Estrela que o vento soprou...
INTRODUÇÃO
Neta de fazendeiro, Ravenala desencava histórias de peões que pegam índio a laço, e se sente motivada para escrever, mesmo sabendo que livro nunca fica pronto. Ela repassa o álbum de família, e penetra na memória de seus antepassados interessada em saber como eram os tempos de outrora. Como se fosse “Mozart da poesia”, dobra-se na barriga da mãe, vê vales e cidades que não existem mais, alma e poesia gravadas na bandeira do poeta. Seu avô, um nordestino corrido da seca 1932 escreveu livros nunca lidos. Ela queria ter melhor sorte. Seu pai a incentivava repetindo Padre Pio: ‘Não percas a coragem, mesmo se tiveres de trabalhar muito e receber pouco em troca.’ Não podia julgar que estava nova para escrever um livro. Tinha o exemplo de Coralina que aos quatorze anos publicou “Tragédia na Roça”. Ganhou o carinho dos leitores e alguns vinténs de cobre fazendo doces.
Ravenala deu o primeiro passo.
Tocou a ponta do arco-íris, no ponto em que fica o pote de ouro. Criou mundos e reconstruiu cenários que vão da captura de uma índia escondida no silêncio da mata, à inquietação de pessoas viajando como formigas à procura de forragens. Narrou o que viu e ouviu. Seus personagens empreendem viagens ao desconhecido. Aportam ilhas desertas e vivem experiências de náufrago, que não quer ser resgatado.
Foi mais longe.
Garimpou estrelas à procura de uma nesga de lua no jardim de Beltrame e de outros tantos talentos profissionais e amadores da literatura virtual. Viajou pelos campos e cidades, pesquisou do Rio de Janeiro ao Piauí, passando pelo Norte de Minas, e Bahia, e, apesar de não seguir, a rigor, a cronologia dos fatos, procurou narrar tudo com a simplicidade dos contos de fada.
Temeu, no entanto, atropelar o aspecto temporal, ao tratar das modas de viola na fazenda Campo Grande. Achava que ainda não era hora de apresentar Guaiano em oitava porque Zé Coco só gravara aquela música no final dos anos oitenta. Tunico Oliveira, no entanto, assegurou-lhe de que muito antes de gravar; o músico do Riachão tocava seu guaiano nas fazendas aonde trabalhava fazendo carros-de-boi.
A filha de Jeremias, não deveria temer. Construíra conhecimentos, sob a regência do Padre Davi, tornando-se uma sombra dele, de modo que, se o padre bocejasse, ela estava atenta para captar o menor sinal de sabedoria que saísse de sua boca, ainda que fosse um simples desculpem-me. Aprendera que as palavras esperam algum viajante que lhes faça um convite para dar uma volta ao mundo. Sabia, no entanto, que era preciso engolir muito papiro, para encontrar o Tesouro de Bresa, por isso, quando penetrava nas páginas dos livros, viajava na imaginação e queria matar os vermes que roeram o livro de Machado, e nada sabiam deles. Nada se lembravam. Ou era de Betinho o livro?... Ou de Casmurro? Ravenala leu, releu e remoeu mais de cem livros, e era capaz de regurgitar frase por frase, ainda que lida há muitos anos. Aprendeu a navegar rios e mares nas asas da imaginação. Pegar carona no Sputnik de Gagarin. Ser um anjo latino a dar uma volta completa em torno da Terra. E se Gagarin não viu Deus, por certo, teria visto, Corina lá no céu.
A obra nasceu de minúsculas partículas da realidade, diluídas nas cenas e cenários que se dão no campo, na cidade e numa ilha deserta. O livro acontece, inicialmente, na fazenda Campo Grande em Minas Gerais. E por revés da sorte, a fazenda torna-se campo de batalha perdida. A família migra para a cidade e se estabelece no Rio de Janeiro. Ravenala percebeu que conquistara espaço na literatura virtual, pois, no lapso de dez anos alcançara dois milhões e meio de acessos. É pouco, se levar em conta o número de anos decorridos no processo de construção do livro. Cada capítulo era publicado virtualmente à medida que saia do forno. Então, porque não publicar também na forma impressa em papel? E assim, realizaria seu sonho; os sonhos de seu pai. E por que não dizer também do avô. Enfim, de toda a família que sonhava ter um parente famoso.
Eis a obra. Toma e lê.
Adalberto Lima
15 de maio de 2018. Cachoeira Paulista, São Paulo, Brasil.
