A desconstrução de Isadora Duncan
A DESCONSTRUÇÃO DE ISADORA DUNCAN
Miguel Carqueija
Resenha do livro autobiográfico “Minha vida”, de Isadora Duncan. José Olympio Editora, Rio de Janeiro-RJ, 1989, 11ª edição. Título original norte-americano: “My life”. Tradução de Gastão Cruls. Capa: Jair Pinto, sobre uma jóia de Mucha, foto de Isadora Duncan.
Tenho lido diversos romances que tratam da desconstrução (auto-destruição) de personagens, como “Anna Karenina” e “Madame Bovary”, mas creio que esta é a primeira auto-biografia que leio, no mesmo viés.
A norte-americana Isadora Duncan (1878-1927), que se tornou cidadã do mundo, celebrizou-se por difundir a hoje chamada dança moderna, com túnicas gregas e pés descalços. Este último detalhe sempre existiu em danças folclóricas e indígenas, mas não nas danças de arte, onde as bailarinas usavam trajes colantes e sapatilhas apertadas.
Isadora era uma grande artista mas, como tantas outras pessoas do ramo, sua vida foi sofrida e repleta de contradições. Na verdade é importante separar, no que for possível, artistas e literatos de suas obras: as vidas pessoais de grandes criadores, mesmo gênios, podem ser decepcionantes.
Isadora nunca entendeu o Cristianismo, seu viés era pagão, apesar de alguns contatos com padres. Um deles foi muito esquisito: Isadora tentou criar um templo de arte na Grécia e o “batizou” com a ajuda de um padre local, ortodoxo ao que parece. Mas era um padre maluco, que fez uma espécie de macumba sacrificando um galo. Ora essa, o Cristianismo não tem sacrifícios de animais! Ao longo da vida Isadora defendeu o amor livre, mostrou-se hostil ao casamento, mas não foi feliz, envolvendo-se em paixões insensatas com homens dominadores, machistas, numa época em que ainda não se falava em machismo, ao que parece mulheres como Isadora eram presa fácil, pois não pré-examinavam os homens por esse ângulo. Ela também não sabia o que fazer com o dinheiro e quando o tinha passava longos períodos só gastando.
É um livro triste, de uma pessoa que, embora artista genial, não sabia bem o que queria. Sabemos como foram tristes as tragédias existenciais de Poe e Chopin, por exemplo.
Isadora terminou abruptamente seu livro, sem chegar aos últimos anos. Como se sabe ela morreu tragicamente, estrangulada pela longa écharpe que se prendeu ao pneu do carro em movimento.
Rio de Janeiro, 5 de março de 2018.
A DESCONSTRUÇÃO DE ISADORA DUNCAN
Miguel Carqueija
Resenha do livro autobiográfico “Minha vida”, de Isadora Duncan. José Olympio Editora, Rio de Janeiro-RJ, 1989, 11ª edição. Título original norte-americano: “My life”. Tradução de Gastão Cruls. Capa: Jair Pinto, sobre uma jóia de Mucha, foto de Isadora Duncan.
Tenho lido diversos romances que tratam da desconstrução (auto-destruição) de personagens, como “Anna Karenina” e “Madame Bovary”, mas creio que esta é a primeira auto-biografia que leio, no mesmo viés.
A norte-americana Isadora Duncan (1878-1927), que se tornou cidadã do mundo, celebrizou-se por difundir a hoje chamada dança moderna, com túnicas gregas e pés descalços. Este último detalhe sempre existiu em danças folclóricas e indígenas, mas não nas danças de arte, onde as bailarinas usavam trajes colantes e sapatilhas apertadas.
Isadora era uma grande artista mas, como tantas outras pessoas do ramo, sua vida foi sofrida e repleta de contradições. Na verdade é importante separar, no que for possível, artistas e literatos de suas obras: as vidas pessoais de grandes criadores, mesmo gênios, podem ser decepcionantes.
Isadora nunca entendeu o Cristianismo, seu viés era pagão, apesar de alguns contatos com padres. Um deles foi muito esquisito: Isadora tentou criar um templo de arte na Grécia e o “batizou” com a ajuda de um padre local, ortodoxo ao que parece. Mas era um padre maluco, que fez uma espécie de macumba sacrificando um galo. Ora essa, o Cristianismo não tem sacrifícios de animais! Ao longo da vida Isadora defendeu o amor livre, mostrou-se hostil ao casamento, mas não foi feliz, envolvendo-se em paixões insensatas com homens dominadores, machistas, numa época em que ainda não se falava em machismo, ao que parece mulheres como Isadora eram presa fácil, pois não pré-examinavam os homens por esse ângulo. Ela também não sabia o que fazer com o dinheiro e quando o tinha passava longos períodos só gastando.
É um livro triste, de uma pessoa que, embora artista genial, não sabia bem o que queria. Sabemos como foram tristes as tragédias existenciais de Poe e Chopin, por exemplo.
Isadora terminou abruptamente seu livro, sem chegar aos últimos anos. Como se sabe ela morreu tragicamente, estrangulada pela longa écharpe que se prendeu ao pneu do carro em movimento.
Rio de Janeiro, 5 de março de 2018.