Resenha: As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R Martin - Livro 1 - Guerra dos Tronos
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O Livro da vez por David Thomas
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Informações técnicas da obra:
• Título da Obra: As Crônicas de Gelo e Fogo (A Guerra dos Tronos) A Song of Ice and Fire;
• Autor/Autora da obra: George R.R. Martin;
• Editora da Obra: Leya;
• Data de publicação: 1996, contudo começou a ser escrita em 1991;
• Data de início e término da leitura: 10 a 30 de novembro de 2018.
Espírito/ Essência da obra:
• Gênero textual: Fantasia para adultos com forte conteúdo violento, sexual, incesto;
• Escola Literário/Período literário: Literatura Contemporânea;
• Ambiente físico e temporal da obra: Passa-se no continente fictício de Westeros;
• Tipo de narrador: Narrador em terceira pessoa com a utilização de Fluxo de Consciência (cada personagem tem sua própria voz na narrativa);
Enredo:
A história começa num continente fictício chamado Westeros (Norte e Sul) no qual o inverno e o verão podem durar anos comandados por um único rei que no primeiro momento da obra é Robert Baratheon. A Patrulha da Noite (Ordem militar que mantém a segurança da muralha do que se encontra além dela) parte para investigar algumas mortes. Sor Waymar Royce, Gared e Will se deparam na floresta assombrada com Caminhantes brancos ou Os Outros como são mais conhecidos (criaturas da morte que quando matam alguém, logo esse alguém é reanimado e passa a viver como alma penada). O jovem Waymar Royce é morto por eles, matando Will e Gared foge no momento do ataque se tornando um desertor da Patrulha da Noite. A maior parte do livro se passa na cidade de Winterfell que tem como senhor do Norte Lord Eddard Stark que junto com os filhos encontram uma ninhada de lobos (que é o símbolo da sua casa, a casa Stark). Tendo 5 filhos e um bastardo acabam ficando cada um com um filhote. Um dia a família Stark recebe a visita de toda a Realeza junto com a família Lannister (Pois Tyrion é irmão da rainha Cersei, casada com o Rei Robert Baratheon). Essa visita tem por objetivo o Rei convidar (exigir) que Eddard Stark passe a ser seu braço direito (já que o antigo senhor Jon Arryn morreu) e com isso mudarem de Winterfell para Porto Real, uma cidade grande. Isso não fazia parte dos planos de Eddard Stark, mas por se tratar de uma ordem Real ele não tem escolha. Um pouco antes da viagem de ída, o jovem filho do Lord Eddard Stark, Bran Stark, acaba presenciando a primeira relação incestuosa da saga: a Rainha Cersei fazendo sexo com seu irmão, Jaime Lannister, no alto de uma torre. Quando isso acontece, Jaime atira Bran Stark do alto dessa torre e o garoto acaba ficando paraplégico. Um dos pontos que mais me chocou na leitura é o fato da viagem não ser adiada mesmo diante do triste quadro de Bran Stark. Catelyn Stark e Eddard Stark têm cinco filhos e Eddard ainda tem um bastardo, Jon Snow. Esse filho é odiado por Catelyn e existe um momento da obra que ele vai visitar o irmão acamado pois ele já estava de partida para seu treinamento como Patrulheiro da Noite (sendo que sua condição não permitia que ele viajasse com os demais para o Sul) e além de Catelyn Stark não gostar de sua presença no quarto, ainda o chama e diz que deveria ter sido ele e não seu irmão, Bran Stark. Por último ele vai visitar a irmã Arya Stark para se despedir e lhe entregar uma espada de presente que ambos dão o nome de Agulha. Diferente da outra irmã, Sansa Stark que é completamente delicada, Arya Stark é corajosa como um guerreiro e possui grande habilidade com espadas e lutas. Temos também uma outra família que possui um papel muito importante na narrativa chamada de família Targaryen. Essa família governou o continente por quase trezentos anos até serem derrotados por Robert Batatheon e hoje restaram somente Daenerys Targaryen (Dany) e seu irmão Viserys Targaryen que sonha que o Trono dos sete reinos volte a sua origem. Em troca disso ele obriga a irmã a se casar com um bárbaro. Fazê-la casar com um bárbaro é somente por estratégia, pois para a família Targaryen casar com pessoas de fora não era uma prática aceita muito menos comum. Para eles a nobreza de seu sangue deveria ser mantida e por isso eles deveriam casar entre si, irmãos com irmãos, coisa que não é bem vista nas demais casas, apesar de ocorrer como vimos com a própria Rainha Cersei Baratheon e seu Irmão Jaime Lannister. Uma particularidade dos Targaryen é que eles têm uma forte ligação com o elemento fogo e com os Dragões tanto que Dany é conhecida com a Mãe dos Dragões. Além disso o elemento fogo não os afeta. Quando Eddard Stark chega no destino logo