Quarta-feira de Cinzas, sermões
QUARTA-FEIRA DE CINZAS, SERMÕES
Miguel Carqueija
Resenha do livro “Sermões de Quarta-Feira de Cinzas”, pelo Padre Antônio Vieira. Ediouro (Rio de Janeiro-RJ), Coleção Prestígio, 1997. Capa: reprodução parcial do teto da Capela da Ordem Franciscana de Olinda. Nota introdutória: Maria Angela Villela.
Um valioso livro não muito grande (pouco mais de cem páginas) compilando três sermões do grande orador sacro do século 17, nascido em Lisboa e falecido na Bahia. É considerado um dos notáveis da literatura em língua portuguesa.
Os dois primeiros sermões foram proferidos em Roma e o terceiro não chegou a ser pregado e já foi escrito próximo da morte do autor. Os três, dentro do tema da Quarta-Feira de Cinzas, que inicia o Tempo Pascal.
Com sua erudição e mente aguçada Vieira não se limita a citar a Bíblia e autores sacros, menciona também pensadores pagãos da cultura grega, como Platão e Aristóteles, a quem ele chama “filósofos gentios”. Assim ele diz na primeira homilia, a respeito da imortalidade da alma: “... não é só fé, senão também ciência. Por ciência e por razão natural a conheceram Platão, Aristóteles e tantos outros filósofos gentios”. Como se vê o Padre Vieira, como em geral os pensadores católicos, tinha a mente aberta em relação a fontes não-católicas, não recusando aceitar o que de bom delas viesse.
Ele discorre eruditamente sobre a frase clássica do Gênesis: “És pó e ao pó voltarás” (Gen 3,19). A Quarta-Feira de Cinzas lembra a inevitabilidade da morte para o ser humano.
O segundo sermão continua comentando o fenômeno da morte e fala de como se pode acabar a vida antes da morte; trata-se do desapego ao mundo, às coisas materiais.
No último sermão Vieira refere-se ao combate interno de cada um de nós: o combate entre a carne e o espírito, referido inclusive por São Paulo.
Não é fácil descrever a beleza e a firmeza do pensamento de Vieira; é preciso ler e absorver. Ele consegue ser um escritor binacional, pois viveu no Brasil e em Portugal e, português de nascimento, foi de certa forma brasileiro.
Livro recomendado com louvor.
Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2018.
QUARTA-FEIRA DE CINZAS, SERMÕES
Miguel Carqueija
Resenha do livro “Sermões de Quarta-Feira de Cinzas”, pelo Padre Antônio Vieira. Ediouro (Rio de Janeiro-RJ), Coleção Prestígio, 1997. Capa: reprodução parcial do teto da Capela da Ordem Franciscana de Olinda. Nota introdutória: Maria Angela Villela.
Um valioso livro não muito grande (pouco mais de cem páginas) compilando três sermões do grande orador sacro do século 17, nascido em Lisboa e falecido na Bahia. É considerado um dos notáveis da literatura em língua portuguesa.
Os dois primeiros sermões foram proferidos em Roma e o terceiro não chegou a ser pregado e já foi escrito próximo da morte do autor. Os três, dentro do tema da Quarta-Feira de Cinzas, que inicia o Tempo Pascal.
Com sua erudição e mente aguçada Vieira não se limita a citar a Bíblia e autores sacros, menciona também pensadores pagãos da cultura grega, como Platão e Aristóteles, a quem ele chama “filósofos gentios”. Assim ele diz na primeira homilia, a respeito da imortalidade da alma: “... não é só fé, senão também ciência. Por ciência e por razão natural a conheceram Platão, Aristóteles e tantos outros filósofos gentios”. Como se vê o Padre Vieira, como em geral os pensadores católicos, tinha a mente aberta em relação a fontes não-católicas, não recusando aceitar o que de bom delas viesse.
Ele discorre eruditamente sobre a frase clássica do Gênesis: “És pó e ao pó voltarás” (Gen 3,19). A Quarta-Feira de Cinzas lembra a inevitabilidade da morte para o ser humano.
O segundo sermão continua comentando o fenômeno da morte e fala de como se pode acabar a vida antes da morte; trata-se do desapego ao mundo, às coisas materiais.
No último sermão Vieira refere-se ao combate interno de cada um de nós: o combate entre a carne e o espírito, referido inclusive por São Paulo.
Não é fácil descrever a beleza e a firmeza do pensamento de Vieira; é preciso ler e absorver. Ele consegue ser um escritor binacional, pois viveu no Brasil e em Portugal e, português de nascimento, foi de certa forma brasileiro.
Livro recomendado com louvor.
Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2018.