Neta de fazendeiro, Ravenala desencava histórias de peões que pegam índio a laço, e se sente motivada para escrever, mesmo sabendo que livro nunca fica pronto. Ela repassa o álbum de família, e penetra na memória de seus antepassados interessada em saber como eram os tempos de outrora. Como se fosse “Mozart da poesia”, dobra-se na barriga da mãe, vê vales e cidades que não existem mais, alma e poesia gravadas na bandeira do poeta. Seu avô, um nordestino corrido da seca 1932 escreveu livros nunca lidos. Ela queria ter melhor sorte. Seu pai a incentivava repetindo Padre Pio: ‘Não percas a coragem, mesmo se tiveres de trabalhar muito e receber pouco em troca.’ Não podia julgar que estava nova para escrever um livro. Tinha o exemplo de Coralina que aos quatorze anos publicou “Tragédia na Roça”. Ganhou o carinho dos leitores e alguns vinténs de cobre fazendo doces.
Ravenala deu o primeiro passo.
Tocou a ponta do arco-íris, no ponto em que fica o pote de ouro. Criou mundos e reconstruiu cenários que vão da captura de uma índia escondida no silêncio da mata, à inquietação de pessoas viajando como formigas à procura de forragens. Narrou o que viu e ouviu. Seus personagens empreendem viagens ao desconhecido. Aportam ilhas desertas e vivem experiências de náufrago, que não quer ser resgatado.
Foi mais longe.
Garimpou estrelas à procura de uma nesga de lua no jardim de Beltrame e de outros tantos talentos profissionais e amadores da literatura virtual. Viajou pelos campos e cidades, pesquisou do Rio de Janeiro ao Piauí, passando pelo Norte de Minas, e Bahia, e, apesar de não seguir, a rigor, a cronologia dos fatos, procurou narrar tudo com a simplicidade dos contos de fada.
Temeu, no entanto, atropelar o aspecto temporal, ao tratar das modas de viola na fazenda Campo Grande. Achava que ainda não era hora de apresentar Guaiano em oitava porque Zé Coco só gravara aquela música no final dos anos oitenta. Tunico Oliveira, no entanto, assegurou-lhe de que muito antes de gravar; o músico do Riachão tocava seu guaiano nas fazendas aonde trabalhava fazendo carros-de-boi.
A filha de Jeremias, não deveria temer. Construíra conhecimentos, sob a regência do Padre Davi, tornando-se uma sombra dele, de modo que, se o padre bocejasse, ela estava atenta para captar o menor sinal de sabedoria que saísse de sua boca, ainda que fosse um simples desculpem-me. Aprendera que as palavras esperam algum viajante que lhes faça um convite para dar uma volta ao mundo. Sabia, no entanto, que era preciso engolir muito papiro, para encontrar o Tesouro de Bresa, por isso, quando penetrava nas páginas dos livros, viajava na imaginação e queria matar os vermes que roeram o livro de Machado, e nada sabiam deles. Nada se lembravam. Ou era de Betinho o livro?... Ou de Casmurro? Ravenala leu, releu e remoeu mais de cem livros, e era capaz de regurgitar frase por frase, ainda que lida há muitos anos. Aprendeu a navegar rios e mares nas asas da imaginação. Pegar carona no Sputnik de Gagarin. Ser um anjo latino a dar uma volta completa em torno da Terra. E se Gagarin não viu Deus, por certo, teria visto, Corina lá no céu.
A obra nasceu de minúsculas partículas da realidade, diluídas nas cenas e cenários que se dão no campo, na cidade e numa ilha deserta. O livro acontece, inicialmente, na fazenda Campo Grande em Minas Gerais. E por revés da sorte, a fazenda torna-se campo de batalha perdida. A família migra para a cidade e se estabelece no Rio de Janeiro. Ravenala percebeu que conquistara espaço na literatura virtual, pois, no lapso de dez anos alcançara dois milhões e meio de acessos. É pouco, se levar em conta o número de anos decorridos no processo de construção do livro. Cada capítulo era publicado virtualmente à medida que saia do forno. Então, porque não publicar também na forma impressa em papel? E assim, realizaria seu sonho; os sonhos de seu pai. E por que não dizer também do avô. Enfim, de toda a família que sonhava ter um parente famoso.
Eis a obra. Toma e lê.
Adalberto Lima
15 de maio de 2018. Cachoeira Paulista, São Paulo, Brasil.