ocorre um conflito que o obriga a matar um dos Lobos, o Lobo de sua filha Sansa, contudo ele se arrepende de sua atitude ao descobrir que seu filho Bran foi protegido de um assassino pelo lobo dele. Esse assassino é claro que foi mandado por Jaime Lannister e a Rainha Cersei. Lord Eddard Stark é convocado para uma reunião com os conselheiros e nesse momento ele descobre o quanto o Rei foi estravagante ao longo dos anos do seu reinado gastando todo tesouro que o antigo Rei Targaryen deixou com festas, mulheres e etc. Temos também uma conspiração muito traiçoeira contra o atual Rei vinda da família Lannister, especialmente de Jaime Lannister e sua Rainha: Cersei. O irmão de Eddard Stark, Benjen Stark, desaparece quando sai para procurar Sor Waymar Royce, o jovem que no início do livro é morto pelos Os Outros, porém seu retorno também não acontece e o sobrinho Bastardo Jon Snow deseja ir agora não procurar somente Sor Waymar Royce, mas principalmente o tio. Diferente de antes que Daenerys Targaryen se sentia mal ao se deitar com o marido bárbaro Khal Drogo, nesse momento da obra ela não somente gosta, como passa a tomar posse do seu papel como rainha desse povo e acaba ficando grávida do seu rei. Sua adaptação a atual realidade faz com que seu irmão Viserys fique completamente incomodado. Um dos conflitos que começa a se desenrolar (que eu imagino que será isso que vai gerar as principais guerras da saga) é a tentativa de assassinar Daenerys Targaryen e seu futuro filho que o próprio Rei Robert Baratheon está planejando mandar martar, contrariando por completo os pricípios do Lord Eddard Stark. Outro ponto muito importante é quando a senhora Catelyn Stark acaba prendendo Tyrion Lannister por acreditar que ele seria quem mandou assassinar seu filho Bran Stark e isso gera inúmeros conflitos ao longo desse volume. Há um momento que ela vai visitar a irmã, Lysa Arryn (que perdeu o marido, Jon Arryn e a tentativa de descobrir o assassino é um dos conflitos principais da obra e maior objetivo de Eddard Stark em Porto Real) e lá nos deparamos com uma das personagens mais exóticas e irritantes da obra, depois é claro de Sansa, a Rainha Cersei e outras. Além dela ainda temos o sobrinho de Catalyn Stark que desde criança já mostra sua completa inaptidão para ser príncipe, quiçá rei. Pouco depois do meio da obra o Rei Robert Baratheon morre e pede para o Lord Eddard Stark para assumir o Trono enquanto seu herdeiro Joffrey Baratheon ainda é jovem. Uma curiosidade é que a Rainha Cersei confessa que tanto Joffrey quanto os demais filhos nenhum é de Robert e sim são frutos da relação incestuosa com seu próprio irmão Jaime Lannister. Logo após a morte (como se estivessem esperando ansiosamente) o príncipe assume o Trono e rasga a carta com as ordens do falecido Rei e pai de criação. Enquanto isso Viserys Targaryen é morto quando o marido bárbaro de sua irmã derrama ouro derretido em sua cabeça satirizando a tão sonhada coroa que Viserys Targaryen tanto exigia. Um detalhe que não podemos deixar passar despecebido é sua morte, pois como um Targaryen poderia ter sido morto com fogo sendo que eles são os Pais e mães dos Dragões? Ao longo da narrativa o marido de Daenerys Targaryen morre e com isso ela busca uma feiticeira para salvá-lo. Como ela não consegue, Daenerys exige que ela seja queimada num ritual e junto com ela seu falecido esposo. A Mãe dos Dragões acaba perdendo o filho que estava esperando, contudo nasce outros três filhos: Os Três Dragões. Os três ovos de Dragão que ela havia ganhado do marido no início da saga, magicamente nascem, fazendo com que nasça junto com eles a força, o poder e a essência da familia Targaryen tão injustamente destronada por Robert Baratheon. Mas de todos os acontecimentos da narrativa, houve um que nenhum outro conseguiu superá-lo: A morte de Eddard Stark por Joffrey Baratheon. Logo quando seu pai (O Rei Robert Baratheon) morre, Joffrey assume injustamente o Trono e prente Lord Eddard Stark por traição. Sansa Stark pede pelo pai e mesmo assim o Rei manda que decepem a cabeça de Eddard Stark. Confesso que essa cena tanto no livro quanto na série televisa foi muito chocante para mim, pois dos inúmeros personagens nunca poderia imaginar que Lord Eddard Stark chegaria ao fim logo no primeiro livro da saga, pois de todos ele é o que mais se aproxima de um protagonista. Joffrey Baratheon assim que assume o Trono mostra-se totalmente rude para com Sansa Stark, batendo nela e o que é pior: faz ela ficar frente a frente com a cabeça decepada do pai numa estaca.
O primeiro livro da saga e a própria adaptação dramaturgica na televisão terminam ambos com o nascimento dos três ovos de Dragão de Daenerys Targaryen.
