em parte a tese presente em O cortiço, de Aluísio de Azevedo, no qual todos os habitantes do cortiço são tragados pelo clima de degradação que impera no lugar. Embora se admita que o ambiente inóspito no qual Tuca cresceu tenha contribuído para formar sua personalidade, passa-se a mensagem de que, se a pessoa resolve agir e assume uma posição, ela será capaz de transformar o meio em que vive, alterando sua realidade e a si mesma.