Dialética do desenvolvimento capitalista no Brasil.

MARINI, Ruy Mauro. América Latina, Dependencia y Globalización – Ruy Mauro Marini; antologia y presentación, Carlos Eduardo Martins. México, D.F: Siglo XXI Editores, Buenos Aires, 2015.

Ruy Mauro Marini está entre as mais altas expressões do pensamento social latino-americano, este texto Dialética do desenvolvimento capitalista no Brasil foi editado juntamente a outros textos expressivos de sua obra numa antologia chamada: Ruy Mauro Marini América Latina, Dependência y Globalización da Siglo XXI Editores – 2015, organizado por Carlos Eduardo Martins, em homenagem aos dez anos de sua morte. O texto é a tentativa muito feliz de fazer uma análise das contradições gerado dos fatos históricos, políticos e sociais, do desenvolvimento industrial brasileiro, que ao dar-se início com a revolução de 1930, culminaram com o golpe civil/militar, com o fito de elucidar o caráter da revolução brasileira, e as lições que é possível tirar dos erros de interpretações, que desta mesma análise, tiveram a esquerda brasileira.

A insuficiência da interpretação da esquerda brasileira em aceitar a ideia do golpe que depôs o governo de João Goulart como uma intervenção disfarçada dos Estados Unidos, reside no fato de não parece ser suficiente a explicação de um fenômeno político aquela que a reduz apenas a um de seus elementos, mais grave ainda, um de seus fatores aquele que a condiciona de fora. Não se compreenderá as mudanças política a partir de 1964 ou a realidade econômica-social que se encontra na base, sem uma análise da problemática brasileira das relações de força entre os grupos políticos e das contradições de classes e relacionar o desenvolvimento político a expectativas prováveis de sua evolução.

O autor parte do conceito de “cooperação antagônica” do filósofo August Talheimar para elucidar que o próprio processo de integração e cooperação dos países subdesenvolvido ao imperialismo norte-americano, gerariam suas próprias contradições. Se a intensificação da exploração capitalista do trabalhador brasileiro é suficiente para intensificação da luta de classes, até culminar na revolução brasileira, e se expandir por toda América Latina, todavia, o momento preciso em que essa revolução se irromperia não depende somente da crescente exploração capitalista, mas das lições que é possível retirar dos acontecimentos do golpe militar de 1964, e, principalmente, da capacidade que a esquerda terá para orientar as massas no processo de amadurecimento. Por outro lado, o fato do avanço dessa integração cindir cada vez mais as relações entre as burguesias e as massas trabalhadoras, revela que o caráter dessa revolução, para muito além de ser popular, será socialista.

Ao examinar o desenvolvimento capitalista brasileiro se conclui que movimento revolucionário de 1930 foi o resultado da crise da economia cafeeira e a pressão da nova classe industrial para participar do poder, e que em razão dos conflitos sociais que disso gerou, a implantação de um regime ditatorial em 1937 significou numa aliança entre a burguesia, a oligarquia terratenente/exportadora e os setores direitista da pequena burguesia. Destarte, devido a crise de exportações e os conflitos gerados das mudanças nas relações entre a América Latina e o imperialismo norte-americano, nos primeiros anos da década de cinquenta, que o regime militar encontrou como solução a ratificação do compromisso de 1937 entre a burguesia e oligarquias terratenente/mercantil. Todavia, a política de integração ao imperialismo que advém daí tem duplo efeito, se por um lado aumenta a capacidade produtiva da indústria, devidos aos impulsos dos investimentos, por outro, a racionalização tecnológica acelera o desequilíbrio entre o crescimento da indústria e a demanda de emprego. Por ter o regime militar promovido o desenvolvimento de uma indústria de bens intermediário e de equipamentos, gerou uma burguesia monopolista, que associada aos grupos estrangeiros, impulsiona o capitalismo brasileira a sua fase subimperialista. Portanto, O desenvolvimento industrial capitalista, ao contrário de libertar o Brasil do imperialismo, fez foi perenizar no país o velho sistema colonial de exportação, o que redundou na atual etapa superimperialista, o que significa na impossibilidade definitiva do desenvolvimento capitalista autônomo no Brasil.

Ficou evidente que a busca por soluções intermediárias, baseado nos interesses dos setores da burguesia mais fraco ou resultou num impraticável malogro ou levou a classe operária a uma pior situação do que se encontrava, ou seja, uma política econômica pequeno-burguesa exigira, nas condições vigente no Brasil, a implantação de um regime fascista. Todavia, não se trata de solucionar o problema do desenvolvimento econômico como deseja “a burguesia nacional”, obstruindo a incorporação do progresso tecnológico estrangeiro e promover estrutura econômica com base em unidades de baixa produtividade, mas em conseguir uma organização produtiva que permite o pleno aproveitamento do excedente produzido, o que implica, aumentar a capacidade de emprego e de produção interna e elevar o nível dos salários. Como isto é impossível nos marcos do sistema capitalista, não resta outro caminho ao povo brasileiro que não seja o exercício da luta política operária em busca do socialismo.

E não se trata de superado o estado de guerra civil, que significou a ditadura implantada no país, mediante a fórmula de compromisso com algum estrato burguês, a inutilidade desses compromissos face ao implacável avanço das contradições que sacrifica o desenvolvimento do sistema, impulsiona a classe trabalhadora para a revolução. Por vez, o caráter internacional que pretende impor a sua exploração a burguesia subimperialista, identifica a luta de classes do operário brasileiro com a guerra antiiperialista do continente.

Muito além de uma redemocratização e uma renacionalização, o conteúdo da sociedade que surgirá desse processo será de uma nova democracia e economia aberta a participação das massas e orientada à satisfação de suas necessidades. Nesse contexto, os estratos inferiores da burguesia encontrarão, se pretenderem, a desempenhar algum papel transitória. Gestar esse marco e orientar sua evolução não será tarefa para nenhum reformador substituir a iniciativa dos trabalhadores.

George Gonçalves de Leão
Enviado por George Gonçalves de Leão em 25/03/2018
Reeditado em 26/03/2018
Código do texto: T6290244
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