Aspectos externos e influênciadores da obra:
• Contexto histórico: George Martin sempre gostou muito de narrativas fictícias, podemos encontrar suas declarações dizendo que é fâ de Tolkien (Escritor de O Senhor dos Aneis) em várias fontes tanto impressas quanto digitais e também que admira muito As Crônicas de Nárnia. Além disso George Martin é jornalista e trabalhou por muito tempo como roteirista. Trabahou inclusive na série A Bela e a Fera dentre outras. Todo esse universo cooperou para a criação de As Crônicas de Gelo e Fogo;
• Analogias com demais obras: Pode-se dizer que George Martin bebeu muito de Tolkien (Escritor de Senhor dos Aneis). Há inúmeros relatos do próprio George Martin declarando o quão fâ ele é de Tolkien. Outro escritor clássico muito famoso que descobri que George Martin gosta é Fitz Gerald (Escritor de O Grande Gatsby). Contudo no final da obra com a Morte do Lord Eddard Stark, lembrou-me um pouco os dramas Shakesperianos, pois a sensação que temos no final das obras de Shakespeare de que nada será mais igual no enredo, foi a mesma sensação que a morte de Ned me causou.
Minha opinião sobre a obra:
1. A leitura de A Guerra dos Tronos me fez refletir como títulos, nomes e nossa classe social interferem completamento na forma como tratamos o outro;
2. Outro fato que me fez refletir muito é a personagem de Arya Stark. Uma menina que nasceu para ser princesa, mas sua vocação mesmo era para ser uma guerreira. Minha principal reflexão sobre isso é o quanto a sociedade a nossa volta quer nos ditar regras sobre o que fazemos, como devemos agir e até mesmo sobre o que devemos ser;
3. Outro personagem com um contexto curioso é Jon Snow. O bastardo que mesmo sendo filho de um Lord, é tratado como um mestiço pela sociedade em que vive e até mesmo pela família. Isso me fez pensar o quanto uma atitude errada, impulsiva pode gerar consequências terríveis não somente para nossa vida, mas para a vida de outras pessoas que não teriam nada a ver com o nosso erro cometido.
• Aspectos negativos observados:
1. Usos de muitas palavras pejorativas, especialmente no tratamento com relação as mulheres. Entendo que pela época e também a ambientação da obra a retratação é fidedigna ao que se passava no período (claro que o local não porque se trata de um continente não real), mesmo assim achei forte demais;
2. Os capítulos nos quais ocorriam as batalhas em sua maioria sairam um pouco tediosos para mim. É claro que essa sensação de tédio não ocorreu somente em As Crônicas do Gelo e Fogo, mas também em outros livros. Eu particularmente me canso nesses momentos de guerras nos livros, lendo mais por “obrigação” do que por empolgação;
3. Essa crítica não será na obra em si, mas sim na atitude do seu criador para com seu público, especialmente para quem começou a lê-lo em 1996. Não existe liberdade ou tempo artístico para justificar que uma obra demore vinte e três anos para se quer dar uma previsão ao seu público de quando ela de fato chegará ao fim. Na minha opinião isso é um grande desrespeito para com seu público. O quão bom escritor George Martin se mostrou ao longo desse tempo todo, ele também não deixou de mostrar o quão pouco se importa com o impacto que seu descaso causou nos seus leitores. Segundo uma colega que começou a ler o livro logo após seu lançamento e acompanhá-lo, assim que estreiou o terceiro volume, todos os exemplares vendidos tiveram que ser devolvidos pois o autor se esqueceu de incluir um capítulo que estava faltando. Aos defensores de George Martin perdoem minha honestidade, mas não há desculpa que justifique uma obra literária de chegar a quase trinta anos de existência sem previsão de quando terminará.
• Aspectos positivos observados:
1. Não há um romance central na obra e mesmo assim o escritor soube manter a motivação a cada capítulo. Não deixando que a narrativa se tornasse cansativa. Diferente da maioria dos escritores que necessitam criar um romance para todo o enredo girar em torno dele;
2. Outro aspecto que foi um dos melhores é os capítulos curtos com fluxo de consciência. Cada capítulo narrado por um personagem diferente com suas próprias percepções de tudo que ocorre ao seu redor. Portanto muitas vezes quando acontecia um conflito muito sério com um determinado personagem, só iriamos saber o desfecho desse conflito após a leitura de outros personagens, técnica muito bem utilizada para nos manter na leitura com motivação;
3. A morte do Lord Eddard Stark apesar de triste e por dar uma breve sensação de que ficaria um buraco na sua ausência, é uma das coisas que mais me fizeram admirar o escritor na leitura;
4. Sansa começa a sofrer na mão do Rei Joffrey Baratheon após seu pai ser decepado. Além de ter que ver a cabeça de seu pai decepada numa estaca, ainda apanha física e psicologicamente. Uma personagem detestával como ela não poderia terminar o livro num cenário tão justo quanto esse.
Minha nota para a obra é: Excelente