“Os Sofrimentos do jovem Werther” de Goethe
O Romantismo, associado às mudanças sociais e políticas que derivam da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, surge no final do século XVIII, na Europa, e perdura até meados do século XIX. Wolfgang von Goethe(1749-1832) e Friedrich Schiller(1759-1805) foram os principais representantes do "Sturm und Drang" como era chamado o início do Movimento Romântico alemão. O termo ao pé da letra significa “Tempestade e Ímpeto” e apareceu pela primeira vez como título de uma peça de Friedrich Maximilian Klinger(1752-1831), publicada em 1776, onde o autor expressa as emoções humanas de maneira extrema e violenta, anunciando uma forma de expressão individualista e subjetiva em contraposição ao racionalismo emergente da época. A expressão “Sturm und Drang” passou então a ser associada à arte que objetivava chocar o público ou emocioná-lo com um sentimentalismo exacerbado, beirando à irracionalidade, sendo os personagens das obras colocados em situações que levem a esses extremos, ao mesmo tempo em que são apresentados ambientes frugais, relacionados à natureza e à simplicidade da vida.
"Werther", de Goethe, publicado em 1774, é considerado por muitos como o marco inicial do Romantismo e é referência do Sturm und Drang. No Brasil, foi traduzido principalmente como “O Sofrimentos do jovem Werther”, ficando assim conhecido por aqui.
Goethe tinha apenas 25 anos na época da publicação. “Werther” que conta a história de um jovem apaixonado e cujo amor não correspondido termina por levá-lo à autodestruição, é um romance de caráter autobiográfico e epistolar, gênero literário em voga no século XVIII, em que a história é contada, sobretudo através de cartas.
É uma obra tão cara aos românticos que se seguiram devido à exploração de temas fundamentais do Romantismo tais como o amor platônico, dificuldades de se adaptar às superficialidades sociais, refúgio na natureza, tendência à melancolia e gosto pela solidão, e a forma como todos estes pontos são trabalhados pelo autor: idealizados e expressos de maneira delicada e poética, e por vezes, até filosófica, nos momentos em que há diálogos existenciais, mesmo que recheados de paixão e ímpeto.
E por mais que seja uma obra pertencente aos primórdios do Romantismo, pode muito bem ser considerado um romance ultrarromântico (exceto cronologicamente), sendo uma perfeita obra representativa do “mal do século”, que no Brasil teve autores como Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire, Fagundes Varela, Aureliano Lessa, Laurindo Rabelo, Cardoso de Meneses, Francisco Otaviano, Pedro de Calasans, entre tantos outros (também das outras gerações românticas), que provavelmente leram Werther no tempo em que existiu o Romantismo no Brasil (1836-1886), e até hoje continua encantando diversos leitores, sendo considerado um dos maiores clássicos literários de todos os tempos.
Curiosamente, logo após a publicação da obra, vários leitores começaram a se vestir como o protagonista (calças amarelas e jaquetas azuis) e houve uma onda de suicídios pela Europa, o que fez com que a obra fosse condenada pela igreja e proibida em vários lugares.
Na psicanálise, existe o termo “Efeito Werther” cunhado pelo pesquisador David Phillips em 1974, e se refere a um pico de “suicídios copiados”, isto é, quando pessoas suicidam baseadas em outros suicídios que tiveram conhecimento, normalmente imitando alguma característica de quem suicidou primeiro. Tal processo ocorre de maneira mais acentuada quando há suicídios de pessoas públicas ou que são muito falados na mídia.
Existe uma ópera de 1887 do francês Jules Massenet baseada no livro. Foram realizadas também algumas adaptações cinematográficas da obra: “Werher” (1938), de Max Ophüls; “Encounter with Werther” (1949), de Karl Heinz Stroux; “The sorrows of young Werther” (1976), de Egon Günther; “Werther” (1985), de Petr Weigl; “Werther” (1986); “Young Werther” (1993), de Jacques Daillon e “Goethe!” (2010), de Philipp Stölzl.