Oxente - que mangá é esse!
Num momento em que artistas independentes estão antenados com as novas tendências e se utilizando mais que nunca das suas raízes, esse fenômeno me faz lembrar de um certo senhor chamado Ariano Suassuna, autor do Auto da Compadecida. Ele criou o movimento armorial. Eles desejavam realizar uma arte erudita através da cultura popular. Hoje, muitos mangakás desenvolvem esse conceito, mesmo que inconsciente.
O autor Renato Silva produziu esta fábula nordestina. Oxente é um daqueles títulos que não é carne, nem é peixe é algo que deve ser saboreado em toda a sua singularidade. Para muitos pseudocríticos, a aridez de Oxente lança poeira nos olhos dos descrentes que julgam que o brasileiro não tem história suficiente para adentrar o mundo d ficção, se já fizemos isso na literatura inúmeras vezes, o que nos impede nos quadrinhos?
Oxente é um divertido título ambientado nas regiões secas do Nordeste brasileiro, em pleno Cangaço. Serafim, o protagonista filho de Lampião, singra o nordeste a busca de algo maior que instituir o caos e descarregar sua revolta, ele deseja ser herói daquele povo lutador e sofrido. A meio caminho, ele encontra Zuran, um negrinho fugido da Bahia com nada no saco que não fosse poeira.
Seria muito errado da minha parte contar o que vem depois do conflito inicial onde Zuran é resgatado por Serafim, de quem? Do que? Você só saberá lendo caro leitor.
Desde o cenário, muito bem captado pelo autor, até as vestimentas e o sotaque dos personagens, tudo ali é sertão, não o idealizado, mas aquele sertão da Súplica cearense, seco, rijo e mormacento. O traço caricaturesco casou bem com os personagens euclidianos, quasímodos hercúleos por assim dizer. Vida longa à Oxente, mangá que consegue casar o pop com o regionalismo.