Taunay: a retirada da Laguna

TAUNAY: A RETIRADA DA LAGUNA
Miguel Carqueija

Resenha do livro do Visconde de Taunay. Edições Melhoramentos, São Paulo-SP, 13ª edição, sem data. Tradução da 5ª edição francesa por Affonso de E. Taunay, da Academis Brasileira de Letras.

É um pouco estranho que um livro brasileiro tenha de ser traduzido do francês. Em todo caso, “A retirada da Laguna” é um episódio pungente, trágico, ocorrido pelo meio da cruel Guerra da Paraguai. O Visconde de Taunay, então major, participou do destacamento brasileiro que tentou invadir o Paraguai pelo norte, na luta contra Lopes. A expdição foi tão mal calculada — faltou até cavalaria — que tendo penetrado pouco na terra paraguaia, da região da Laguna tiveram de voltar sob as piores condições; por fim as tropas foram atingidas pela colera-morbo, visto que atravessavam regiões insalubres e até roupas escassearam apesar dos dias de chuva inclemente e dos terrenos alagados e enlameados.
Pela narrativa sóbria de Taunay ficamos sabendo de um dado que nos parece curioso e também chocante: o exército era acompanhado por boiadas que garantiam a alimentação da tropa. Embora os livros em geral não falem nisso, devia ser um hábito milenar. Ou seja, os exércitos eram matadouros ambulantes. Só isso dá uma ideia de como essas guerras eram desagradáveis — hoje podem não existir rebanhos de acompanhamento mas existem armas mais terríveis.
Quanto às mulheres que acompanhavam a expedição, é óbvio que eram prostitutas. Santa Joana D’Arc, no século XV, ao lhe ser entregue o comando do exército francês, esbarrou com esse vício e fez questão de mandar as mulheres embora, pois aquele era um exército cristão. É curioso que Taunay silencie sobre o papel das mulheres na tropa.
“A retirada da Laguna” é um livro documental famoso tendo sido até filmado, mas não sei se o filme, da década de 1930, foi conservado. O livro é um relato que transmite extremo sofrimento.

Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 2018.