O messianismo ateu de Trotsky
O MESSIANISMO ATEU DE TROTSKY
Miguel Carqueija
Resenha do livro “Moral e Revolução”, de Leon Trotsky. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro-RJ, 1969. Série “Rumos da Cultura Moderna”, 23. Tradução: Otaviano de Fiore. Montagem de capa: Eunce Duarte.
Como se sabe, Trostsky foi um dos fundadores do estado soviético e, com Lênin e outros, líder da revolução bolchevista na Rússia, em 1917-18. Sem embargo, após a morte de Lênin caiu em desgraça, partiu para o exílio e, após tentar a França e a Noruega, foi parar no México e morreu assassinado em 1940, golpeado na nuca com um furador de gelo. Stalin foi implacável e sabemos que o seu regime matou e provocou a morte de milhões de pessoas, inclusive terríveis expurgos no próprio Partido Comunista.
Àqueles que, dentro do marxismo, divergiram de Stalin, não restou senão tentar convencer a opinião pública de que o chamado “homem de ferro” não era de fato comunista mas apenas um ditador sanguinário e reacionário. Mas acusações semelhantes pesam sobre Trotsky e Lênin.
O livro de Trotsky, lançado em 1938 e acrescido de apêndices de 1939 e 1940, é raivoso, mal-humorado como costumam ser os textos marxistas, além de messiânico, um messianismo materialista e descabido. Em mais de uma passagem Trotsky arrisca fazer uma “profecia” materialista: “Morro revolucionário proletário marxista, partidário do materialismo dialético e, por conseguinte, ateu irredutível (sic). Minha fé no futuro comunista da humanidade não é menos ardente; em verdade, ela é hoje mais firme do que o foi nos dias de minha juventude”.
É importante ler tais obras visto que, nelas, fica bem claro que o comunismo é ateísmo imposto pelo Estado. Topamos hoje em dia com muitas pessoas que defendem o comunismo sem lhe enxergar o caráter ateu, anti-religioso e ditatorial.
É bom que se diga que Trotsky não fala em moral de costumes. Sua preocupação é a moral dos atos, essencialmente na política e na guerra — vale dizer na revolução.
Trotsky, é óbvio, não é democrata. Ele é intolerante com todos os que não rezam pelo seu catecismo: “Se a ditadura (sic) do proletariado obedece geralmente a um sentido, este consiste precisamente em armar a vanguarda da classe com os recursos do Estado, para responder a toda e qualquer ameaça. Mesmo àquelas procedentes das camadas atrasadas do próprio proletariado.” Portanto até os operários serão reprimidos se não forem “progressistas”, ou seja, revolucionários. Pelo menos Trotsky fala claramente.
Ele já estava com pouco tempo de vida ao ser assassinado; nem quiseram esperar. Foi um fato lastimável; mas quem mandou confiar em comunistas?
Rio de Janeiro, 10 e 11 de junho de 2018.
O MESSIANISMO ATEU DE TROTSKY
Miguel Carqueija
Resenha do livro “Moral e Revolução”, de Leon Trotsky. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro-RJ, 1969. Série “Rumos da Cultura Moderna”, 23. Tradução: Otaviano de Fiore. Montagem de capa: Eunce Duarte.
Como se sabe, Trostsky foi um dos fundadores do estado soviético e, com Lênin e outros, líder da revolução bolchevista na Rússia, em 1917-18. Sem embargo, após a morte de Lênin caiu em desgraça, partiu para o exílio e, após tentar a França e a Noruega, foi parar no México e morreu assassinado em 1940, golpeado na nuca com um furador de gelo. Stalin foi implacável e sabemos que o seu regime matou e provocou a morte de milhões de pessoas, inclusive terríveis expurgos no próprio Partido Comunista.
Àqueles que, dentro do marxismo, divergiram de Stalin, não restou senão tentar convencer a opinião pública de que o chamado “homem de ferro” não era de fato comunista mas apenas um ditador sanguinário e reacionário. Mas acusações semelhantes pesam sobre Trotsky e Lênin.
O livro de Trotsky, lançado em 1938 e acrescido de apêndices de 1939 e 1940, é raivoso, mal-humorado como costumam ser os textos marxistas, além de messiânico, um messianismo materialista e descabido. Em mais de uma passagem Trotsky arrisca fazer uma “profecia” materialista: “Morro revolucionário proletário marxista, partidário do materialismo dialético e, por conseguinte, ateu irredutível (sic). Minha fé no futuro comunista da humanidade não é menos ardente; em verdade, ela é hoje mais firme do que o foi nos dias de minha juventude”.
É importante ler tais obras visto que, nelas, fica bem claro que o comunismo é ateísmo imposto pelo Estado. Topamos hoje em dia com muitas pessoas que defendem o comunismo sem lhe enxergar o caráter ateu, anti-religioso e ditatorial.
É bom que se diga que Trotsky não fala em moral de costumes. Sua preocupação é a moral dos atos, essencialmente na política e na guerra — vale dizer na revolução.
Trotsky, é óbvio, não é democrata. Ele é intolerante com todos os que não rezam pelo seu catecismo: “Se a ditadura (sic) do proletariado obedece geralmente a um sentido, este consiste precisamente em armar a vanguarda da classe com os recursos do Estado, para responder a toda e qualquer ameaça. Mesmo àquelas procedentes das camadas atrasadas do próprio proletariado.” Portanto até os operários serão reprimidos se não forem “progressistas”, ou seja, revolucionários. Pelo menos Trotsky fala claramente.
Ele já estava com pouco tempo de vida ao ser assassinado; nem quiseram esperar. Foi um fato lastimável; mas quem mandou confiar em comunistas?
Rio de Janeiro, 10 e 11 de junho de 2018.