"Lira dos vinte anos" de Álvares de Azevedo

LIRA DOS VINTE ANOS DE ÁLVARES DE AZEVEDO
Miguel Carqueija

Editora Paulus, São Paulo-SP, 2005. Capa: Douglas Galindo. Apresentação e notas: Douglas Tufano.

Por muito tempo grandes escritores brasileiros, especialmente poetas (Casimiro de Abreu, Castro Alves, o compositor Noel Rosa...) morreram precocemente, na casa mesmo dos vinte anos, por conta de vida boêmia e, inclusive, a terrível tísica, naqueles tempos bem mais difícil de combater. Álvares de Azevedo (1831-1852), paulista, falecido no Rio de Janeiro, ainda foi um dos que menos viveram, nem completou os 21 anos. Assim mesmo deixou alguns livros, como a tétrica coletãnea de histórias “Noite na taverna”.
Seus poemas, reunidos nesta “Lira dos vinte anos”, são recorrentes no tema do amor inflamadíssimo, mas sem esperanças, numa exaltação surreal. O autor da apresentação desta edição comenta: “As poesias de Álvares de Azevedo falam constantemente do tédio da vida, do sentimento da morte e de frustração amorosa. Em seus versos a mulher ora aparece como um anjo, pura e virginal, ora como uma figura fatal, sensual e sedutora. Nos dois casos, porém, sempre inacessível, distante do poeta, que vive mergulhado numa triste solidão.”
Este amor intenso, visto como veículo de tristeza, pontua os poemas:

“Adeus, anjo de amor! Tu não mentiste!
Foi minha esta ilusão e o sonho ardente:
Sinto que morrerei... tu, dorme e sonha
No amor dos anjos, pálido inocente!”
(Quando falo contigo, no meu peito)

“Feliz daquele que no livro d’alma
Não tem folhas escritas
E nem saudade amarga, arrependida,
Nem lágrimas malditas!”
(Desalento)

“Oh! Se eu pudesse amar!... — É impossível!
Mão fatal escreveu na minha vida...
A dor me envelheceu
O desespero pálido, impassível,
Agourou minha aurora entristecida,
Do meu astro descreu...
(Lágrimas de sangue)

E assim vai o poeta cultivando a dor, o que talvez seja uma forma de suavizá-la.
Álvares de Azevedo estudou Direito em São Paulo mas, já com a saúde abalada, veio a falecer no Rio de Janeiro, no dia 25 de abril de 1852, domingo, diretamente em consequência de uma queda de cavalo.

Rio de Janeiro, 6 de outubro de 2016.