Terrorismo Global - aspectos gerais e criminais - de André Luis Woloszyn - Biblioteca do Exército - Coleção General Benício (2010)
O terrorismo é um assunto que entrou para a ordem do dia em 11 de setembro de 2001, com os ataques terroristas desfechados contra o World Trade Center e o Pentágono (Foram quatro os aviões empregados pelos terroristas: dois foram arremessados contra o World Trade Center; um, contra o Pentágono; e um caiu em Pittsburgh). As imagens, transmitidas para todo o mundo, dos aviões a atingirem os dois maiores prédios dos Estados Unidos, preconizaram o terror que se sucederia nos anos subsequentes. Tais imagens auguravam o apocalipse. E evocaram Nostradamus. E previram o cataclismo global, que não ocorreu, contrariando, e frustrando, os prognósticos dos pessimistas, dos desesperançados, desiludindo-os. Antes dos eventos de 11 de setembro de 2001, atos terroristas haviam sido perpetrados; a al-Qaeda e Osama Bin Laden não foram pioneiros em tal modalidade de ação desumana, aniquiladora. O World Trade Center, em 1993, já havia sido alvo de um ataque terrorista: Bombas explodiram no seu subsolo. A magnitude do evento (o 11 de setembro de 2001) - e apenas mentes malignas o planejariam e o empreenderiam – sim, foi inédita. Planejar, com frieza, o ataque, durante décadas presume-se, requer recursos imensuráveis. Muhammed Ata foi apenas um dos que o executaram. Mas quantas pessoas se envolveram no planejamento do ataque? E quem o financiou? Podemos conceber as dimensões da arquitetura das organizações terroristas que o conceberam? Jamais se conhecerá as suas reais dimensões, e tampouco quanto dinheiro foi dispendido no seu planejamento e na sua execução.
Os atos terroristas, tudo indica, recrudesceram no Ocidente – ocorrem ataques esporádicos, de pequeno impacto, como o que se sucedeu, após o 11 de setembro, em 2004, no metrô de Madri, Espanha – com influência nas eleições espanholas – e, em 2005, no metrô de Londres, Inglaterra, e em Boston, no dia 15 de abril de 2013, durante maratona, pelos irmãos Tsarnaev, Dzhokhar e Tamerlan (este veio a falecer em confronto com a polícia), e, na França, no início de 2015, contra a sede do Charlie Hebdo e um restaurante judeu, e neste início de 2016, na Bélgica. Nenhum desses ataques produziu tantas mortes quantas as que resultaram do ataque desfechado, pela al-Qaeda, contra os Estados Unidos, no ano de 2001.
O arrefecimento dos atos terroristas de impacto equivalente ao que se perpetrou no dia 11 de setembro de 2001, no Ocidente, não pode ser entendido como ausência de planos para a execução de um ataque ainda mais devastador. Inimigos os Estados Unidos – e não apenas os Estados Unidos, mas todo o Ocidente – possuem, e não são poucos, e não se contam nos dedos das mãos, e alguns deles são muito poderosos, alguns dentre eles têm recursos para financiar rebeliões em território americano e armas de destruição em massa (nucleares e biológicas).
Se, no Ocidente, aferrece-se o terrorismo, no oriente o terrorismo recrudesce. Os eventos que se sucedem, diariamente, no Iraque, na Síria, no Iêmen, principalmente nestes países, e, também, no Paquistão e em outras nações da Ásia, no oriente Médio e na África – Nigéria, principalmente, com ações terroristas do Boko Haram – corroboram essa declaração.
Os incautos e os ingênuos concluirão que o Ocidente, portanto, estará livre de ataques terroristas, e os brasileiros, que nunca se defrontaram com tal ameaça, crêem que o Brasil está livre deste mal. Não o está, entretanto. E o livro de André Luis Woloszyn ajuda-nos a entender o porquê.
Nas primeiras páginas de Terrorismo Global, André Luis Woloszyn apresenta uma história sucinta do terrorismo, desde o surgimento, que, segundo ele, talvez tenha se dado, na república romana, no século III a.C.. E cita Sun Tzu. E cita da Bíblia passagens do Gênesis e do Êxodo como exemplos de terrorismo religioso. E faz referências aos sizarii, e aos ismailis-nizari, e aos hashshashin. E trata, resumidamente, das Cruzadas, da Revolução Francesa, da Inquisição, dos anarquistas, nos séculos XIX e XX, Mikhail Bakunin e Piotr Kropotkin, da Organização Secreta Mão Negra (um de seus integrantes, nacionalista sérvio, assassinou o herdeiro do trono austro-húngaro, o arquiduque Francisco Ferdinando, no dia 28 de junho de 1914, assassinato este que foi o estopim da 1ª Guerra Mundial), do terrorismo de Estado de Stalin. E sobrevoa os eventos que envolveram, no Irã, o xá Reza Pahlevi e o líder religioso aiatolá Khomeini, e os Jogos Olímpicos de Munique, e ações do ETA (Eustaki Ta Askatasuna), das Brigadas Vermelhas, do IRA, do Baaden-Meinhof, da Frente Popular para a Libertação da Palestina, do Exército Vermelho Japonês, e de outras organizações terroristas.
