A volta de Scarlett

A VOLTA DE SCARLETT
Miguel Carqueija

Resenha do romance “Scarlett”, de Alexandra Ripley, continuação de “...E o vento levou”, de Margareth Mitchell. Editora Record, Rio de Janeiro-RJ, sem data. Título do original norte-americano: “Scarlett”. Stephens Mitchell Trusts, 1991. Tradução: A.B. Pinheiro de Lemos.

Nunca li o livro original de Margareth Mitchell, mas assisti o filme de David O. Selznick cujo sucesso estrondoso dura até hoje. Acredito que Alexandra Ripley, escrevendo mais de 800 páginas, foi bem sucedida em penetrar no fascinante mundo interior de Scarlett O’Hara e desvendar suas complexas relações com o mundo exterior, inclusive tendo a coragem de transferi-la para a Irlanda, terra de seus ancestrais, e reencontrá-la várias vezes com Rhett Butler, num amor feito à base de encontros e desencontros. Isso além da geração de uma filha, Cat.
O filme, como se sabe, é emocionante, uma obra-prima, e parece estar em boa sintonia com a obra original. Esta continuação apresenta muitos personagens e muitas situações, é até difícil de acompanhar e cansativa. Alguns personagens são irritantes, como o padre irlandês maluco que é primo de Scarlett. Os preconceitos da época estão bem presentes e até Scarlett tem a sua dose. A frivolidade invade a sua vida, apesar disso Scarlett quer algo mais consistente. O seu envolvimento involuntário com assuntos políticos na Irlanda irá dar o tom para os capítulos finais e o desfecho em aberto.
O livro é bem escrito e tem o seu fascínio mas os capítulos tendem a ser maçantes e é preciso armar-se de paciência para uma leitura que poderá levar semanas. Além disso gente que leu a obra original entende que Ripley desvirtuou um dado básico da protagonista que é o seu amor entranhado por Tara, a sua terra, que ela não iria abandonar pela Irlanda. Mesmo assim, Ripley executou um trabalho de Hércules ao escrever seu livro. A verdadeira sequência de “Gone with the wind" deveria ter sido escrita pela autora original, mas o fato é que Margareth Mitchell parece ter-se desinteressado da carreira de escritora: até sua morte em 1949 não produziu mais nenhum livro além deste que, único embora, bastou para consagrá-la.

Rio de Janeiro, 1° e 2 de junho de 2018.