CURSO DE APOLOGÉTICA CRISTÃ, resenha – existência de Deus, 1
CURSO DE APOLOGÉTICA CRISTÃ, resenha – existência de Deus, 1
Miguel Carqueija
Resenha do tratado “Curso de Apologética Cristã”, pelo Padre W.Devivier S.J. Companhia Melhoramentos de São Paulo (depois Edições Melhoramentos), sem data. Tradução: Padre Manoel Martins S.J. Subtítulo: “Exposição racional dos fundamentos da Fé”. Texto de apresentação pelo Cardeal Patriarca de Veneza, José Sarto (depois Papa Pio X), Dom Serbastião Leme (arcebispo-coadjutor do Rio de Janeiro, depois cardeal) e carta-prefácio do Padre Luiz Gonzaga cabral S.J.
Dou início a um ambicioso projeto: o de resenhar o monumental “Curso de Apologética Cristã” do ilustre sacerdote belga Padre Devivier S.J. É um trabalho de Hércules, então, para não fazer um trabalho mambembe, entendi que sendo esta obra tão especial precisa ser analisada aos poucos. O autor realmente oferece uma vasta panorâmica da doutrina católica, a qual defende com garbo e dignidade.
Metódico em extremo, Devivier começa pela questão básica da existência de Deus, alertando porém: “Nunca deveria ser necessário, para honra da humanidade, provar-se a existência de Deus.” Eu também vejo o ateísmo como algo de inacreditável. Devivier cita diversos autores eminentes para ilustrar o quanto é lógico crer em Deus sem nutrir qualquer dúvida: “A ideia de Deus está tão profundamente gravada na alma do homem que os antigos Padres da Igreja e os primeiros escritores eclesiásticos em geral se dispensavem de provar que Deus existe.” (Carbonnelle S.J.)
Devivier insiste na importância básica da questão: “Toda a vida muda evidentemente de aspecto e significação conforme o aspecto que tem, ou duma cadeia fatal de fenômenos mecânicos com a decomposição definitiva por termo, ou dum prelúdio doutra vida sem fim, onde a liberdade humana receberá o prêmio das boas obras, efetuadas durante nossa curta permanência nesta terra”.
O autor começa então a elencar as provas sobre a realidade do ser divino. De início observa: “O gênero humano afirma a existência de Deus”. Sim, todos os povos, todos, desde a pré-história, são povos religiosos. Assim diz Tiele, “um dos sábios mais versados na ciência das religiões”: a religião é “um fenômeno universal da humanidade”. Outro autor chamado a testemunhar é Cícero: “Qual é a família humana em que o conhecimento da divindade se não antecipa a qualquer conhecimento literário? Não há nação por grosseira e selvagem que seja que não creia na existência dos deuses, ainda que quanto à natureza deles se engane” (De natura deorum, IX).
Em contrapartida o ateísmo é um fenômeno raro, mesmo em nossos dias. Devivier chama Quatrefages: “Ei-nos ante um fato realmente importante: o ateísmo, quando se encontra, é em estado errático” (sic).
Conclui o polemista que este testemunho universal dos povos é prova suficiente da real existência do Ser Supremo: “Ora, não se pode admitir que a nossa natureza espontaneamente propenda para o erro”. E citando o grande São Tomás de Aquino (Contra gent. II, 34): “É impossível ques seja falso um asserto, que todos os homens por unanimidade dão como verdadeiro. Uma opinião errônea só, de fato, se há de atribur a um lapso da mente e não à natureza do espírito, considerada em si mesma. O caráter próprio da opinião errônea tem que ser por conseguinte acidental; ora o que é acidental jamais pode ser universal. O que, portanto, o consenso dos homens em matéria de religião e de moral, dá por verdadeiro, de nenhum modo se pode ter por falso”.
Devivier não ignora a ocorrência de objeções e, seguindo o exemplo de Aquino, as elenca, responde e desmonta. Eis uma das objeções citadas: “A religião é uma invenção dos legisladores e dos padres”. Vejam a vigorosa resposta:
“1) Sendo assim, antes mesmo de se inventar a religião já ela tinha padres.
2) Quanto aos legisladores, bem viram eles a influência da religião sobre os povos, o que prova que a ideia religiosa já preexistia, anterior à sua legislação. Tudo o que puderam fazer foi instituir algumas festas e cerimônias, impor tal ou tal forma ao culto público, etc. Sabe-se que os Imperadores romanos procuraram fazer-se passar por deuses, mas jamais houve algum homem que se dissesse ter inventado a Deus.”
Espero prosseguir, em próximas resenhas, a análise deste valioso livro que é um grande referencial da fé católica.