Linhas acima declarei que o Brasil não está livre do terrorismo; direi o porquê mais adiante, agora, para dar uma idéia de quantas organizações terroristas estão em atividade, menciono algumas delas, as mais conhecidas (todas estão mencionadas em Terrorismo Global): Grupo Abu Sayyaf; Verdade Suprema; al-Qaeda; ETA; Hamas; Hezbolah; Exército Vermelho Japonês; Al-Jihad; Exército de Libertação Nacional; Frente Popular para Libertação da Palestina; Farc; Sendero Luminoso; e, Movimento Revolucionário Tupac Amaru.
E são os principais terroristas, dentre outros, vivos, Illich Ramirez Sanchez (“O Chacal”); Ramzi Ahmed Yousef; Theodore Kaczynski (Unabomber); Abimail Guzman, todos presos; e, mortos: Osama Bin Laden; Shamil Basayev (O Carrasco de Beslan); e, Muhammed Ata.
Os grupos terroristas têm, como armas, além de bombas e gases, armas biológicas (antraz, ricina, varíola), e são imprevisíveis, amorais, desapegados da vida, e perpetram a versão tecnológica do terrorismo: o ciberterrorismo.
Em Terrorismo Global são mencionados alguns atos terroristas de maior impacto no mundo, todos de ressonância mundial, e alguns que alteraram o curso da história.
Segundo André Luiz Woloszyn, são inúmeras as causas do terrorismo: falta de perspectiva; radicalismo político; extremismo religioso; governos corruptos e ilegítimos; Estados débeis; ideólogos extremistas; repressão; força estrangeira; choque de culturas; discriminação étnica e religiosa; ausência de democracia, liberdades civis e de respeito às leis; além de outras razões, considerando-se a Conferência de Oslo. Algumas das assim consideradas causas mencionadas, tecnologia da mídia, técnicas pela internet, não são causas, são meios de ação, instrumentos que os terroristas empregam para a execução de suas atividades, e recursos financeiros também não os entendo como causas, mas como meio de sustentação de organizações dispendiosas; e a disseminação indiscriminada de conhecimento não o vejo como causa de terrorismo, mas como um acelerador, organizador, planejador de atos terroristas, propiciando a ação; e a existência de líderes ideológicos carismáticos também não é uma causa de terrorismo, mas uma fonte que alimenta, um combustível, que “põe lenha na fogueira”, é um estímulo ao exercício de atividades terroristas, pois eles exercem influência, nutrindo sentimentos latentes nocivos à sociedade. Parece-me que, na Conferência de Oslo, mencionada por Woloszyn, confundiram-se causas com instrumentos de ação, fontes de financiamento, meios de obtenção de conhecimento e elementos de estímulo à ação.
Agora, aproximando-me do encerramento deste artigo, dedico algumas linhas ao Brasil.
Os capítulos que tratam do Brasil são interessantes, principalmente o que se refere ao Terrorismo Criminal, que apresenta estatísticas acerca das ações, em 2006, do PCC, Primeiro Comando da Capital, em São Paulo, e das do CV, Comando Vermelho, no Rio de Janeiro.
O Brasil, país cuja fronteira terrestre corresponde a 17.500 quilômetros de extensão com 9 tríplices fronteiras e 8.000 quilômetros de fronteiras marítimas, e que possui imensas áreas despovoadas, grande concentração populacional nos estados do Sul e do Sudeste, em regiões litorâneas do Nordeste e em capitais dos estados do Norte e Centro-Oeste, possui uma proverbial ausência de planos emergenciais contra o terrorismo, e são débeis as suas Forças Armadas, carentes de recursos, sem investimentos, e a sua legislação não tipifica o crime de terrorismo.
Com uma fronteira porosa, mal fiscalizada, pela qual pessoas entram e saem, sem controle, medidas de segurança precárias, legislação omissa, e intercâmbio entre Farc, PCC e MST, CNBB, Pastoral da Terra, não está o Brasil preparado para defender-se de organizações terroristas.
Terrorismo Global é uma ótima introdução à questão terrorista da qual não podemos nos esquivar, e tampouco contorná-la podemos.
Com leitura auxiliar de:
Livro:
David Fromkin, em O Último Verão Europeu;
Artigos:
Jeffrey Nyquist, Circundando a sarjeta em Baltimore, 15/5/2015, site Mídia Sem Máscara;
Martim Vasques da Cunha, O Mal Lógico (sd), site Olavo de Carvalho;
Olavo de Carvalho, Salvando triunvirato global, 25/11/12. site Olavo de Carvalho; e,
Reinaldo Azevedo, A condenação à morte do terrorista de Boston. Ou: Dos delitos e das penas, 15/05/2015, blog Reinaldo Azevedo.