Rio de Janeiro, 8 de junho de 2018.
CURSO DE APOLOGÉTICA CRISTÃ, resenha – existência de Deus, 1
Miguel Carqueija
Resenha do tratado “Curso de Apologética Cristã”, pelo Padre W.Devivier S.J. Companhia Melhoramentos de São Paulo (depois Edições Melhoramentos), sem data. Tradução: Padre Manoel Martins S.J. Subtítulo: “Exposição racional dos fundamentos da Fé”. Texto de apresentação pelo Cardeal Patriarca de Veneza, José Sarto (depois Papa Pio X), Dom Serbastião Leme (arcebispo-coadjutor do Rio de Janeiro, depois cardeal) e carta-prefácio do Padre Luiz Gonzaga cabral S.J.
Dou início a um ambicioso projeto: o de resenhar o monumental “Curso de Apologética Cristã” do ilustre sacerdote belga Padre Devivier S.J. É um trabalho de Hércules, então, para não fazer um trabalho mambembe, entendi que sendo esta obra tão especial precisa ser analisada aos poucos. O autor realmente oferece uma vasta panorâmica da doutrina católica, a qual defende com garbo e dignidade.
Metódico em extremo, Devivier começa pela questão básica da existência de Deus, alertando porém: “Nunca deveria ser necessário, para honra da humanidade, provar-se a existência de Deus.” Eu também vejo o ateísmo como algo de inacreditável. Devivier cita diversos autores eminentes para ilustrar o quanto é lógico crer em Deus sem nutrir qualquer dúvida: “A ideia de Deus está tão profundamente gravada na alma do homem que os antigos Padres da Igreja e os primeiros escritores eclesiásticos em geral se dispensavem de provar que Deus existe.” (Carbonnelle S.J.)
Devivier insiste na importância básica da questão: “Toda a vida muda evidentemente de aspecto e significação conforme o aspecto que tem, ou duma cadeia fatal de fenômenos mecânicos com a decomposição definitiva por termo, ou dum prelúdio doutra vida sem fim, onde a liberdade humana receberá o prêmio das boas obras, efetuadas durante nossa curta permanência nesta terra”.
O autor começa então a elencar as provas sobre a realidade do ser divino. De início observa: “O gênero humano afirma a existência de Deus”. Sim, todos os povos, todos, desde a pré-história, são povos religiosos. Assim diz Tiele, “um dos sábios mais versados na ciência das religiões”: a religião é “um fenômeno universal da humanidade”. Outro autor chamado a testemunhar é Cícero: “Qual é a família humana em que o conhecimento da divindade se não antecipa a qualquer conhecimento literário? Não há nação por grosseira e selvagem que seja que não creia na existência dos deuses, ainda que quanto à natureza deles se engane” (De natura deorum, IX).
Em contrapartida o ateísmo é um fenômeno raro, mesmo em nossos dias. Devivier chama Quatrefages: “Ei-nos ante um fato realmente importante: o ateísmo, quando se encontra, é em estado errático” (sic).
Conclui o polemista que este testemunho universal dos povos é prova suficiente da real existência do Ser Supremo: “Ora, não se pode admitir que a nossa natureza espontaneamente propenda para o erro”. E citando o grande São Tomás de Aquino (Contra gent. II, 34): “É impossível ques seja falso um asserto, que todos os homens por unanimidade dão como verdadeiro. Uma opinião errônea só, de fato, se há de atribur a um lapso da mente e não à natureza do espírito, considerada em si mesma. O caráter próprio da opinião errônea tem que ser por conseguinte acidental; ora o que é acidental jamais pode ser universal. O que, portanto, o consenso dos homens em matéria de religião e de moral, dá por verdadeiro, de nenhum modo se pode ter por falso”.
Devivier não ignora a ocorrência de objeções e, seguindo o exemplo de Aquino, as elenca, responde e desmonta. Eis uma das objeções citadas: “A religião é uma invenção dos legisladores e dos padres”. Vejam a vigorosa resposta:
“1) Sendo assim, antes mesmo de se inventar a religião já ela tinha padres.
2) Quanto aos legisladores, bem viram eles a influência da religião sobre os povos, o que prova que a ideia religiosa já preexistia, anterior à sua legislação. Tudo o que puderam fazer foi instituir algumas festas e cerimônias, impor tal ou tal forma ao culto público, etc. Sabe-se que os Imperadores romanos procuraram fazer-se passar por deuses, mas jamais houve algum homem que se dissesse ter inventado a Deus.”
Espero prosseguir, em próximas resenhas, a análise deste valioso livro que é um grande referencial da fé católica.
Rio de Janeiro, 8 de junho de 2018.